Multiartista Tiely lança livro de poesia erótica trans preta para derrubar visões estabelecidas sobre os corpos
O ariano Tiely é um multiartista, paulistano que vem com tudo em seu mais novo livro, “Trans Corpo Ético” (Ciclo Contínuo Editorial). Na obra de 78 páginas ele faz uma “poesia erótica trans preta onde a essência é a origem da escrita de um corpo preto para tantos outros corpos, corpas e corpes”. Tiely nos convoca a ver os corpos por perspectivas outras. Como o próprio autor traduz sua obra: fogo em palavras pra te deixar em chamas!
Considerado o primeiro homem trans do Rap nacional, Tiely é membro da geração Hip Hop dos anos 90, foi produtor do grupo Fator Ético, da Aliança Negra Posse, com passagem por diversos projetos na área da música e do audiovisual, sempre pautando os debates de gênero e LGBTQIA+ no seio da cultura Hip Hop.
Na entrevista a seguir ele revela como a pandemia tem afetado seu trabalho, mas sabe reverter a situação. “Falta de oportunidade e espaço para desenvolver ações sempre foi uma realidade para mim. Ter que ser protagonista para poder realizar as próprias ações, pois sempre foi difícil fazer parte de atividades. A dificuldade sempre existiu, e mais depois que eu comecei a transição.”
Como tem ficado seu trabalho nestes tempos de pandemia?
Complicado, poucas intervenções e bem pontuais. Eu coordeno um Ponto de Cultura (@hiphopmulher) em São Miguel Paulista (SP). E tive que parar com todas as ações presenciais que iríamos realizar no ano passado e neste ano também. Estou aproveitando bastante o tempo para escrever, compor e redirecionar atividades para a internet!
Eu amei o projeto do livro. Como veio a inspiração para fazê-lo?
Eu sempre escrevi!! Posso me dividir em antes e depois da internet quando se fala de escritas. A inspiração vem de várias vivências, amores, dissabores, foras, romances e por aí vai. Vem de vários momentos e também do olhar, do observar a realidade que envolve as caminhadas enquanto pessoa que está descobrindo sua identidade de gênero, sua orientação sexual.
O que é uma “poesia erótica trans preta” e qual a importância dela?
É uma poesia onde a essência é a origem da escrita de um corpo preto para tantos outros corpos, corpas e corpes… independente de quaisquer referências de classe, raça e gênero. É minha alma criando para outras almas independente da carcaça. Escrevendo para todes, todas e todos como inspiração para ordenar minhas letras em poesias.
Você acha que inspira mais gente com seu exemplo?
Acho que sim, nós temos muitas potências artísticas esperando uma fagulha para incendiar várias produções em tantas outras áreas do fazer artístico. E quando nós percebemos essa efervescência na produção vinda de pessoas trans é fato que outres virão! E o resultado é real e volumoso, conseguimos perceber mais trabalhos sendo lançados e isso é incrível! Minha responsabilidade é de não parar de produzir. É não desistir e resistir, para seguirmos criando sempre mais e atingir o máximo de pessoas, mostrar que estamos vives, vivas e vivos e que somos capazes de ocupar todos espaços em quaisquer áreas.
Você enfrentou ou ainda enfrenta muitos obstáculos na sua trajetória pessoal por ser trans?
Sim!! Sempre… Falta de oportunidade e espaço para desenvolver ações sempre foi uma realidade para mim. Ter que ser protagonista para poder realizar as próprias ações, pois sempre foi difícil fazer parte de atividades. A dificuldade sempre existiu, e mais depois que eu comecei a transição. Mas é aquela máxima: “Fecha uma porta e abrem-se janelas.” E se não tiver janelas eu produzo uma pra poder avançar.
“É minha alma criando para outras almas independente da carcaça. Escrevendo para todes, todas e todos como inspiração para ordenar minhas letras em poesias.”
O que você pode dizer para quem está começando a trilhar este caminho em busca de si?
Acho que a confiança em alguém que acredita em você e fortalecer uma relação de acolhimento é essencial. Poder estar com alguém ou com pessoas que fortaleçam suas escolhas é muito importante. Buscar fazer o que gosta para construir uma vida, mesmo que seja aos poucos, com paciência e objetividade, ou seja, sem perder o foco! Derrubar os medos e buscar realizar os desejos, com tranquilidade e sem atropelos.
Você acredita que um novo mundo vem se desenhando para o pós-pandemia?
Acho que estamos em um momento de observar o que nós enquanto seres que estamos só de passagem por aqui vamos produzir de bom para quem vem depois. E tudo o que está acontecendo é uma resposta para aquilo que a população mundial vem plantando. Agora temos que ter o cuidado de trabalhar nossas vidas de forma a observar as nossas ações e as reações que esse novo mundo nos dará.
Qual o papel dos LGBT nele?
Creio que a união e o fortalecimento de uma coletividade são importantes para que não sejamos mais alvo de violências e afins. Nosso papel nesse espaço chamado mundo é e sempre será de ativar a coletividade e união. Pois somos alvo de várias violências e subtrações (até entre nós mesmos/as/es). Então, repartir, observar e perceber as necessidades do entorno, ajudar a quem precisa, fortalecer a nós poderá fazer uma grande diferença.
Quais os planos para o futuro?
Escrever mais, cantar mais, compor mais, atuar mais e praticar mais esportes (confesso que a pandemia me deixou na bad, pois praticar esportes é um dos meus momentos de coletividade e a pandemia não permite).
Agora me conta qual é o seu maior sonho!
Gostaria muito de voltar a ser chamado para atuar em alguma série, ou atuar em TV e Cinema. Eu amo muito tudo isso. 😉
Instagram @tielyqueen