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PLUS SIZE: INCLUSÃO OU EXCLUSÃO?

Por Caroline Silva*

O movimento Plus Size como qualquer outro movimento tem sua história e evolução social. A história nos mostra claramente um padrão de beleza imposto pela sociedade e que se desenvolve de acordo com a mentalidade do momento, ou seja, cada época constrói uma ideia de corpo feminino. Imagine uma mulher de corpo grande e arredondado, seios fartos e os quadris avantajados, talvez você a chamaria de “gorda”, certo?

Pois é, no período da pré-história isso era símbolo de fertilidade e, por isso, era o corpo idealizado pelas mulheres. Já no período Renascentista, um corpo “gordo” era sinal de uma vida próspera e o ideal de corpo feminino estava extremamente relacionada à fartura, e isso fica claro na obra “O Nascimento de Vênus” (1485), de Botticelli, que representa a mulher curvilínea, sendo este um dos quadros mais importantes da época.

A evolução desse movimento, atrelado às mudanças de padrões de beleza, e a consolidação do termo “plus size” surge em 1920 pela marca norte-americana Lane Bryant, que foi fundada em 1904 e segue em pleno funcionamento até os dias atuais. Contudo, vale ressaltar que a ideia inicial não era ter roupas para vestir um tamanho maior que o “convencional”, mas sim ter um segmento o qual tivesse roupas exclusivas para gestantes.

A história nos mostra claramente um padrão de beleza imposto pela sociedade e que se desenvolve de acordo com a mentalidade do momento.

Como Cientista Política, acredito de verdade que os movimentos de reação à categorização – neste caso, categorizar alguém pelo tamanho do seu corpo, como debatido no meu último artigo, aqui na revista – são mais do que válidos e necessários, contudo, gostaria de trazer algumas informações relevantes para o leitor decidir se o movimento Plus Size é de fato um movimento de inclusão ou de exclusão.  Inicialmente, vale ressaltar que reagir a padrões de uma maneira geral já é algo positivo, pois talvez o que serve como uma luva para um, talvez não faça sentido para o outro. Eis alguns depoimentos importantes:

Após uma conversa informal, por telefone, com o Estilista Léo Alves (@leoalvesmoda ), em Brasília, ele que desenha modelos exclusivos de vestidos de festa e reproduz os desenhos em vestidos belíssimos, explicou que: “..quando eu recebo no ateliê duas mulheres, uma que veste 38 e uma que veste 56, a única diferença é na quantidade de tecido que vou utilizar na confecção, pois a mão-de-obra não representa custo diferente em virtude do tamanho do corpo…” Ou seja, uma mulher de manequim 38 que precise de 3 metros de tecido para confeccionar um modelo de vestido e uma mulher de manequim 56 que precise de 6 metros para confeccionar o mesmo modelo de vestido, ele cobra apenas o tecido excedente, mas a mão-de-obra a ser paga pela confecção do mesmo vestido resulta no mesmo valor para as duas.

A dúvida que fica, após conversar com o estilista, é: como as grandes empresas e marcas, que produzem em grande escala, não conseguem praticar um preço mais justo para o manequim Plus Size? Alguns dados são interessantes para tentarmos responder a essa pergunta. De acordo com levantamento exclusivo do IEMI, existem no Brasil 492 indústrias desse ramo, e isso equivale a uma participação de R$ 2,5 bilhões em vendas anuais. No primeiro semestre de 2017, em relação ao ano anterior, a produção de vestuário Plus Size adulto alcançou a marca de crescimento de 6,9%, contra 3,5% do vestuário adulto em geral. Esses dados, além de mostrar que o movimento Plus Size facilitou o acesso às roupas com tamanhos maiores, também criou uma oportunidade de o mercado lucrar ainda mais com base no tamanho do corpo das pessoas.

É importante esclarecer que ter mercado para esse ramo é algo mais do que positivo, contudo usar o discurso Plus Size como uma bandeira de inclusão pelas grandes marcas e pelas lojas de departamento para cobrar mais caro é que não é aceitável, pois ao mesmo tempo que as lojas incluem numa perspectiva de tamanho, elas excluem por um viés econômico.  E pior ainda, é usar o discurso de que um manequim Plus Size exige uma quantidade maior de tecido e por isso cobra-se mais caro, o que não é mentira, mas por outro lado, se a lógica para por preço for a quantidade de tecido usado num manequim, a indústria de roupa infantil deve rever sua política de preço.

