“Poker Face” mostra mulheres que não têm escolha a não ser abraçar sua alteridade com um toque sarcástico
Por Eduardo de Assumpção*
“Poker Face” (EUA, 2023) Rian Johnson claramente sabe como escrever um ‘quem matou?’ suculento. Depois de reviver o subgênero com ‘Knives Out’ e ‘Glass Onion’, ele inverte a estrutura em ‘Poker Face’, série da Peacock, de 10 episódios. A atração começa no Frost Casino, em Las Vegas, onde Charlie (Natasha Lyonne) investiga o aparente assassinato de sua boa amiga e colega de trabalho, Natalie (Dascha Polanco).
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O novo gerente do cassino, Jr. (Adrien Brody), a manipula para usar sua habilidade de identificar mentiras para ajudá-lo a ganhar ilegalmente um jogo de pôquer. Mas seu polígrafo interno não para de pingar, e no final do episódio, Charlie está fugindo do cassino e de seu segurança Cliff (Benjamin Bratt). Cada mistério da semana começa e revela um culpado.
A diversão é assistir a detetive amadora Charlie Cale , que tem um talento nato para identificar mentiras, juntar as peças do quebra-cabeça, usando sua própria frase de efeito: “Bullshit!” Lyonne agracia a telinha com sua voz rouca fumante, franja ruiva e senso de humor sarcástico. Truques familiares, mas adoráveis, em sua coleção de personagens afetados.
Se há uma coisa que a atriz faz de melhor – algo que ela provou desde o momento em que estrelou ‘Nunca fui Santa(1999)’, é interpretar personagens queer. Como sua heroína, os criminosos de ‘Poker Face’ são pessoas comuns com problemas complexos. Impulsionados pela ganância, solidão, inveja ou desespero. Eles também são perfeitos para uma aspirante a detetive em fuga, que muitas vezes lembra os perpetradores de que ela não é policial.
Reconfortante é a lista de estrelas convidadas do show, algumas das quais estão ligadas a Lyonne, como sua melhor amiga, Chloë Sevigny ou Clea Duvall, e outras que ainda nos agraciaram com performances incríveis, como Joseph Gordon-Levitt, Stephanie Hsu e Nick Nolte.
Lyonne costuma parecer comicamente desorientada e cronicamente desconcertada em seu ambiente com um charme que é exclusivamente dela. ‘Poker Face’ capitaliza totalmente o tipo da atriz: mulheres à margem da sociedade que não têm escolha a não ser abraçar sua alteridade com um toque sarcástico, roupas assumidamente peculiares e coragem.
*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com
Instagram: @cinematografiaqueer
Twitter: @eduardoirib