Por Toni Reis*
Lá na minha cidade no interior do Paraná, por uma estratégia para me livrar de ter que casar com uma mulher, decidi ser padre. Graças a Deus, fui convidado a sair da escola dominical! Ainda adolescente, me mudei para Curitiba. Consegui estudar Letras na Universidade Federal do Paraná (UFPR), inclusive com uma base de vários idiomas modernos.
Assim que me formei, fui morar na Europa, primeiro na Espanha, depois na Itália, uma passagem pela França e dois anos na Inglaterra, onde encontrei meu amor, com quem vivo há 29 anos. Quando encontrei David na estação de metrô Highgate Station em Londres, Falei de supetão, “You’ll be my husband forever” (você será meu marido para sempre).
Flertamos, namoramos e casamos (pelo menos 10 vezes!), até que conseguimos “sujar os papéis”, como dizia minha mãe, com uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Sempre no meu inconsciente eu queria ser pai, desde a minha adolescência/juventude. No mercado eu amava ver casais passando vergonha com crianças birrentas. Eu pensava comigo mesmo: “quero isso para mim”. Anos depois, em 2000, tomamos a decisão de adotar, e em 2005 demos entrada nos papéis.
Foram anos de luta judicial até que o STF nos deu ganho de causa. Mas conseguimos adotar em conjunto dois filhos e uma filha, hoje com 18, 14 e 16 anos, respectivamente.
Ser pai foi mais que um desejo atávico, um sonho de ambos, uma experiência inarrável numa lauda de papel. Foi a realização de um sonho, de um projeto. Um processo lindo de aprendizagem e de desapego.
Ser pai é realmente padecer no paraíso, ver seus filhos e suas filhas aprendendo e desaprendendo sobre amor, autonomia, felicidade e vida.
Como diz a música de Almir Sater, parafraseando, cada um tem o dom de construir a sua própria história e ser feliz. Para algumas pessoas, ser feliz é ser famoso, bonito e rico. Para mim, é ser eu mesmo.
*Toni Reis é pós-doutor em Educação, presidente da Aliança Nacional LGBTI+, pai de Alyson, Jéssica e Filipe e marido do David