Quais expectativas e resultados as pessoas trans têm com as cirurgias faciais?
Por Fe Maidel*
Semana passada fiz uma live com o dr. Rostand Lanverly, cirurgião plástico. Falamos por mais de uma hora sobre quais as expectativas e resultados as pessoas trans têm de cirurgias faciais. Nossa conversa me lembrou de um texto que publiquei em 2018 sobre algo semelhante. “Tem que se mostrar tanto assim?” traz à tona algumas das considerações que levantei na live.
Infelizmente o arquivo se perdeu por pane elétrica e não há como ver nossa conversa. Mas, reproduzo aqui o conteúdo de meu texto original.
Transicionar entre gêneros, a meu ver, tem a ver com o quanto a pessoa tem que lidar com as suas construções, sua formação como pessoa, sua maturidade, seu entendimento de si.
Tive o privilégio de ser convidada a participar de uma Mostra de Artes em 2017. Os quadros que enviei para serem expostos têm em comum a expressão de meus sentimentos em relação ao meu gênero, no momento em que os realizei. São obras fortes, marcantes, nem sempre “palatáveis”. Tanto quanto a transição que atravessei, e atravesso.
Ouço e leio muito a respeito da ansiedade, do resultado, da transformação que o processo de transição pode trazer. Sempre relacionados aos tratamentos médicos/cirúrgicos. Mas transicionar entre gêneros, a meu ver, tem a ver com o quanto a pessoa tem que lidar com as suas construções, sua formação como pessoa, sua maturidade, seu entendimento de si.
Então, entendo eu, vem o processo de exteriorização desse eu. E, somente a partir desse ponto, a intervenção, eventual, é bem-vinda.
Eu mesma tenho as minhas ansiedades e medos. E sonhos. E desejos. Tod@s temos. Descobri que respeitar meu tempo (entre a primeira e a última obra que apresento nessa mostra, passaram-se 30 anos) permitiu-me entender os limites, os bloqueios, quem/como/o que sou.
Ainda estou me descobrindo. E somente então passei a exteriorizar o que entendo como “meu” gênero.
A ideia de compartilhar a expressão de meus sentimentos com pessoas que podem estar cuidando ou passando pela transição de gênero vem de encontro ao desejo de descobrir e não temer o processo, pelo desconhecido que representa.
Ainda estou me descobrindo. E somente então passei a exteriorizar o que entendo como “meu” gênero.
Acredito que, no lugar e momento que estou é preciso, sim, me mostrar, compartilhar e falar sobre um processo nem sempre fácil, simples, suave.
É preciso se mostrar, sim, para poder existir de fato no mundo.
*Fe Maidel é psicóloga, artista plástica e gerente de projetos. Membro do Conselho Municipal de Políticas para Mulheres, diretora de Empregabilidade, Qualidade e Certificação da Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil, secretária Municipal da Diversidade23- Cidadania, trabalha junto a entidades públicas e da sociedade civil focando o resgate e a sustentação da autoestima feminina como meio de ampliar a participação delas na dinâmica da sociedade.