Brasileira conquista a Alemanha com talento e amor e se prepara para desembarcar no Brasil
Oxa é uma sagitariana brasileira do interior de São Paulo que faz 22 aninhos nesta semana e balançou a Alemanha neste ano ao participar do “The Voice”. Uma novidade tão oxigenada, fresca e cheia de energia que conquistou a população alemã com performances que iam além do canto, como é comum no programa, e evoluíam para dança, drama, teatro, expressão, corporalidade e representatividade.
Em uma animadíssima conversa com a Ezatamag direto de Berlim, Oxa pulsa vida, canta, ri sonoramente e mostra que sabe muito bem o papel que lhe cabe. É uma trans não-binária (rótulos não dão conta desse fenômeno) que leva consigo todes os outres da comunidade com uma equipe 100% LGBT e uma mensagem de que o amor é a maior de todas as artes.
A ótima notícia é que quem viu pela internet a ascensão dela e gostou vai poder conferir de perto esse furacão: Oxa se apresenta no dia 31 de janeiro na Victoria Haus, em Brasília, e no dia 15 de fevereiro na Gis, em Belo Horizonte. “Mas minha agenda ainda está aberta”, oferece.
Aqui no Brasil você ficou super famosa, principalmente no nosso meio, com todo mundo torcendo por você por ser brasileira e arrasar. Como foi a recepção na Alemanha?
Estou muito famosa, graças a Deus estou sendo reconhecida nas ruas. As pessoas acolheram muito a causa da minha vida, da minha busca, da representatividade trans que eu trago. Aqui na Europa, que é um pouco mais desenvolvido, foi e está sendo um marco na história da Alemanha para a representatividade trans. Sobre quem somos, para onde vamos e o que fazemos. Está sendo um marco ainda. O The Voice me proporcionou muita coisa como artista, como ser humano e proporção nas vidas das pessoas. Melhor que o primeiro lugar foi esse retorno que o público alemão me deu. Eles disseram que eu fui a ganhadora dos corações deles. Fiquei muito feliz por isso. Fui para representar algo, fui para falar que existimos, resistimos e vamos continuar lutando.
E você conseguiu um espaço importante em um programa de televisão que é bem visto.
O The Voice na Europa é assistido por famílias que eles chamam de famílias formadas, mais tradicionais, passa às 8h15 da noite. Quem assiste são pessoas de 30, 40 anos. Foi a primeira edição com alguém como eu, tanto que no começo eles me colocaram como drag queen. A representatividade trans ainda é difícil de ser colocada assim, mesmo sendo em um país desenvolvido. Me colocaram como artista drag queen, e fui a primeira a chegar nas semifinais com apoio do público. Foi muito intenso.
Foi e está sendo um marco na história da Alemanha para a representatividade trans.
E você recebeu o apoio dos LGBT na Alemanha? Porque no Brasil as bichas ficaram loucas com suas performances.
A população lgbtqia+ apoiou e ainda apoia porque não é comum em um show de família esse artista queer. Quando deram a oportunidade eu disse que era uma artista performática. Meu marco no The Voice mesmo foi “Born This Way”, que eu espero até hoje a Lady Gaga comentar e querer fazer uma parceria. Eu senti que a população alemã estava comigo, eles queriam saber qual seria a próxima performance, as pessoas já estavam esperando que seria não só uma música, mas uma performance. Me deram “I’m Still Standing”, do Elton John.
Foi nessa apresentação que teve o balé maravilhoso super diverso?
Foi o primeiro balé na Alemanha formado por homem trans, mulheres trans, uma drag da Síria, voguer de Paris e dois bailarinos de cabaré. As coreografias do programa eles costumam fazer com bailarinos mais fechados, mais da TV mesmo. Mas eu disse que eu queria entregar quem eu sou, eu sou essa comunidade que se junta todo dia e luta por um espaço.
E esse sucesso todo rendeu convites profissionais? Eu vi que você já participou como jurada na versão sênior do “The Voice”. E planos para o Brasil?
Graças a deus eu tenho uma tour europética em Euro (risos), vou ficar rica para pagar as contas porque não foi barato nesses sete meses participando de um programa de TV. Para cada performance eu gastei no mínimo dois mil euros. Eu tenho datas no Brasil! Dia 31 de janeiro eu estarei na Victoria Haus, em Brasília. 15 de fevereiro faço um show na Gis, em Belo Horizonte, vai ser um bafo. Mas são duas tours diferentes uma da outra. A da Alemanha se chama “Circus on Ice”, onde estou performando no gelo.
E como essa energia brasileira foi parar na Alemanha?
Nasci em Taquarituba (SP), sou filha adotiva de uma família metade brasileira e metade italiana. A Alemanha surgiu na minha vida faz cinco anos, quando vim para cá estudar teatro e musical. Queria muito ser uma atriz de teatro e musical, trabalhar com isso. Mas comecei a me descobrir mais como trans não-binária. Me descobri muito na Europa. A percepção muda e a educação sexual também. Uso a minha arte para defender tanto a população na qual me incluo e incluo ainda mais a população que trabalha para mim. Sou uma artista que gera dinheiro, trabalho para as pessoas. 100% do meu elenco é de pessoas trans. No Brasil serei acompanhada por duas bailarinas, Makayla Sabino e Juana Chichi, que para mim não só são bailarinas, mas pessoas que representam algo para a nossa geração e outras que estão se formando.
Você tem uma consciência grande do que representa ainda mais agora que ficou famosa.
Quero levar minha música levando em ascensão este título de que somos todos iguais, tudo é amor. É uma questão de educação. Ainda venho desenvolvendo muito isso dentro de mim. Eu mudaria a sigla atual para um H de Humano. TH: tudo humano. Acho importante as pessoas saberem o que cada letra representa e qual o respeito que nós temos que ter dentro da própria comunidade.
Que também é preconceituosa com os seus.
Sim, eu vejo o Brasil tão escasso de educação nas redes sociais dentro da própria comunidade. Falta mais tolerância dentro da nossa própria comunidade. Isso é o que é mais me deixa triste. Aqui na Europa você vê eventos solidários para o câncer, que não é só para o gay, a lésbica, o humano desenvolve câncer. Vejo a comunidade aqui lutando por questões assim mais gerais. Quero introduzir no Brasil no momento em que meu nome está em ascensão que a representatividade seja entendida, entendam que Oxa é puro humano, amor, sensibilidade, é saber que tem esperança. Essa é a mensagem da minha arte.
As coreografias do programa eles costumam fazer com bailarinos mais fechados, mais da TV mesmo. Mas eu disse que eu queria entregar quem eu sou, eu sou essa comunidade que se junta todo dia e luta por um espaço.
E quando as novidades de estúdios de Oxa?
Tenho prontas músicas inéditas que ainda não posso lançar porque ainda estou no contrato do The Voice. Mas quando puder lançar vou usar todas as plataformas digitais, de A a Z, do Oiapoque ao Chuí. Na minha primeira apresentação no Brasil, na Victoria Haus, vou apresentar as músicas oficiais do meu show. Será a primeira vez que eu vou cantar essas músicas.
Instagram @oooxaaa
Valéria
16/12/2019 20:20
Diva. Divina. Divante.👏👏👏👏👏👏👏👏😘😘😘😘😘😘😘😘😘😘😘