“Como Matar a Besta” é um filme de fronteiras: entre realidade e fantasia, entre a busca por pertencimento e medos
Por Eduardo de Assumpção*
“Como Matar a Besta” (Matar a la Bestia, Argentina/Brasil, 2021) Uma viagem à fronteira, a exploração do desejo sexual mais profundo, as feridas abertas de uma família desfeita e o mistério são os componentes que definem o universo narrativo de ‘Como Matar a Besta’, estreia da diretora Agustina San Martín. Emilia (Tamara Rocca), 17, decide viajar para uma cidade perdida na fronteira entre Argentina e Brasil.
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A morte recente de sua mãe a leva a reconstruir o vínculo com seu irmão, explorar as raízes familiares e buscar um sentimento de pertencimento em meio à sua adolescência efervescente. O trabalho é bem sucedido na construção da atmosfera: a paisagem da selva, a umidade opressiva, o nevoeiro espesso e o aparecimento de um animal misterioso são elementos centrais de uma incrível composição visual e sonora . Nesse sentido, é importante valorizar o grande trabalho fotográfico de Constanza Sandoval.
Os contrastes de iluminação em tons claros-escuros e uma paleta de cores harmoniosa que se reflete na seleção dos figurinos e na ambientação visual dos ambientes apresentam um grande precisão estética e grande esforço na composição de cada quadro.
Dentro da comunidade encontramos vários tópicos narrativos: uma forte influência da igreja evangélica com sua liderança pastoral clássica na cidade, jovens buscando uma atuação mais intensa diante de tanta calma diária e relações familiares rompidas por um passado turbulento. Agustina San Martín constrói suas personagens femininas com uma forte marca de caráter e liberdade. E o faz também na perspectiva das relações afetivo-sexuais que Emília estabelece com um grupo de jovens.
‘Como Matar a Besta’ é um filme de fronteiras: não só porque reflete a vida marginal de um povo perdido na passagem de um país para outro, mas também porque narra a fronteira entre adolescência e vida adulta, entre realidade e fantasia, entre a busca por pertencimento e medos. O devaneio se combina com o terror em meio ao despertar sexual de uma adolescente, que se descobre sem realmente se procurar.
Nessa ideia estética de misturar o onírico com o aterrorizante, o cotidiano e o anódino se tornam extraordinários.
*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com
Instagram: @cinematografiaqueer
Twitter: @eduardoirib