“Love to Love You, Donna Summer” usa imagens de arquivo para contar a história da carreira de Donna Summer

Por Eduardo de Assumpção*

“Love to Love You, Donna Summer” (EUA, 2023) O filme é um documentário biográfico sobre a Rainha da Disco Music, dirigido por sua filha caçula, Brooklyn Sudano, juntamente com Roger Ross Williams. O longa usa imagens de arquivo para contar a história da carreira de Donna Summer, desde seus primeiros hits discográficos até se tornar a primeira artista negra com um vídeo na MTV para seu hit de 1983, ‘She Works Hard for the Money’.

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Embora o filme trace seu sucesso inicial na Alemanha e seu retorno aos EUA, com uma bagagem de vídeos e filmagens de shows, a ênfase da discussão está em sua vida pessoal e sentimentos emocionais sobre esse sucesso. O arquivo familiar ajuda a mostrar a mulher por trás dos maiôs cintilantes. Vemos as habituais imagens de arquivo, muitas filmadas pela própria cantora, com entrevistas intercaladas com clipes de suas lembranças.

No entanto, esses vários clipes raramente são usados de maneiras esperadas, e a forma intrincada como o filme é montado beneficia ainda mais a narrativa. Há muitas referências aos papéis que ela representou, e é claro que, nas filmagens de shows, seu início ajudou a moldar a maneira como ela atuava em cada apresentação, desde os sucessos mais carnais de seu período inicial até a atitude apropriadamente estridente de sucessos como ‘Last Dance’, ‘Hot Stuff’ e ‘On the Radio’.

O aspecto mais desafiador é dar sentido aos comentários homofóbicos de Donna Summer, após abraçar a música cristã. Dado o quão intimamente ligado à comunidade LGBTQIA+, grande parte de seu sucesso foi, continua sendo uma mancha chocante em seu legado, e é uma abordagem bem-vinda sem medo de evitar tais contradições em sua personagem.

Declarações equivocadas sobre ‘Adão e Ivo’ e o seu silêncio durante a crise da AIDS, revoltou aqueles que a apoiaram em dias de glória. Devastada, a cantora aparece em uma coletiva para desmentir, porém o estrago estava feito. Há muito o que amar no documentário.

É um retrato maravilhoso, muitas vezes triste, desse talento notável, uma cantora lendária, deixada de lado como um mero fenômeno discográfico e raramente celebrada com o mesmo entusiasmo que outras. Disponível na @hbomaxbr

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib