Retorno ao passado e o uso de diversos elementos faz com que ‘”Má Educação'” seja para Almodóvar uma obra autorreferencial
Por Eduardo de Assumpção*
“Má Educação” (La Mala Educación, Espanha, 2004) Ao som de uma música dramática, o início do filme mostra um quadro negro ao fundo com desenhos obscenos, sobreposto a isso estão imagens tipicamente católicas com santos e Jesus Cristo. Junto dessas imagens, símbolos que remetem a homossexualidade, drogas, catolicismo e violência.
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Após o crédito de Direção e Roteiro para Pedro Almodóvar, a imagem se transforma em Direção e Roteiro: Enrique Goded. Este é o nome do personagem cineasta do filme, interpretado por Fele Martinez. O diretor está em seu escritório com uma tesoura na mão lendo notícias de um jornal e fazendo recortes daquelas que poderiam vir a tornar-se um filme.
Quando Gael García Bernal adentra o escritório se apresenta como Ignacio, aquele que na infância foi apaixonado e correspondido por Enrique. Ao cineasta ele diz ser ator e apresenta ainda um relato chamado ‘La Visita’, baseado na infância dos dois. Ignacio vai embora e Enrique se põe a ler o roteiro. Somos remetidos então aos anos 70, época em que a história se passa.
O cenário mostra o submundo trans onde Paquita(Javier Cámara) se apresenta e chama pelo show de Zahara. No dia seguinte, Zahara vai chantagear o Padre Manolo, de quem sofria abusos na infância. Voltamos mais ao passado e o menino resiste aos abusos do padre, corre e cai no chão, sua testa sangra e sua cara, simbolicamente, se divide em duas partes onde no meio aparece a fisionomia do padre.
Logo depois se insere na história o amor entre os dois meninos: Ignacio e Enrique. Ambos estudam no mesmo colégio e se submetem aos métodos ditatoriais da escola. Enrique Goded, o cineasta decide então filmar ‘La Visita’. É aí que descobrimos que as imagens antes mostradas, se tratam do filme dentro do filme.
O suposto Ignacio passa então a brigar pelo papel principal de Zahara. Tal retorno ao passado e o uso de diversos elementos faz com que ‘Má Educação’ seja para Pedro Almodóvar uma obra autorreferencial. Ele visita o passado dos tempos de Sara Montiel e o colégio de padres, além de ter como protagonista, semelhante em ‘A Lei do Desejo(1987)’ um diretor de cinema homossexual.
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*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com
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