Loja colaborativa une talentos de pessoas trans para recolocá-las no mercado de trabalho

Fernanda Kawani Custodio e Guttervil Guttervil formam uma dupla de hackers do bem que quer invadir um espaço que é de todo mundo, mas ainda precisa ser conquistado. É apostando na colaboração para crescer, fortalecer e vender que decidiram montar uma loja colaborativa, a Transludica, que nasceu online, ganhou espaço físico em São Paulo e se prepara para ampliar seu espaço.

Um espaço físico, sim, mas também de resistência onde empregar pessoas trans significa recolocá-las em seu lugar na sociedade. “Se ainda falamos em uma população de 90% de travestis e mulheres trans na prostituição compulsória, empregar pessoas trans é muito importante”, contam à Ezatamag.

Com apenas um ano e dois meses de vida, a Transludica já conquistou público fiel, com uma grande demanda pelos binders e chamando a atenção de empreendedores de peso no programa de televisão “Shark Tank”, do Canal Sony. Primeiras pessoas trans no mundo todo a participar do programa, elas contam mais:

Como surgiu a ideia de montar a loja? Qual o objetivo?

Baseada na necessidade da inclusão dos nossos corpos trans no mercado de trabalho, surge a Transludica, a primeira loja colaborativa de pessoas trans do Brasil, que através da economia colaborativa nós compartilhamos os custos para manutenção do projeto e vendemos produtos feitos por pessoas trans.

Tubarões do Shark Tank morderam a isca da dupla

Há quanto tempo ela já existe? Como tem sido a recepção?

A Transludica como marca existe há um ano e dois meses, começamos fazendo pequenos bazares colaborativos, e em dezembro de 2018 abrimos a loja física. As pessoas em sua maioria ficam felizes em conhecer uma iniciativa como a nossa.

Por que lúdica?

A palavra Lúdica significa “tudo que se faz por prazer”, nós abrimos a loja não só para nós dois ganharmos dinheiro, mas também para incentivar o empreendedorismo trans.

Qual a diferença dela para as outras lojas colaborativas?

Somos a única loja de representatividade comercial, ou seja, “Nada de pink money” aqui, tem pessoas trans fomentando o comércio e vendendo produtos para pessoas trans e para todos os públicos

Como vocês selecionam os produtos? No que vocês pensam?

Não usamos critérios rigorosos, se tem um pessoa trans desempregada, e corre na 25 de Março e compra produtos, claro que iremos receber!! Mas não é o caso de nenhum de nossos colaboradores, todos têm trabalhos autorais: moda, artesanato, literatura, sex shop vegan e muito mais.

Somos a única loja de representatividade comercial, ou seja, “Nada de pink money” aqui, tem pessoas trans fomentando o comércio e vendendo produtos para pessoas trans e para todos os públicos.

Existe demanda para o público trans? Quais os produtos mais procurados?

Existe demanda de binders (uma faixa elástica que comprime os seios e diminui a disforia para homens trans e não-binários), vendemos em média 20 por mês. Ficamos muito felizes em atender essa necessidade porque antes o cliente não tinha a experiência de loja física para provar o produto, aumentando o custo e às vezes (como eles relatam) o tamanho era menor ou maior; todos os outros produtos vendemos uma média normal.

A loja acaba sendo mesmo que virtual, um espaço de resistência? Ela dá visibilidade à causa?

Somos além de uma loja virtual, temos uma loja física na Rua Augusta 1405, nosso espaço com certeza é um espaço de resistência, se ainda falamos em uma população de 90% de travestis e mulheres trans na prostituição compulsória, empregar pessoas trans é muito importante.

Por que a opção por fazer uma loja colaborativa?

A economia colaborativa é mais acessível para os microempreendedores, abrir um espaço físico no Brasil não é nada fácil, mais difícil é mantê-lo. Então quando se compartilha desses custos e fortalecemos aqueles que ainda estão começando, fortalecemos uma rede empreendedora de pessoas trans que é totalmente nova, e ser pioneira nesse segmento é muito gratificante.

Fortalecemos uma rede empreendedora de pessoas trans que é totalmente nova, e ser pioneira nesse segmento é muito gratificante.

O público trans tem sido cada vez mais considerado pelo mercado? Finalmente descobriram que trans também são consumidores?

Nós pessoas trans na sua maioria não temos o poder de compra ainda, esse poder está na mão branca, cisgênera, hétero, classe média. Estamos hackeando um sistema que historicamente nos evadiu dos espaços de trabalho para ter nossa independência financeira, a Transludica surge nesse momento com este objetivo.

Quais os projetos futuros da Transludica?

Recentemente participamos do SharkTank Brasil (Canal Sony), somos as primeiras pessoas trans a pisar nesse palco no mundo, este programa passa em mais de 14 países. Pescamos a sócia Camila Farani, que fez um investimento no nosso negócio, que em breve estará em um espaço maior e com mais serviços oferecidos para toda a população trans.

Instagram @transludica