Guigga quer mostrar ao mundo as riquezas sertanejas da Bahia misturando música, reflexão e luta
No dia 7 de setembro, há 31 anos, o sertão da Bahia comemorava a Independência e assistia ao nascimento de um artista que tem como mote levar justamente sua cultura para todes conhecerem. Guigga é um cantor que com a pandemia criou coragem para viver apenas de sua arte, deixando para trás a atuação no Direito e em aulas em faculdades.
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Surgiu um artista completo, agora dedicado exclusivamente a usar suas referências do passado, principalmente seu pai, para fazer o mundo ver o que o baiano, do sertão, tem. E tem muita coisa porque Guigga faz questão de oferecer um cardápio musical rico, temperado, múltiplo, delicioso.
Um virginiano com ascendente em Sagitário que sabe ser difícil seu trilhar musical, mas não impossível, não capaz de pará-lo. “Nunca foi fácil ser artista no interior da Bahia, mas me entender como um trabalhador da música nos últimos meses tem me motivado a buscar caminhos e oportunidades para sobreviver”, conta à Ezatamag na entrevista a seguir:
Como tem ficado seu trabalho nestes tempos de pandemia?
Quando a pandemia começou, eu estava conciliando meus trabalhos com música com a advocacia e dando aulas em cursos de Direito. Apesar de estar celebrando 20 anos de carreira neste ano, foi somente na pandemia que eu criei forças para me dedicar exclusivamente à música pela primeira vez e abandonar os empregos que eu assumi nos últimos anos. Nunca foi fácil ser artista no interior da Bahia, mas me entender como um trabalhador da música nos últimos meses tem me motivado a buscar caminhos e oportunidades para sobreviver.
Apesar de estar celebrando 20 anos de carreira neste ano, foi somente na pandemia que eu criei forças para me dedicar exclusivamente à música pela primeira vez.
Você acha que inspira as pessoas? Como você tem recebido o retorno do público?
Acredito muito no poder transformador da representatividade e na arte que é criada com o compromisso de transformar a vida das pessoas, seja conquistando delas um aplauso ou uma vaia. Como comecei a cantar muito cedo, eu entendi ainda criança que nunca seria fácil ser um artista LGBTQIA+ no sertão da Bahia. E agora, revisitando essa criança, eu entendi que apesar de tudo, de toda violência e de todo trauma, eu nunca deixei de acreditar na arte que eu faço. Ser um artista livre por mostrar a minha verdade para as pessoas não me afasta de compromissos com o meu público e com a sociedade em que vivo e eu desejo ter sempre serenidade e inteligência para lidar com possíveis conflitos que envolvam as minhas ações e as expectativas das pessoas sobre mim e sobre o meu trabalho. Eu gosto muito quando as pessoas me retornam emocionadas com o trabalho. Eu me sinto verdadeiramente acolhido e esse retorno atua como combustível para continuar criando coisas.
Por que é importante fazer essa celebração da sua cultura, do sertão baiano?
Meu papel enquanto artista que é do sertão da Bahia e que vive aqui está em dar visibilidade às histórias do meu lugar, de nossa cultura e dessa forma de viver e fazer música que é muito própria dos artistas do sertão baiano. Celebrar o lugar de onde eu vim é também celebrar o meu pai Sebastião, cantor popular que já atraiu milhares de pessoas atrás de trios e festas de São João ao longo de mais de 35 anos de carreira e que não é conhecido na história do carnaval da Bahia. A Bahia do sertão de onde eu venho é uma Bahia abundante, um sertão que tem água, que tem mandioca, que tem umbu, que tem banho de barragem, mas que também tem Banda Me Leva, tem Sebastião e tem Waly Salomão. Eu cresci no meio dessas festas cantando ao lado de meu pai e a satisfação de me perceber parte de tudo isso não tem preço. Sinto que celebrar a cultura do meu lugar é abrir caminhos para que mais artistes do sertão tenham condições de sobreviver vivendo de nossa arte.
Meu papel enquanto artista que é do sertão da Bahia e que vive aqui está em dar visibilidade às histórias do meu lugar, de nossa cultura.
Quais artistes mais te inspiram e por que?
Meu pai é o artista que mais me inspirou ao longo da vida porque foi através dele que eu conheci muitos artistas importantes pra minha formação musical, como Gilberto Gil, Djavan, Elis Regina, Freddie Mercury, Michael Jackson, Celine Dion, Caetano e mais um bocado de gente boa. Para além disso, cresci ouvindo, cantando e dançando as músicas do carnaval da Bahia e Ivete, Margareth, Daniela e Claudinha sempre foram uma inspiração pro meu trabalho, assim como a Lady Gaga, Joelma e Mariah Carey. Na época da faculdade, comecei a pesquisar sobre música brasileira e a ouvir discografias importantes. Foi quando me apaixonei ainda mais por Gilberto Gil, Caetano, João Bosco, Aldir Blanc, Waly, Milton, Guinga, e eles se tornaram uma grande inspiração enquanto compositores. Mas nunca deixei de acompanhar as novidades do mundo pop e também sou impactado com a força de Anitta, de Lil Nas X, Pabllo Vittar e Billie Eillish. Gosto de me inspirar em artistes que possuem uma trajetória que me representa de alguma forma e tive uma formação musical bastante democrática.
Qual é seu maior sonho?
Atualmente, meu maior sonho tem sido levar a música do sertão da Bahia para o mundo inteiro conhecer e ver mais artistes daqui conquistando espaços e reconhecimento. Quero poder apresentar as histórias da minha gente pra mais pessoas e acredito muito na força que o sertão da Bahia tem de colaborar com a cena musical de nosso Estado. O reconhecimento pode mudar a vida do artiste e consequentemente do lugar onde vive e eu acredito muito na cultura enquanto uma ferramenta de transformação social.