Outro depoimento importante é o da blogueira, modelo e ativista do movimento Plus Size Micaella Rodrigues (@rodriguesmicaella), que abriu seu coração e dividiu com conosco como foi seu processo de aceitação e como o apoio da sua mãe (em memória) ajudou muito! Ela nos conta que sempre foi gorda, palavras dela! Segundo Micaella, sua mãe sempre foi obesa e foi ela que a ajudou com a questão da aceitação. Ela conta “… minha mãe sempre foi vaidosa, se amava muito e sempre fez eu me se sentir muito segura…”. Ela conta que alguns parentes sempre fizeram questão de falar que ela estava gorda, que estava feia, que ela deveria se esconder e que ela iria morrer solteira.

Segundo Micaella, seu processo de aceitação foi dolorido, o preconceito foi a motivação para ela dar a volta por cima. Seu primeiro choque foi descobrir que o rapaz que ela amava e era correspondida disse a ela que jamais ficaria com ela por ela ser gorda! Depois disso, Micaella quis tanto lutar contra esse tipo de atitude, que a semente do preconceito que ele plantou germinou nela amor-próprio e libertação. Micaella defende que o movimento Plus Size é extremamente importante para o bem-estar e saúde mental das pessoas acima do peso. Pois ela acredita que “…todos os dias é preciso reforçar o quão lindas e maravilhosas somos, até que um dia isso seja tão real e palpável na nossa vida, que nem será mais um exercício de aceitação, vai virar uma verdade…”

Todos os dias é preciso reforçar o quão lindas e maravilhosas somos, diz Micaella

Micaela reforça a importância das redes sociais como uma forte aliada nesse processo de aceitação, pois é possível acessar vários perfis e conteúdo de gente que enfrentou a mesma barra que a ela e decidiram compartilhar sua história com o mundo, assim como a Micaela faz hoje! Pois segundo ela, “...não tem coisa mais inspiradora do que saber que você não está sozinho no mundo…”

Por fim, Micaella explica que estar gorda é um estado e não algo que define quem ela é. Ela sugere a busca por perfis inspiradores, como (@rayneon, @tessholiday e @alexandrimos) autores que ajudem a passar por esse processo, e o mais importante, [“…parem de se comparar…][“…Se você esta insatisfeita com o seu corpo, aparência, estilo, seja o que for, veja o que quer mudar e mude, acredite, você é capaz! Sermos nós mesmos não deve ser um fardo e sim um motivo de grande orgulho!…”  

Retomando a ideia central do artigo, que é tratar o movimento Plus Size como algo que inclui e exclui em alguns aspectos, é importante frisar que o movimento em sua essência é muito positivo, mas que apesar de ter dado sua contribuição, inclusive social, ele também é uma forma de categorizar. Assim, surge um novo movimento (Bory Positive e Body Neutrality), em reação ao movimento Plus Size, que defende não roupas por tamanho de corpo, mas roupas para mulheres!

Usar o discurso Plus Size como uma bandeira de inclusão pelas grandes marcas e pelas lojas de departamento para cobrar mais caro é que não é aceitável.

É mais do que urgente rever essa política de venda, tanto no preço, quanto na tomada de decisão sobre se uma pessoa de manequim 56 deve usar um cropped ou não, a peça precisa estar disponível em todos os tamanhos! No fim precisamos apenas de roupas femininas, o resto é pretexto para a sociedade legitimar o preconceito e o mercado criar mais um nicho lucrativo. Assim, convido você leitor a construir sua própria opinião depois de tudo que foi dito acima.

*Caroline Silva é escritora e cientista política especialista em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UNB) e mestre em Ciência Política pela Universidade Livre de Bruxelas (ULB), Bélgica.

Redação

Redação Ezatamentchy

4 Comments
  1. Maria de jesus barroso

    24/09/2019 10:47

    Seja feliz do jeito que vc é, a saúde começa pela sua alma!!!

  2. Íris

    24/09/2019 11:26

    Auto aceitação e valorização pessoal, isso é importante em todos os aspectos. Muito bom!!! Parabéns!!!

  3. Fernanda candeias

    24/09/2019 22:41

    Ser feliz!!! Não há nada que não possamos ser ou fazer!

    • Sweldma Lima

      26/09/2019 05:31

      Estonteante!!!!

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