“Passages” é sobre uma fase de transição e um homem que consegue seu caminho com falta de sensibilidade

Por Eduardo de Assumpção*

“Passagens” (Passages, França/Alemanha, 2023) Tomas (Franz Rogowski) é um diretor alemão que está insatisfeito com uma cena que filma em um clube parisiense. Dessa forma, o cineasta Ira Sachs estabelece o tema e o protagonista: ‘Passages’ é sobre uma fase de transição e um homem que consegue seu caminho com falta de sensibilidade.

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A reviravolta na vida de Tomás começa com uma noite regada à álcool após as filmagens. O diretor casado dorme espontaneamente com a professora primária Agathe (Adèle Exarchopoulos) e conta orgulhosamente ao marido, o sensível artista gráfico inglês Martin (Ben Whishaw), no dia seguinte.

Por um lado, Martin está irritado com isso, mas, por outro lado, ele está apaixonado demais para resistir a essas manipulações. Quando ele, por sua vez, se conecta com o escritor Amad (Erwan Kepoa Falé), a saudade de Tomás por ele também aumenta.A princípio, Franz Rogowski interpreta esse homem antipático de forma carismática e entusiástica o suficiente para explicar seu efeito sobre os outros.

Até que sua eterna natureza descompromissada deixa apenas um rastro de devastação emocional. Ira Sachs dominou a arte de criar situações que são ao mesmo tempo habituais e pontiagudas. Há dúvidas incômodas e as mágoas profundas são mais evidentes nos rostos de Ben Whishaw e Adèle Exarchopoulos enquanto tentam manter a compostura.

Os dois sofrem silenciosamente, também apaixonados para se libertarem de seu algoz. A dor é compreensível em ‘Passagens’ porque o filme também transmite a intimidade que o torna possível. A recusa de Tomás em se comprometer, seu desejo de ser pai e sexualmente desapegado, também parecem uma reação às convenções sociais opressoras.

Ira Sachs com o co-roteirista brasileiro Mauricio Zacharias, em seu 5º filme juntos, contam uma história muito humana de um casal apaixonado, mas um dos quais também quer mais. Baseado em suas próprias experiências românticas, este conto impulsivo de amor, luxúria, ciúme e caos é brilhantemente trazido à vida.

Disponível na @mubibrasil

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib