Átila usa a tecnologia da edição de fotos para construir imagens-discurso de empoderamento e justiça  

“Empoderamento, justiça, coisas que não devem ser esquecidas” são o tripé da criação do baiano Átila para produzir imagens que dispensam legenda, mas necessitam de um bom fôlego para serem vistas. Ele usa a tecnologia da edição de fotos para transformar sonhos em realidade, levantar discussões, ocupar espaços e contar narrativas de força, coragem, representatividade. 

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Na casa dos 30 anos e morando em Feira de Santana (BA), Átila é um pisciano nato, tem na empatia e na sensibilidade guias da vida, refletindo em uma voz simpática, um riso solto e um discurso forte contra o racismo, a LGBTfobia, o negacionismo e tantos outros problemas que ainda persistem mesmo em um novo mundo que vem surgindo – e no qual, acredita ele, ainda será necessária muita luta.  

“Infelizmente, mesmo com a pandemia, ainda tem gente tentando dar golpe nas pessoas, justo neste tempo onde o dinheiro está difícil. Tem gente quebrando quarentena e não está nem aí para o próximo. A gente chegou a um pico de uma tragédia e não mexeu com o coração de muitas pessoas, a grande maioria é muito egoísta”, conta à Ezatamag na entrevista a seguir: 

Como tem ficado seu trabalho nestes tempos de pandemia? 

Para mim foi extremamente positivo. Eu tive um retorno muito bom porque, como eu trabalho com edição de imagem, as pessoas, os modelos, por exemplo, não podiam se juntar em um estúdio para fazer as imagens por conta justamente da pandemia. Então o modelo tirava uma foto em algum estúdio e eu acabava colocando ele na imagem que a empresa pedia. Então eu tive uma produção muito grande com isso, só tirei coisas positivas com relação ao trabalho nesta pandemia. 

Átila: a arte é política. É impossível não ser. Sempre vai ter política na arte

É impossível não falar de política no seu trabalho. É preciso discutir, levantar pautas com a arte? 

Mas a arte é política. É impossível não ser. Sempre vai ter política na arte. É que algumas pessoas não conseguem identificar, mas sempre a arte vai estar protestando, levantando a bandeira de alguma coisa. Eu acho que está completamente ligado, não tem como você produzir sem representar algo, e isso é muito importante. É uma forma mais rápida de chegar às pessoas. Pode ser que elas não identifiquem logo de primeira, mas a partir do momento em que elas vão olhando, analisando, vão conseguindo captar a ideia. 

Como você acha que sua arte faz diferença na vida das pessoas?  

Eu recebo alguns feedbacks de gente que fala “nossa, como é legal. Eu me vejo na sua arte”. Principalmente quando eu faço alguma coisa de herói e uso pessoas pretas, porque a gente tem essa falta de heróis pretos no Cinema. Então sempre tento fazer. Alguém da galera LGBT também. O que eu recebo de volta na maioria das vezes é a mãe de uma criança que fala “nossa, meu filho viu uma arte sua e vamos fazer um tema de aniversário com ela”. Tem uma da Cinderela em que eu coloquei a Iza, por exemplo. Só em relação à política que às vezes tem aqueles bolsominions bizarros, aí tudo que eles falam a gente não pode levar para o coração. 

Qual a mensagem do seu trabalho, o que você quer passar com essas imagens? 

Empoderamento, na maioria das vezes. Empoderamento, justiça, coisas que não devem ser esquecidas, como aqueles três meninos de Belford Roxo que desapareceram e que a mídia já não falava mais. Eu tento sempre estar atento às coisas que estão acontecendo. Quero chamar atenção para alguma coisa que não está mais na mídia. Mas com essa base, levar empoderamento, justiça sobre o que eu acredito.  

Quero chamar atenção para alguma coisa que não está mais na mídia. Mas com essa base, levar empoderamento, justiça sobre o que eu acredito.

 

Como você acha que o mundo será no pós-pandemia?  

Eu fico meio com o pé atrás porque seria uma época em que deveria todo mundo estar se unindo. Porque independente da sua classe social, da sua cor, da sua raça, da sua crença, a pandemia atingiu todo mundo. Infelizmente, mesmo com a pandemia, ainda tem gente tentando dar golpe nas pessoas, justo neste tempo onde o dinheiro está difícil. Tem gente quebrando quarentena e não está nem aí para o próximo. A gente chegou a um pico de uma tragédia e não mexeu com o coração de muitas pessoas, a grande maioria é muito egoísta. 

E você tem um conselho para quem está começando?  

Tem muita gente que manda mensagem dizendo que está começando ou já faz há algum tempo e não tem retorno financeiro. Eu falo para não desistir. Se você acredita na sua arte, continue firme porque uma hora vai acontecer. Pode não ser nesta semana, neste mês, mas uma hora acontece. Quando você faz por amor, se você faz gostando, não faz só por like, faz com sentimento, acontece. Eu faço porque eu quero transmitir algo, tem dias em que eu não posto nada porque não vou postar qualquer coisa só para dar likes.  

A gente chegou a um pico de uma tragédia e não mexeu com o coração de muitas pessoas, a grande maioria é muito egoísta.

 

Agora me conta qual é o seu maior sonho! 

Eu acredito que eu já estou vivendo um sonho. Só em ter minha arte reconhecida por algumas pessoas, de uma galera gostar do que faço… Porque tudo começou do nada e eu nunca imaginei que isso ia acontecer, nunca na minha mente passou que um dia eu ia comercializar uma arte minha, que eu ia fazer arte para uma empresa, um artista. Isso já aconteceu e eu recebi por isso. Já que tudo isso aconteceu e como sonhar não custa nada, meu objetivo ainda é fazer alguma coisa para a Rihanna porque foi graças a ela que tudo começou. Ela já viu e curtiu duas artes minhas há muito tempo. Meu maior sonho é este. É disso que eu vou atrás.