Em “Não existe pecado no lugar de onde eu vim”, Kaio Phelipe surge forte, resiliente e confiante
Em “Não existe pecado no lugar de onde eu vim” (Editora O Sexo da Palavra, 120 páginas), Kaio Phelipe surge forte, resiliente e confiante de sua escolha em abandonar seus fragmentos, os registros de uma vida de outrora, cheia de dores e conflitos, para seguir em frente. O autor sabe o poder de sua experiência e acredita no valor das imagens no seu íntimo, mas reconhece a irrelevância delas dentro de um universo de bilhões de humanos produzindo histórias e deixando estilhaços.
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Em ritmo de tratado e reza, Kaio não passa indiferente às pessoas que, por uma posição política arraigada no patriarcado racista, misógino e homofóbico, condenaram o País a amargar o segundo lugar do planeta com mais mortes pela Covid-19. Em versos curtos, de uma respiração entrecortada, em uma situação limite, ainda há espaço para a esperança de que o aprendizado nos faça procurar por uma posição melhor enquanto nação.
“É o meu primeiro livro de poesia. Comecei a escrevê-lo logo depois do início da pandemia, diante da barbaridade sanitária e política e dos discursos bíblicos de seus culpados. Estando em quarentena e matutando sobre como viemos parar aqui, em um ponto inimaginável da história, o começo violento dos anos 20, decidi relacionar o que entendo como alguns pontos de partida: os casos que modificam os dias e precisam de posicionamento”, conta o autor.
“Não existe pecado no lugar de onde eu vim” é um retrato da situação psicológica das pessoas que não participaram do golpe, mas que sentiram como ninguém as consequências dele, e suas formulações para o futuro cheias de aprendizados e ressentimentos.
“Quando o certo e o errado facilmente se misturam sob nossos olhos, a poesia entrega a verdade e é importante saber quais são as nossas ferramentas. Com este livro, pretendo ainda abrir algumas veias que a categoria literatura LGBTI+ não comporta e, além de sexo, sexualidade e declarações de amores distintos, aproveito para falar de amigos que morreram, dos que estão vivos, de carnaval, de família, da tecnologia, de saudade, de erros geográficos.”
Ele explica que o que une cada página é a realidade “de um país que usa o pecado e a fé como formas de manipulação e extermínio. Parafraseando Paco Urondo, em ‘Instruções Para Esquivar o Mau Tempo’: A poesia dói nesses filhos da puta”.