Vitor Liborio mistura desenho e realidade para criar uma arte que dá coragem e confiança para lutar
Aos 11 anos de idade o sete vezes sagitariano Vitor Liborio entrou em um mundo todo seu onde o desenho empodera, leva além, traz alegria e força para os meros mortais. A sorte é que ele decidiu compartilhar este mundo e agora aos 25 mostra sua potência artística recheada de fantasia permeando uma realidade onde ele já realizou um sonho: trabalhar com Pabllo Vittar.
“Gosto de criar imagens que acrescentam no universo da música, ter o visual como um canal a mais para passar o sentimento do artista, e não apenas criar uma capa que seja só um outdoor para o clipe/música em questão. Isso para mim é um desperdício de espaço criativo”, conta de São Paulo à Ezatamag.
Dono de um mapa astral dominado pelos centauros, Vitor é meio real e meio fantasia ao se apresentar como artista. Cores e formas nascidas de uma mente povoada de referências de animes e jogos virtuais invadem imagens reais para gerar beleza e emoldurar pessoas. É a arte que constrói, colabora, adiciona. Mas Vitor sabe que a arte “destrói também, a arte é poderosa, mobilizadora e tem muita energia, por isso é importante entender como usá-la”.
Me diz o porquê do nome Quimera Vermelha no perfil. O que é uma quimera vermelha?
Bom, a quimera na definição mitológica é uma criatura formada por mais de um animal. Vale qualquer coisa. A mais famosa é a que Hércules matou em um dos seus 12 desafios. Mas minha referência para esse termo também vem de dois animes, Fullmetal Alchemist e Bleach, ambos retratam quimeras em suas respectivas interpretações do ser. A Quimera Vermelha, que antes se chamava Quimera Rojo (mudei, pois português mais legal né) é um personagem que eu desenhei em 2018, um guerreiro de armaduras vermelhas, asas na cabeça e cauda de cobra. Quando ele estava pronto eu olhei e pensei: ”bom, são três animais, isso é uma quimera!”. O termo Vermelha veio pelas cores das roupas. Hoje ela ganhou várias formas e continua ganhando, com o tempo eu vi que a Quimera era como um gene do meu trabalho, meu ”estilo” como chamam e assim ficou. Quimera também significa uma utopia para um mundo sem guerras, e eu gosto disso.
E desde quando você percebeu que gostava de arte? Artista nasce artista?
Eu não vou me arriscar a responder por outras pessoas, mas eu definitivamente não nasci artista. Eu me tornei porque me apaixonei logo cedo pela capacidade de criar coisas a meu bel prazer, do poder que isso me dava e como era confortável para mim estar constantemente nesse mundo de fantasias. Eu comecei a desenhar por volta dos 11 anos e nunca mais parei de criar imagem.
É sobre você conseguir desenhar um mundo em que sua confiança existe, seus sentimentos são válidos e reais e acreditar que aos poucos, isso transborde para sua vida cotidiana também.
Dá para perceber sempre uma vontade de cor nas obras. Estamos precisando de arte assim neste momento? Suas obras são uma contribuição?
Acho interessante sempre que sou colocado para pensar em como eu uso a cor. Eu desenhei até os 19-20 anos apenas em grafite praticamente, as cores somente existiam nas edições que eu fazia pra criar wallpaper da Lady Gaga, na comunidade dela no Orkut, e de Ragnarok, um mmorpg que eu era fissurado (ainda sou talvez). A cor para as ilustrações veio quando eu comecei a namorar com a pintura digital, na faculdade, com ajuda de alguns colegas. Então hoje eu vejo cor em tudo, muitas vezes as obras partem de um conjunto de cores que eu desejo dar forma e daí vem o desenho. Não sempre, mas muitas vezes. Cor precisa de coragem, elas dizem muita coisa e são mensagens completas, pelo menos da forma como eu as uso. E coragem é algo que sempre vamos precisar. Gosto de pensar que ajudo com algo nesse sentido…De ter coragem.
Outra coisa muito legal do seu trabalho é a sensação de poder que os desenhos trazem quando aplicados nas fotos, por exemplo. Salto alto, uma coisa meio armadura. A arte empodera? Protege?
Sem dúvidas! Ela destrói também, a arte é poderosa, mobilizadora e tem muita energia, por isso é importante entender como usá-la. Eu me inspiro muito na arte Drag e Clubber, acho que quando a gente constrói um mundo onde podemos ser aquilo que queremos ser, a confiança transparece. Eu raramente na vida me sinto como eu transpareço nos retratos da Quimera, mas é sobre isso, é sobre você conseguir desenhar um mundo em que sua confiança existe, seus sentimentos são válidos e reais e acreditar que aos poucos, isso transborde para sua vida cotidiana também.
Vários convites para colaborar com o mundo da música que renderam capas muito legais. Você gosta deste diálogo com a música?
Amo de paixão!! Eu sempre digo para meus colegas e amigos que a imagem é uma mídia muito diferente da música e deve ser encarada como tal. No bom sentido. Gosto de criar imagens que acrescentam no universo da música, ter o visual como um canal a mais para passar o sentimento do artista, e não apenas criar uma capa que seja só um outdoor para o clipe/música em questão. Isso para mim é um desperdício de espaço criativo.
Como a pandemia afetou seu processo artístico no sentido da criação?
Um giro de 360 graus e em todos os sentidos. Trabalhar com a mídia digital acabou saindo como uma vantagem. Já que a Quimera ainda só existe no mundo virtual, ela pode continuar evoluindo e a energia que antes eu direcionava para outras coisas do dia-a-dia acabou indo tudo para ela. O que de início pareceu bom, mas hoje, a exaustão por todo o contexto que estamos, tem sido difícil de driblar ou escapar. É um jogo de paciência.
Coragem é algo que sempre vamos precisar. Gosto de pensar que ajudo com algo nesse sentido…De ter coragem.
Dá para se manter equilibrado nestes tempos? O que você tem feito?
Não sei sinceramente hahahaha Equilibrado para mim mudou o significado. Eu procuro sempre fazer algum exercício, jogo muito League of Legends e desenho! Mas não sei se estou equilibrado, de verdade, tem dias que parecem uma grande massa cinza e densa, que para cada passo você arrasta vinte bigornas nos pês…Gostaria de ser mais otimista nessa resposta, mas estou sendo sincero. Tá tudo bem não estar bem. Ninguém, em teoria, que esteja levando o contexto a sério, está realmente bem, mas estamos juntos. Esteja junto de alguém, mesmo que seja virtualmente e vamos chegar ao final.
Para falar de futuro, de perspectiva, quais são os planos para 2021?
Hoje a única coisa que eu consigo pensar para o meu futuro em 2021 assim de imediato é cheiro de sovaco, pele com pele, suor na testa e cerveja na mão. Carnaval né. Mas em termos mais profissionais eu espero estar morando em São Paulo capital, quero continuar projetando minha visão criativa para o mundo e com isso me envolver em mais projetos criativos. Desde identidades visuais, revistas, vestuário até concepção de mídia como filmes e desenhos animados.
E qual seu maior sonho?
Hoje é conseguir retirar do meu trabalho e das minhas escolhas profissionais a certeza de uma vida segura e independente. Mas por exemplo, até o ano passado era trabalhar com a Pabllo Vittar e isso aconteceu haha Quem sabe eu deveria sonhar em trabalhar com a Lady Gaga, imagina.
Instagram @quimeravermelha
Portfólio completo no www.behance.net/victorliborio