Other Colours quebra padrões estéticos da fotografia para as pessoas serem elas mesmas

O projeto Other Colours surgiu há três anos como um grito de libertação da ideia de que fotos de corpos bonitos seguem necessariamente o imposto padrão, renascentista, eurocêntrico, excludente. O fotógrafo Janssem Cardoso, de São Paulo, usa o Instagram @other_colours para espalhar ao mundo uma mensagem de autoaceitação, de que todo mundo que se ama é lindo e ponto final. No dia 26 de outubro a iniciativa comemora três anos com festa na capital paulista.

“Percebi que precisava fotografar e democratizar o nu no meu projeto, com questionamentos pessoais que foram surgindo percebi a necessidade de dar espaço a todo tipo de corpo. Percebi com o tempo que quanto mais expomos o diferente mais aceito ele vai ser”, explica.

Na entrevista abaixo ele conta melhor como surgiu a ideia e o que o projeto somou na vida dele. “Hoje tenho mais empatia pelas pessoas justamente por isso, fui entendendo o quanto é difícil e doentio excluir quem não se inclui num padrão.”

O que é o Other Colours? Como nasceu essa ideia?

Other Colours é sobre pessoas, sobre o que elas são de fato na sua essência, sem as armaduras adquiridas durante a vida. A roupa é uma representação do que ela está se despindo, se aceitando, expondo um trauma e etc. O projeto é uma tentativa de mostrar copos diferente e o nu de outra forma. A ideia surgiu com minha vontade de fazer nu, mas desde o início queria tentar fazer de uma forma diferente e com o tempo fui percebendo que precisava fotografar todos os tipos de corpos e que aí estaria o caminho que o projeto iria tomar.

De onde vem a vontade de retratar o humano? Sempre foi o foco do seu trabalho?

Com a fotografia sempre me interessei por retratos, então sou uma pessoa interessada nas histórias de cada um. Com o outro aprendo, me identifico e me entendo.

Other Colours é sobre pessoas, sobre o que elas são de fato na sua essência, sem as armaduras adquiridas durante a vida. A roupa é uma representação do que ela está se despindo, se aceitando, expondo um trauma.

Como você seleciona as pessoas que serão fotografadas?

Ao longo dos três anos o projeto foi mudando, de início chamava as pessoas que me interessavam visualmente, sempre pessoas com personalidade me chamaram atenção, sempre acho que essas pessoas têm algo a dizer. Com o tempo fui percebendo que precisava chamar outras pessoas, de idades, classes e gêneros diferentes e hoje, com o projeto já bem estruturado e com uma personalidade, está aberto a qualquer um que queira participar e ajude no custo do ensaio.

Por que investir na diversidade dxs modelos? O que você quer transmitir ao unir tantas pessoas diferentes em um projeto?

Percebi que precisava fotografar e democratizar o nu no meu projeto, com questionamentos pessoais que foram surgindo percebi a necessidade de dar espaço a todo tipo de corpo. Percebi com o tempo que quanto mais expomos o diferente mais aceito ele vai ser. Hoje tenho mais empatia pelas pessoas justamente por isso, fui entendendo o quanto é difícil e doentio excluir quem não se inclui num padrão.

É uma iniciativa que incentiva a aceitação de si como se é, longe de padrões e discursos. Qual a importância de fomentar a autoaceitação hoje em dia?

Com a autoaceitação a gente percebe que nada e nem ninguém deve nos impedir de nos amar, nos privar de experiencias simples como ir à praia e não usar uma roupa de banho ou evitar determinado tipo de roupa porque não nos enquadramos. Autoaceitação é a libertação do que o outro vai pensar, de que não preciso me enquadrar em nada. Ser feliz como se é e valorizar as diferenças.

Percebi com o tempo que quanto mais expomos o diferente mais aceito ele vai ser. Hoje tenho mais empatia pelas pessoas justamente por isso.

Todo mundo é lindo?

Todo mundo que se ama, se aceita e não se importa com a opinião alheia se torna mais bonito, ele passar a sorrir mais, a atitude do corpo muda, a beleza é uma questão de dentro para fora.

Como seria uma foto do momento atual do Brasil? Estamos com o filme queimado?

A mesma de 500 anos atrás, com personagens diferentes.