Por Eduardo de Assumpção*

Doc traz figurinos escandalosos e criativos em passeios a pé pelas ruas de Moscou perante o olhar curioso

“Queendom” (EUA/França, 2023) Para ê artista performátique Gena Marvin, sua casa se tornou o principal perigo para sua vida. O documentário que acompanha há quatro anos, entre 2019 e 2022, logo no início da invasão da Ucrânia que também se tornou uma ameaça para um certo número de jovens russos, justifica-se através dos seus figurinos escandalosos e criativos e em passeios a pé pelas ruas de Moscou perante o olhar curioso, mas também furioso, dos transeuntes.

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“Queendom”, de Agniia Galdanova, apresenta-se, assim, como um retrato que se expande progressivamente para um olhar mais coletivo, sem que Gena Marvin se manifeste realmente como ativista global representando um grupo de pessoas que não são aceitas em seu país, mas como uma reivindicação de sua identidade pessoal. Aos 21 anos, elu decidiu mostrar sua arte e não-binariedade sem medo: “Não me identifico com nenhum gênero ou orientação sexual. Mas também não tenho medo de nada.”

O documentário mostra algumas das atuações de Gena Marvin em gravações que ê tornaram popular nas redes sociais, mas que geralmente têm um fundo de opressão e solidão, em espaços vazios onde elu rasteja pela lama, ou em que anda perdide enrolade em fitas. E, no entanto, elu é reconhecide nos círculos artísticos, participando de uma sessão de fotos para a Vogue Rússia ou de um desfile de moda em que sua presença também desafia a beleza das modelos russas.

Os momentos mais íntimos e frustrantes acontecem quando elu interage com seus avós, com quem fala ao telefone de Moscou ou quando volta para casa em Magadan, uma cidade de pescadores. Lá, elu ajuda o avô no trabalho de pesca, mas também ouve novamente os comentários que mostram a incompreensão sobre o tipo de vida que leva ou como está constrangendo sua família.

Na realidade, parece haver um profundo sentimento de amor por parte dos avós, uma espécie de resignação que, no entanto, especialmente por parte do avô, é cheia de reprovações, mesmo que tentem ser afetuosas. A única vez que Gena realmente expressa medo é quando a invasão da Ucrânia está prestes a acontecer.

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib