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Mikaela Pitt abandonou o menino introspectivo para se tornar inspiração para gordinhos que querem se montar

A vida de um gay não é fácil, e fica ainda mais complicada quando precisa enfrentar outros preconceitos como a gordofobia e o machismo. Mas nada disso parou a evolução da geminiana Mikaela Pitt, 38 anos. Moradora de Cidade Tiradentes, na Zona Leste de São Paulo, ela não deixou barato e desafiou a vida para ser tudo o que ela queria.

Mikaela ainda enfrenta aqueles desafios que insistem em fazer parte de nossa sociedade e sempre ouve um “viado tem que morrer” daqui, recebe uma cara feia dali. Até mesmo dentro do ônibus tem gente que prefere ir em pé a sentar ao lado de um LGBT, ela conta à Ezatamag.

“Sempre fui uma criança diferente. Era introspectiva, sozinha, nunca me enquadrei nas brincadeiras de meninos. Com o passar dos anos, eu tentava entender o meu interesse por homens e, quando vi a primeira drag na minha vida, me encantei e queria saber como seria”, revela na entrevista a seguir:

Como podemos mudar esse cenário de intolerância que ainda persiste hoje em dia?

Sinceramente, acho que a saída está na educação, não a que vem da escola, e sim aquela que vem de dentro de casa. Ensinar a criança a respeitar o próximo como ele é, não importa a cor da pele, o sexo e muito menos a condição sexual, pois estes traços vêm desde pequeno. Tive um vizinho há pouco tempo que ensinava o filho a xingar o tio de viado e um dia eu estava saindo de casa para um evento, um aniversário no qual eu ia fazer um telegrama animado, e quando passei ele estava chamando o tio de viado como se fosse uma coisa ruim. Ele tinha apenas 3 aninhos, não sabia o significado. Quando desci as escadas e ele xingando por incentivo do pai me olhou, abriu um sorriso e o pai pediu desculpa, disse que o menino não entendia. Olhei para o pai e disse: parabéns, o senhor está criando um agressor, um estuprador ou até mesmo quem sabe um assassino ou um homem que irá matar a esposa um dia. Porque hoje ele não sabe o que fala, amanhã será normal para ele bater, espancar e quem sabe matar, pois é dentro de casa, na idade dele, que tudo começa. Virei e fui fazer meu trabalho. Nunca mais dirigi a palavra a nenhum deles, também não ouvi mais a criança gritando viado.

Sinceramente, acho que a saída está na educação, não a que vem da escola, e sim aquela que vem de dentro de casa. Ensinar a criança a respeitar o próximo como ele é.

Há quanto tempo você começou a perceber que precisava se transformar e ser quem você sentia que era?

Sempre fui uma criança diferente. Era introspectiva, sozinha, nunca me enquadrei nas brincadeiras de meninos. Tinha dois irmãos mais velhos e bem machistas e super protetores também. Com o passar dos anos, eu tentava entender o meu interesse por homens e, quando vi a primeira drag na minha vida, me encantei e queria saber como seria. Depois de algumas semanas que a vi, conheci umas bichas loucas que se montavam e me montei pela primeira vez. Achei fantástico e não parei mais. Eu tinha 15 anos na época.

Como foi este processo de deixar aflorar a Mikaela?

Normal de certa forma. A Mikaela me permite ser tudo que eu quiser. No início era minha válvula de escape, tinha uma vida difícil dentro da minha casa. Mas montada nada disso existia, me sentia plena sendo o que eu quisesse, loira, morena, ruiva, um ser exótico e por aí ia, me sentia livre.

Quais foram os maiores desafios que você enfrentou?

Primeiro de todos mostrar para minha mãe que ser drag queen não era prostituição, e sim uma profissão digna e que muitas das contas que pagava em casa vinham de uma peruca na cabeça e um salto no pé. Que vivi disso por muitos anos e este foi um dos motivos pelos quais saí de casa. Ela hoje entende que isso me faz feliz e me realizo como pessoa, como profissional, sendo como sou.

Você acha que bons exemplos podem inspirar outras pessoas a serem mais felizes?

Sim, acho que sem os bons exemplos para seguir não temos o porquê lutar. Eu adoro quando recebo mensagens de meninos gordinhos que dizem para mim que tiveram coragem de se montar depois que me viram num show, me viram em alguma balada e bateram um papo comigo. Até mesmo nas lives, recebi mensagens de pessoas que quando passar esta loucura querem se montar, pois acharam super divertido conversar pela internet comigo. Isso me deixa feliz, saber que posso levar felicidade a alguém.

Montada nada disso existia, me sentia plena sendo o que eu quisesse, loira, morena, ruiva, um ser exótico e por aí ia, me sentia livre.

Eu vi que você tem feito várias Lives durante a quarentena. As lives te ajudam neste tempo delicado que vivemos?

As lives têm me ajudado de várias maneiras a me aproximar dos amigos, pessoas que curtem o meu trabalho e na maioria das vezes não me conhecem mais a fundo ou tem dúvidas vontade de se montar também. Acabo me divertindo e divertindo as pessoas também, pois sempre saem pérolas que geram boas risadas para mim e para eles, que pedem para fazer shows e falar um pouco mais destes meus 23 anos de noite.

A Mikaela me permite ser tudo que eu quiser.

Ainda temos muito a fazer para conquistar uma sociedade mais tolerante?

Simmmm! Eu ainda vejo cenas de LGBTs que me assuntam não acho que impor certas atitudes é uma forma inteligente de conquista o espaço mais tb acho que cada um luta da maneira que achar melhor.

Qual o seu Sonho?

Difícil responder esta pergunta profissionalmente pra Mikaela só tem um palco que não fiz show aqui em São Paulo, que me realizaria, porque de resto já realizei. Agora meu foco seria voltar com meu canal no YouTube, onde fazia os bastidores de eventos LGBTs aqui em São Paulo chamado Mundo Drag. Foi muito bacana viver isso, mas hoje em dia precisa de um investimento que é fora da minha realidade, mas seria muito legal.

Instagram @mikaelapittdrag

1 Comments
  1. Mikaela Pitt

    15/06/2020 14:46

    Obrigadaaaaaaaaa pessoas incríveis amei a materia e me sinto honrada que papai do céu abençoe os caminhos de todos os envolvidos pra sempre esta envolvendo a todos em tudo que acontece bjus ate a próxima

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