Você é privilegiade só por poder ler este título em tempos tão difíceis! 

Ler este texto é um privilégio que, somente no Brasil, 11 milhões de pessoas não têm – são analfabetas, segundo o Ministério da Educação. Ler um texto online também é privilégio porque 25% da população não têm acesso à internet. De qualquer maneira, se você está lendo é porque está vivo, e hoje em dia a nossa vida com certeza, de uma vez por todas, se tornou nosso bem maior.  

E se você já formou alguma opinião com essas linhas iniciais, ainda mais privilégios tem por ter senso crítico em um mundo assombrado por absurdos como movimento anti-vacina, gente que não usa máscara contra a Covid e aquela triste parcela do eleitorado que ainda apoia você sabe quem, aquele lá, inominável.  

Sim. É um texto otimista porque é vital ter uma gota de otimismo neste oceano de desastres. Todos os dias acordamos com cinquenta bigornas caindo na cabeça, igual em desenho animado. E isso vai cansando, vai gerando sentimentos, provocando males da alma como ansiedade e depressão. Uma boa maneira de equilibrar é fazer um reconhecimento de campo aí mesmo, do seu lado. 

Primeiro, você respira, tem saúde. Sabe ler, tem um celular ou computador e saúde para enfrentar bigornas, ondas, vendavais e terremotos. Somente nestes primeiros 23 dias de março, 101 pessoas morreram na fila de espera por um leito de UTI no Estado de São Paulo – sem chance de serem pelo menos internadas. Você não é uma delas. 

Ler este texto é um privilégio que, somente no Brasil, 11 milhões de pessoas não têm – são analfabetas, segundo o Ministério da Educação. Ler um texto online também é privilégio porque 25% da população não têm acesso à internet.

E depois de um ano neste sistema doido, inesperado, que quebra a gente ao meio para desafiar uma reconstrução, depois de um ano eu entendi que a gente não pode se sentir culpado por querer estar bem mesmo com tantas mortes. A gente não pode se culpar por estar bem em alguns momentos – estar bem sempre, nesta época, hum, aí sim é um problema porque quem não se comove com os acontecimentos não entendeu nada. 

É claro que para chegar a esta conclusão eu falei com a minha terapeuta. Maravilhosa, espiritualizada, sabe que eu também sou e já jogou um “quem conseguir vibrar positivo tem que vibrar. Imagina se só tiver vibração negativa?”. Bingo! Vibrar positivamente é torcer, é sorrir, é agradecer todos os dias a Buda, Shiva, Jesus, Oxalá, todo mundo, por estar com vida.  

Quase 300 mil pessoas no Brasil não têm mais esta chance por causa da pandemia. Pelo menos 15 milhões de brasileires estão desempregados e dependem de um auxílio dos governos que mal dá para chegar ao mercado – isso quando essas pessoas, verdadeiras heroínas, conseguem superar a corrida de obstáculos para ter seu pedido aprovado. 

Então sorria porque a Psicologia também já provou que faz bem para a saúde. Use máscara, álcool gel e mantenha distanciamento social, mas esforce-se para sorrir como se fosse um remédio que você está tomando. E quando você se sentir forte o bastante, faça outra pessoa sorrir – igual no curta francês de Christine Rabette ali em cima. É deste contágio que precisamos. 

Coloca essa cabeça para cima senão a coroa cai, princesa. Nós LGBT, por toda a História da humanidade, enfrentamos desafios e sobrevivemos. Fazemos festas coloridas e alegres, lutamos por nossos direitos com garra e vontade. Tudo que nós fizemos foi para sorrir. 

Sorria!