Mais da metade da delicada década de 1980 já tinha se passado quando o ativista de Brasília Christiano Ramos descobriu que tinha o vírus HIV. Renato Russo fazia sucesso nas rádios com sua Legião Urbana cantando com voz solta os problemas, mas para Christiano, aos 18 anos na época, a realidade era o receio e o silêncio sobre a sorologia – ainda não existiam remédios como os de hoje, o medo era sempre um indesejado companheiro.

Foi quando a medicina evoluiu e medicações mais eficazes começaram a surgir que ele se abriu para a família e ganhou dois braços infinitamente abertos do pai. Juiz federal acostumado com as questões humanas, o pai de Christiano decidiu fundar uma ONG para ajudar pessoas com HIV e Aids. A luta do filho, sabiamente enxergou, era a luta de todos.

Com foco na promoção dos direitos humanos e recorte especial na questão do vírus, surgiu em 2000 na capital federal a Amigos da Vida, tendo como madrinha e presidente de honra a mãe de Renato Russo, Carminha Manfredini. Hoje a Amigos mantém suas portas abertas para todo mundo que precisa de seus serviços – totalmente gratuitos.

“Começamos tendo como carro-chefe assistência jurídica, Direito previdenciário, civil e saúde suplementar. Mas depois outros projetos vieram”, comemora Christiano. Essa assistência jurídica atende casos como, por exemplo, pessoas com HIV que, com o novo governo e a Reforma da Previdência, tiveram suas aposentadorias de mais de 20 anos canceladas pelo INSS.

Uma realidade que preocupa o ativista. “Me questiono como uma pessoa com 60 anos consegue entrar no mercado de trabalho. Esse governo tem cada vez mais acabado com os direitos que foram conquistados há custa de muita luta e da morte de muita gente, como os portadores da década de oitenta”, reclama.

Esse governo tem cada vez mais acabado com os direitos que foram conquistados há custa de muita luta e da morte de muita gente.

A ajuda da Amigos tem como foco o acesso pleno a direitos que soropositivos têm como a própria aposentadoria por invalidez, auxílio-doença, imóvel financiado pelo Banco do Brasil ou Caixa Econômica Federal, saque de FGTS,PIS e Pasep e desconto na compra de carros para quem tem sequela de doença oportunista. Oferece também oficinas e o acompanhamento de terapeuta educacional e pedagogos.

Contra a maré

Em um ano marcado arrocho ao movimento LGBT e suas entidades, a Amigos da Vida consegue continuar de portas abertas porque tem financiamento de organismos internacionais como MAC Cosméticos, L’Oréal e as fundações Elton John e Elizabeth Taylor.
“Não contamos com dinheiro do governo federal. Senão hoje estaríamos fechando as portas. Aqui em Brasília muitas fecharam”, lamenta Christiano, que deixa a ONG disponível para parcerias para continuar e ampliar projetos como as brinquedotecas instaladas em hospitais infantis para crianças com HIV ou outras doenças. O tempo de recuperação delas com esse tipo de atenção fica menor. “A alegria é curativa”, ensina.

www.amigos.org.br