Aqno mistura Pará, Maranhão e representatividade em novo álbum que o ajudou a superar a pressão da pandemia  

Diego Aquino, aka AQNO, é um artista do sudeste do Pará, influenciado diretamente pela região onde cresceu e mora, a cidade de Marabá, um lugar banhado pelo Rio Tocantins e vizinho do Estado do Maranhão. Uma localização que o fez absorver as culturas musicais dos dois Estados.  

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Com uma música que assimila ainda outras referências, como a diversidade de artistas da região amazônica, intérpretes clássicos da MPB, o movimento tropicalista e artistas de música pop internacional, Aqno se prepara para lançar o seu primeiro álbum. “O Retorno de Saturno” tem11 faixas compostas por ele na última década. 

São músicas que representam sua trajetória artística e pessoal como um homem gay vivendo há seis anos com HIV. Pisciano de 33 anos, conta à Ezatamag na entrevista a seguir que adora Astrologia, tem resistido à pandemia graças à sua arte e que sabe bem como pode impactar a vida das pessoas com suas obras. Confira:  

Como tem sido trabalhar com arte em tempos de pandemia, de isolamento social?  

Foi e tá sendo bem difícil, já foi pior lá no começo, quando fiquei totalmente desassistido no meu trabalho. Não fosse ter aprovado um projeto pela Lei Aldir Blanc do Pará e conseguir colocar no mundo meu single, clipe e o álbum que tá vindo aí, não sei o que seria de mim. Agora com esses lançamentos e um cenário promissor (porém tardio) de vacinação no país e fora Biroliro, as coisas tendem a melhorar (eu vibro). 

Agora com esses lançamentos e um cenário promissor (porém tardio) de vacinação no país e fora Biroliro, as coisas tendem a melhorar (eu vibro).

Como foi a trajetória até o álbum de estreia? Qual a mensagem dele?  

Foi uma trajetória árdua e maravilhosa de 7 meses em São Luís do Maranhão, no meio do caos de uma pandemia, produzindo esse álbum. Foram dias de muito autoconhecimento, saudade de casa, vontade de desistir, mas sendo fortalecido pelo que mais amo fazer: arte. E o álbum que se chama “O Retorno de Saturno” fala exatamente disso, de como o caos, seja de qual espécie for – emocional, financeiro, político, sanitário – é capaz de nos transformar absolutamente. O retorno de Saturno é um evento da astrologia que fala da primeira volta completa que a jóia do sistema solar leva pra fazer ao redor do sol. Ao contrário da Terra em seus apressados 365 dias, Saturno leva cerca de 30 anos pra fazer a mesma volta. Nos simbolismos astrológicos isso nos fala da transição pra vida adulta, um momento cheio de resoluções emocionais, da pressão das responsabilidades, de traçar melhor essa nova trajetória. Quem tá chegando perto dos 30 aí, sabe bem do que eu tô falando. Meu álbum vem falar dessa trajetória lenta de se autoconhecer, resolver pendências acumuladas e seguir em frente numa nova longa oportunidade de fazer as coisas. 

Você acha que inspira mais gente sendo um artista livre? Qual a responsabilidade nisso?   

Cara, a gente não tem muito controle de como ser artista e a nossa arte afeta as pessoas. Acredito que artistas que carregam suas verdades mais profundas na sua arte, para além do fato de fazerem disso seu ganha-pão, sempre vão ser inspiradores e afetarão outras histórias. Muita gente é atravessada pelas mesmas coisas que eu, um homem gay de 33 anos, vivendo com HIV há seis anos, amando, desejando, vivendo, trabalhando e eu não posso negar a carga inspiradora que isso tem pra outras pessoas e a responsabilidade que é ser livre em tudo que eu sou e carrego, afetando tanta gente. É um prazer poder inspirar alguém sendo verdadeiramente quem eu sou. 

Meu álbum vem falar dessa trajetória lenta de se autoconhecer, resolver pendências acumuladas e seguir em frente numa nova longa oportunidade de fazer as coisas.

 

O que você mais gosta no retorno que recebe?  

Identificação! Não existe nada mais lindo do que alguém se identificar com você e encontrar no teu trabalho e na arte um lugar pra se identificar, se debruçar, se sentir feliz, confortável. Eu definitivamente amo a conexão com as pessoas que isso me retorna. 

Qual a importância de celebrar a cultura do seu Estado?  

O Pará é um Estado riquíssimo em tudo! Eu amo esse lugar, aqui eu moro há 17 anos e nasci artisticamente há 11, sendo afetado por todas as manifestações culturais aqui presentes. Levar no meu trabalho todo esse afeto que o Pará me proporciona é um prazer, se tratando mais ainda da região paraense que eu moro – Marabá, região sudeste do Pará. Um lugar afetado diretamente pela relação estreita com o Maranhão, então eu costumo dizer que Marabá é um pedaço de Paranhão, uma mistura linda desses dois Estados (que deixamos muito evidente na produção de Desaglomerô). 

Não existe nada mais lindo do que alguém se identificar com você e encontrar no teu trabalho e na arte um lugar pra se identificar

Quais artistes mais te inspiram?  

Tem muita gente, desde artistas mais antigas às mais novas! Afinal, 33 anos, posso citar Elis Regina, Mylla Karvalho (Companhia do Calypso), Sevdaliza (porque é importante servir conceito hahaha), Gloria Groove, Pabllo Vittar, Liniker, Linn da Quebrada (eu sempre estou atento ao que Linn tem a dizer). 

Qual é seu maior sonho?  

É continuar fazendo e expandindo minha arte, trazer mais gente pra esse lugar de identificação com minha musicalidade e minhas histórias… E poder viver dignamente do meu trabalho, fazer a manutenção da minha vida e da vida dos meus a partir disso tudo. O resto as deusas resolvem.