Casal de Santos cria projeto de voz e visibilidade para combater a transfobia com informação e diálogo

O Transceda é uma iniciativa criada na Baixada Santista para dar voz e visibilidade à população trans. Mas é também um dos vários bons frutos do relacionamento entre Bryan Henrique e Raphaella Gomez, de Santos (SP). Ambos trans, sentiam a necessidade de ocupar espaços, serem ouvidos e informar as pessoas contra o preconceito, a melhor forma de construir uma sociedade melhor.

O projeto cultural tem como objetivo realizar eventos e palestras cheios de arte, educação, cultura e respeito, ingrediente principal nas iniciativas na sede deles, no Projeto Social Tia Egle, na comunidade da Zona Noroeste, em Santos (Rua Ambrosina A. C. Tolentino, 45). Em tempos de isolamento social, as iniciativas estão sendo feitas nas redes sociais.

E o poder das redes é determinante nesta construção. Bryan e Raphaella apostam forte no Instagram para fazer posts de conscientização com temas como, por exemplo, como pessoas cis podem ajudar na luta trans. Um trabalho que gerou o convite para participar de documentário contando mais da história do casal e agora migra também para o YouTube, com vídeos semanais dessas lindezas.

O primeiro deles já está no ar e vem com o título “Quem Somos Nós”. “Nosso maior foco é dar informação sobre a comunidade e sempre reforçando essa rede de apoio que precisamos ter. O papel das redes sociais é fundamental não só para o alcance que podemos ter a vários corpos, mas chegando a vários públicos, e também podendo dar mais representatividade e apoio aos jovens LGBTQIA+”, conta o casal na entrevista a seguir.

Como nasceu o projeto? Já tem quanto tempo?

Transceda foi criado pelo casal trans Bryan Henrique e Raphaella Gomez, que, além de ter sido feito por conta do relacionamento, nasceu da nossa vontade de dar voz e visibilidade à comunidade LGBTQIA e à população trans da Baixada Santista. O projeto já existe há um ano e meio.

Quais são os objetivos de vocês? Qual o papel das redes sociais neste caminho?

Nosso maior foco é dar informação sobre a comunidade e sempre reforçando essa rede de apoio que precisamos ter. O papel das redes sociais é fundamental não só para o alcance que podemos ter a vários corpos, mas chegando a vários públicos, e também podendo dar mais representatividade e apoio aos jovens LGBTQIA+.

Vocês acreditam que é importante que iniciativas como a de vocês brotem pelo Brasil? Por quê?

Siim, com certeza! Porque precisamos de protagonismo dos nossos corpos ocupando esse lugar de liderança, podendo assim colocar nossos corpos em evidência e dando voz a outros corpos.

O papel das redes sociais é fundamental não só para o alcance que podemos ter a vários corpos, mas chegando a vários públicos, e também podendo dar mais representatividade e apoio aos jovens LGBTQIA+.

Informar ainda é a melhor forma de mostrar nossa realidade para quem não é LGBT?

Com certeza! Acreditamos que a falta de informação é a causa do preconceito, estamos aqui para informar quem quer ser informado. Tirando nossos corpos da marginalização e de objeto de pesquisa, e nos colocando como portadores da fala. Lembrando que é importante o papel do cis-hétero aliado nessa luta porque seu silêncio apaga muitos corpos LGBTQIA+.

Como surgiu a ideia do documentário? Como foi fazê-lo?

Recebemos um convite de um estudante de Jornalismo da cidade, que estava com projeto de TCC sobre corpos trans. Foi um processo incrível de troca e de mostrar a pluralidade dos corpos trans.

Na Baixada Santista ainda há muito preconceito? Como vocês têm sentido essa realidade aí?

A Baixada Santista ainda é uma cidade que na sua maioria ainda é constituída por pessoas da classe média alta e na maioria idosos, ainda há muito retrocesso e resistência negativa quando se fala de diversidade. Porém, encontramos muito círculo de apoio dentro do ativismo LGBTQIA+ e estudantil.

Eu vi um post sobre aliados cis, qual a importância do diálogo para o nosso movimento?

Ter trocas com esse público é extremamente importante, porque a transfobia vem das pessoas cis e de um sistema cis-normativo, por isso é importantíssimo essa escuta das pessoas cis sobre a nossa causa. Falamos muito sobre a importância de pessoas cis na luta contra a transfobia, educar outras pessoas cis sobre os corpos trans, dar oportunidade de acesso às pessoas trans aos lugares, etc…

Em tempos de pandemia, quais as dicas para manter a cabeça saudável?

Em tempos de pandemia levar as emoções com leveza é o principal conselho que temos, por que sabemos que a realidade da maioria das pessoas LGBTQIA+ não é saudável dentro de casa. Também estamos sempre abertes e dispostes a dar esse círculo de apoio a todes nesse momento de pandemia.

Ter trocas com esse público é extremamente importante, porque a transfobia vem das pessoas cis e de um sistema cis-normativo, por isso é importantíssimo essa escuta das pessoas cis sobre a nossa causa.

Qual recado vocês podem dar para as pessoas trans que estão em transição, enfrentando desafios?

O primeiro passo é o autoconhecimento e nunca esquecer que o processo de aceitação e de desconstrução é um processo contínuo. É importante respeitar nossos limites e procurar estar perto de pessoas iguais a nós. Representatividade e círculo de apoio é tudo.

Instagram @transceda_