Existe sim felicidade e o principal: poucas pessoas conseguem amar uma travesti

Por Leona T*

Desde cedo, ao começar a puberdade, ou mesmo antes, imaginamos uma vida feliz e um companheiro ou companheira que possa complementar essa felicidade. Meninos, meninas, menines sonham ainda com aquela pessoa especial que entenda quem você é e possa reconhecer em você sua outra metade.

Lembro-me que aos 9 anos possuía um diário, nele confidenciava meu grande amor platônico: Macaulay Culkin. Fantasiava que ele de fato era meu príncipe e que em algum momento de nossa vida ele iria me encontrar e seríamos felizes como a vida nos filmes nos diz que é. Afinal, faz parte do coração humano se apaixonar, e cabe aos sonhos dentro de nós idealizar o príncipe encantado.

Já na adolescência, as idealizações tornam-se mais reais, e também muito mais perigosas, o sentimento dentro da gente se transforma em um turbilhão de emoções, muitos desencontros, e especialmente para uma pessoa trans é o começo do fim. É na adolescência que percebemos que o príncipe ou a princesa não existem.

Desde cedo, ao começar a puberdade, ou mesmo antes, imaginamos uma vida feliz e um companheiro ou companheira que possa complementar essa felicidade.

Hoje, adulta, depois de muitos relacionamentos conturbados, cheguei a algumas conclusões: O amor não pode doer, não deve ser desvalorizado ou subjugado, existe sim felicidade e o principal: poucas pessoas conseguem amar uma travesti.

É até irônico dizer que num país recorde em consumo de pornografia trans e travesti como o Brasil, os relacionamentos da grande maioria de meninas é reduzido a encontros furtivos, relacionamentos abusivos, pequenos casos, tudo sempre escondido na névoa que é a vida de uma mulher trans/travesti.

Ao começar minha transição, uma amiga travesti uma vez me disse: Não importa com quem você esteja, sempre estaremos sozinhas.

Hoje, com a ascensão da pauta tranvestigênere, muitos relacionamentos e muita gente feliz pode mostrar como o caminho para tolerância e para o amor entre duas pessoas que realmente se gostam, sem rótulos, é real e possível.

Lembro-me que aos 9 anos possuía um diário, nele confidenciava meu grande amor platônico: Macaulay Culkin

Mas até que ponto? Como saber se ainda não somos fetichizadas ou expostas a relacionamentos tóxicos, invasivos, destruidores?

Ao começar minha transição, uma amiga travesti uma vez me disse: Não importa com quem você esteja, sempre estaremos sozinhas. Essa será a nossa vida. Viver sozinhas. Hoje, dentro de um relacionamento há 5 anos com altos e baixos, sei que sou feliz, do meu jeito. Mas a afirmação dessa amiga nunca deixou de fazer parte da minha vida.

Afinal, quem é que ama a travesti?

*Leona T é trans-ativista, professora, criadora do canal Leona T e do projeto #nossahistoriatrans