É impossível falar de música e humor LGBT brasileiros sem reconhecer o trabalho de Las Bibas From Vizcaya
Não se pode dizer que “era tudo mato” quando Las Bibas From Vizcaya apareceu abalando o Brasil, há mais de 35 anos. Nem mato tinha ainda. O projeto do DJ pernambucano George Mendez foi quem plantou as sementes do humor que hoje conhecemos como característico do mundo LGBT brasileiro: podcasts, dublagens, vídeos que se tornaram verdadeiros clássicos e uma abertura para nossa comunidade no mainstream.
Não existia visibilidade para um humor feito POR e PARA LGBT, somente sobre LGBT. Piadinhas que a gente já cansou de ouvir, programas de televisão explorando a homofobia e muita imagem caricata para fazer rir. Mas rir de nós, não conosco. Las Bibas trouxe inteligência e capacidade produtiva para realizar um trabalho que pudesse ser respeitado em vez de ser motivo de chacota. Passamos a protagonizar o humor que nos caracteriza.
Foi um ponto de virada quando Dolores de Las Dores e Marisa Touch Fine assumiram o comando da nossa graça. George foi e continua sendo com sua Dolores a primeira produtora, cantora e DJ drag do Brasil todo. E hoje a gente vendo a enxurrada de drags nas picapes, ainda bem, nem precisa dizer que foi um caminho aberto pela dupla, que na verdade era uma pessoa só.
Muitos anos e sucessos depois, Georges e eu um dia conversamos sobre revelar na extinta revista “Junior” um dos segredos de Las Bibas: sempre foi somente ele, a segunda fofa era uma amigue aleatória convidada para fazer carão e abalar as buatchys. Também fizemos uma entrevista com ele metade montado e metade desmontado para todes saberem quem era o responsável por essa obra-prima.
Já era hora de assumir que toda essa luta tinha sido feita pelo exército de um homem só, que ainda não venceu a homofobia no humor, mas já dizimou um bom número de soldados da intolerância.
Profissional
Mas o que fez com que Las Bibas tivesse força para derrotar esses soldados? Qualidade, comprometimento e seriedade, mesmo fazendo humor. George trabalha e ferve ao mesmo tempo, não faz só uma coisa ou outra. Com pelo menos 35 anos de carreira, sabe o que está fazendo, entende do riscado, como dizem os mais antigos. Não faz sucesso porque está na moda, faz sucesso porque lança a moda, molda a moda, adiciona em vez de replicar.
O remix é feito para ser bom além de divertido, não apenas engraçado. É música de verdade, uma piada remixada por um profissional – garantindo qualidade ao produto final e fidelizando o consumidor. Os vídeos têm edição cuidadosa, elaborada, bem feita. Os podcasts (que a gente ficava roxo de ansiedade para ouvir) eram verdadeiras obras-primas deste formato que hoje virou novamente febre. Las Bibas sempre à frente.
Se hoje temos perfis de humor que exploram nossas dores e delícias para fazer rir é porque essa loira arrasa-quarteirão deu sua cara a tapa quando para ser engraçado era preciso ofender LGBT. A lição de Woody Allen sobre o humor – de que quando dobra é engraçado, mas quando quebra não é nada bom – parece tomar forma na extensa carreira de Las Bibas.
O mundo das buatchys, os afters, as gírias, os apelidos, os microcosmos que formam nosso universo LGBT… tudo contemplado porque Las Bibas transita nos mais diversos grupos. Uma qualidade profissional que garante presença em festa de drag, em festa de urso, em festa dos malhados, tocando como George, tocando como Las Bibas, tocando em festa hétero e por aí vai. É a diversidade da diversidade.
Estamos falando de uma linha de humor capaz de agradar pela qualidade e pelo cuidado – não há desrespeito nas produções de Las Bibas. Uma seriedade que garante elogios inclusive de quem está sendo dublado, como foi quando Juliana Paes berrou alto ao ver a versão babado de sua novela “Gabriela”.
Talvez a geração abaixo dos 30 anos não tenha ideia de como era importante ter Las Bibas, e como ainda é.
Las Bibas tirou a drag da porta das festas e a colocou no comando do fervo. Tirou o gay do espaço de escada para protagonistas subirem nas cenas para se tornar a própria cena. Mostrou que nós podemos sim, que temos capacidade, comprometimento e qualidade para tomarmos as rédeas de um humor que é nosso – e que tanto agrada também héteros.
Um ponto-chave na nossa luta é essa abertura. O trabalho de Las Bibas sai das linhas do mundo LGBT e dialoga também com o mainstream justamente porque tem qualidade. Não é feito de nós para nós, é feito de nós para todes – abrindo as portas do nosso mundo para quem quer conhecê-lo, se informar e, a partir daí, construir seu respeito pela diversidade.
É uma intersecção de grupos muito bem-vinda para quem deseja que sejamos todos um grupo unitário. É impossível falar de música e humor LGBT brasileiros sem reconhecer o trabalho dessas bibas.
Instagram @lasbibasdj
Las Bibas From Vizcaya
11/01/2021 15:56
Obg helio e Ezatamag pela linda materia ! 🙂
Carlos Roberto
11/01/2021 17:55
Las Bibas arrasa muito. Sabe conduzir uma pista de danças como poucos. Parabéns é vida longa à nossa Divadrag
Reginaldo Rocha
11/01/2021 18:42
Acompanhado a Las Bibas Desde os podcast e Marizinha e Madamme Katia Cega, me acabava e ainda dou muita risada, Dolores faz um trabalho primoroso e muito bem produzido sempre.
Vida longa e muito sucesso sempre❤.
Gustavo Vianna
11/01/2021 20:07
Las Bibas e George M arrasam muito! Sucesso, sou fã!
Ulisses
20/01/2021 06:44
Respeito e admiração por este competente artista 😍