Coletivo potiguar leva para o RJ criações sobre a obra de Stella do Patrocínio e a invisibilização e o silenciamento

Pela primeira vez em solo carioca, o Coletivo Cida (Coletivo Independente Dependente de Artistas), do Rio Grande do Norte, apresentará os premiados espetáculos de dança contemporânea “Corpos Turvos” e “Reino dos Bichos e dos Animais, Esse é o Meu Nome”, a partir de 1 de junho, de quinta a domingo, às 20h, na Arena do Sesc Copacabana, RJ. A curta temporada vai até o dia 11.

Leia também:

Musical “Brenda Lee e o Palácio das Princesas” pode ser visto no YouTube de graça

Websérie documental ‘LGBT+ 60: Corpos que Resistem’ terá segunda temporada

Ezatamag investiga a Inteligência Artificial – que cresce, aparece e faz questionar: sucumbiremos?

As duas obras serão encenadas em sequência e fazem parte de uma trilogia em dança-tragédia desenvolvida pelo grupo e coreografada por René Loui. “Corpos Turvos” usa a linguagem da dança para trazer reflexões sobre a invisibilização e o silenciamento de corpos pretos, pobres, periféricos, LGBTQIAPN+, de pessoas com deficiência e outros corpos fora dos padrões. Já “Reino dos Bichos e dos Animais, Esse é o Meu Nome” tem como ponto de partida a obra de Stella do Patrocínio, mulher preta que viveu por quase 30 anos, sequestrada em ambiente manicomial.

As montagens têm interlocução dramatúrgica de Jussara Belchior e elenco formado por: Ana Cláudia Viana, Jânia Santos, Marconi Araujo, Pablo Vieira e Rozeane Oliveira, além de René Loui. Todas as sessões terão audiodescrição e interpretação em LIBRAS.

A temporada no Sesc Copacabana é impulsionada pelo Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar e os espetáculos são vencedores dos prêmios: Prêmio Funarte – Dança Acessível – Acessibilidança 2021; Prêmio Sesc de Artes Cênicas 2022; e do Prêmio Funarte de Estímulo ao Teatro 2022, que possibilitou a realização da terceira parte da trilogia, “Insanos e Beija-Flores a Dois Metros do Chão”.

“Corpos Turvos”: obra questiona a exclusão e a marginalização de corpos dissidentes na nossa sociedade

O primeiro espetáculo apresentado é “Corpos Turvos”, uma obra impactante que, por meio da dança, propõe discussões sobre a estigmatização, desumanização, invisibilização e extermínio de corpos que estão à margem. A montagem foi desenvolvida a partir de uma residência artística do coreógrafo René Loui em Odisha Biennale, na Índia, e foi inicialmente pensada como um espetáculo solo, no entanto, René entendeu que investigar apenas o seu corpo não alcançaria a mensagem que queria transmitir.

“Transpor para a cena questões tão emergenciais é sempre desafiador.”

“Cada um dos intérpretes fala, dança, vive, grita, respinga suas próprias histórias e suas mais íntimas verdades. Colocam em cena suas identidades, singularidades e alteridades. Representamos, mesmo que sem a necessidade de representação, inúmeros outros corpos silenciados, violentados e exterminados. Carregamos conosco diversos e distintos universos identitários”, revela Arthur Moura, produtor do Coletivo CIDA.

“Corpos Turvos” é, assim, uma espécie de “obra-grito” que evidencia a voz de pessoas que não existem aos olhos das sociedades modernas. As coreografias foram pensadas para incluir todos os corpos, incluindo os de pessoas com deficiência.

“Transpor para a cena questões tão emergenciais é sempre desafiador, principalmente pelo fato de que a sociedade, na maioria das vezes, se nega à percepção dessas múltiplas realidades”, completa Arthur.

“Reino dos Bichos”: uma investigação cênica sobre a essência da obra de Stella do Patrocínio

Já “Reino dos Bichos e dos Animais, Esse é o Meu Nome” se aprofunda nos múltiplos universos e vivências de Stella do Patrocínio, poeta negra que foi “psiquiatrizada” por quase 30 anos. Suas poesias revelam as agruras de um corpo preto em cárcere e são essas palavras que permeiam a montagem, aliadas à singularidade de cada um dos dançarinos.

“O espetáculo apresenta – fugindo da espetacularização – a vida dessa mulher e, por meio das vivências de cada um dos artistas em cena, as reais dores e violências que nossos corpos carregam, ainda que silenciosamente”, explica René Loui.

Cada um dos intérpretes fala, dança, vive, grita, respinga suas próprias histórias e suas mais íntimas verdades

Usando Stella como base, a avassaladora obra vem questionar o preconceito e a violência enfrentados por esses grupos sociais, historicamente marginalizados e excluídos, abordando também o ambiente manicomial. As palavras de Stella são mobilizadoras diretas das imagens coreográficas de “Reino dos Bichos”.

“‘Reino’ não é uma obra sobre Stella, mas sim, para Stella. Não buscamos representar as dores e as violências impetradas sobre o seu corpo, ao contrário, nos apegamos às nossas árduas existências, para desenvolver – paralelamente – aproximações e distanciamentos para com os universos de Stella. O espetáculo é um contínuo grito no escuro, na expectativa que nossas existências não sejam mais invisibilizadas”, conclui o coreógrafo, idealizador e diretor artístico, René Loui.

Temporada Carioca do Cida: 1 a 11 de junho, de quinta a domingo, às 20h

Arena do Sesc Copacabana: Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana, Rio de Janeiro – RJ

R$ 7,50 (associado do Sesc), R$ 15 (meia-entrada), R$ 30 (inteira)

Classificação indicativa: 18 anos

Duração: 80 minutos

Fotos: Brunno Martins