Irmãs de Pau completa dois anos de carreira com fôlego e talento para dominar todos os palcos
A vida presenteou a geminiana Isma e a libriana Vita com uma amizade que elas transformaram em fraternal, viraram aquelas irmãs de alma que todo mundo tem. Mas mais que isso, elas decidiram que seriam também as Irmãs de Pau, uma dupla de travestis funkeiras “muito piranhas, doidas e palhaças” que não deixa pedra sobre pedra ao subir ao palco.
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Para a sorte do público, elas decidiram durante os delicados tempos de pandemia ampliar a atuação conjunta que já rolava como DJs e performers e nas festas “Tr4v4d4” e “Baile da Cuceta”. Elas sentiam que faltava algo, queriam ir além – e sabiam que podiam, podem e poderão ir muito longe com seus vinte e poucos anos.
“Estamos pra completar 2 anos de Irmãs de Pau, mas desde 2015 estamos juntas nos apoiando e fortalecendo. Já éramos irmãs há muito tempo nessa caminhada da vida. Irmãs de Pau tem nos ensinando que somos capazes de conquistar o que a gente quiser”, conta Isma à Ezatamag.
“Não só aprendemos várias lições como também ensinamos muitas lições. Somos professoras e o que fazemos nos palcos também é aula. Estamos construindo pedagogias de rua e também como Maria Clara Araújo fala, uma pedagogia da travestilidade”, completa Vita na entrevista a seguir:
Como está sendo esta retomada depois da pandemia?
Isma: Sempre fomos amigas, mas iniciamos a dupla na pandemia mesmo, na tentativa de nos salvar desse momento que foi tão ruim pra geral né, agora que estamos podendo viver a carreira de forma presencial com o público. Nossos primeiros shows foram todos online, está sendo maravilhoso, a agenda só cresce, cada vez mais apertada e desafiadora.
Vita: a pandemia só alastrou a precariedade. Nós pobres ficando mais pobres ainda e os que estão no poder, mais ricos ainda. Com as voltas dos eventos vemos os grandes festivais fecharem os olhos para nós artistas independentes. É triste ser artistas e viver no Brasil.
O que mudou no trabalho de vocês neste período?
Isma: antes da pandemia éramos DJ’s, performers e produzíamos nossas festas “Tr4v4d4” e “Baile da Cuceta” , era maravilhoso, porém sentíamos que faltava algo, estávamos muito distantes, na pandemia criamos o projeto Irmãs de Pau, agora estamos juntas e estamos sendo muito mais valorizadas. Nos tornamos uma superpotência, percebemos que juntas podemos fazer muito mais. E os projetos anteriores foram muito importantes na construção do que somos hoje, foi a preliminar, e eles continuam existindo.
Vita: Fora os espaços e lugares que conseguimos alcançar, uma das principais mudanças pra mim foi fortalecer minha confiança e intuição. Eu sabia que isso era possível acontecer e mesmo nas impossibilidades seguimos e estamos aqui hoje. Cada vez mais longe…
Quais os planos para este ano?
Isma: Estamos trabalhando em alguns singles, feats e um curta metragem também, não podemos dar muitas informações ainda, mas vem muito aí.
Vita: sinceramente, meus planos é ganhar muita grana e fazer vários tour mundão afora. Muitos trabalhos para acontecer, fiquem ligades!
Como vocês constroem suas performances? O que inspira as Irmãs?
Isma: Gostamos sempre de dizer que nós somos nossas próprias referências, ainda estamos numa fase de resgatar tudo que foi muito importante na nossa trajetória até aqui e trazer na nossa estética e composições, coisas da infância, as músicas que tocam na nossa família, bairro, os lugares que passamos, as pessoas que conhecemos e etc… mas em resumo, a quebrada e os artistas da quebrada são nossas maiores fontes de inspiração.
Vita: tudo e todes que estão a minha volta. Principalmente eu mesma e Isma.
O que faz um bom show?
Isma: A putaria, pode parecer engraçado, mas através da linguagem sexual nós conseguimos expressar muita coisa, ensinar sobre diferentes temas que vão muito além de sexo. Inclusive, gostamos de primeiro fazer os Fans perderem o pudor, a vergonha, o sexo traz isso né, e depois que eles já estão se sentindo mais confortáveis a gente vem jogando nossas brisas.
Vita: falar sobre vida. A putaria da vida. Isso que move, goza e transforma.
Como foi o processo de formação das Irmãs? Qual a mensagem da dupla?
Isma: O conceito mais puro é uma “dupla de travestis funkeiras”. Nossa maior meta é construir outros imaginários de corpos travestis negros da periferia, mostrar que temos muito mais pra oferecer do que vocês pensam! Criar novas possibilidades.
Vita: A mensagem hoje pode ser: destruir tudo que foi esperado de nós e recriar sua própria história.
Agora me conta o seu maior sonho!
Isma: Eu particularmente morro de vontade de reformar a casa da minha família, mas não quero nunca parar de sonhar, quando realizar esse eu quero ter outros e assim vai. Quero sempre ter algo pra correr atrás, eu gosto de sonhar cada vez mais alto, me desafiar, e por aí vai.
Vita: Sonho em não precisar fazer tudo que faço para ganhar o mínimo. Sonho o mundo desse mundo, para que outras coisas possam existir e vivermos com dignidade.