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UM LUGAR PARA FLORESCER

Trans encontram apoio e compreensão em uma casa de acolhimento só delas

Uma casa no fim da rua com aspecto duro, fachada quadrada e sem adornos e múltiplas cores decorativas pode passar uma ideia de frieza, antipatia. Mas se você consegue entrar com olhos de empatia pode descobrir um coração pulsante, cheio de amor, carinho, compreensão e apoio na Casa Florescer, em São Paulo. O mesmo caminho deve ser traçado para quem quer, e todos devem, entender as 30 transexuais que buscam ali um lar.
São mulheres de variadas idades e infinitas histórias de vida que levam em comum a vontade de acertar, ou pelo menos não errar mais. A Casa Florescer é mantida pela Prefeitura de São Paulo e doações há três anos e meio para oferecer cama, mesa e banho com três refeições diárias, quartos coletivos e acompanhamento psicológico e de assistência social – além de atenção especial para a saúde das meninas e as necessidades de cada uma.

Dentro dessa fachada dura de frente a outro centro de acolhimento, masculino, elas encontram um coração que bombeia oportunidades de formação profissional e educação, busca por empregos longe da prostituição e dignidades como saídas episódicas para shows e teatro – um grupo fervido de amigas que, no fim da noite, agora tem casa, companheirismo e perspectiva de uma vida mais suave.

Quem cuida dessas esperançosas meninas é Alberto Silva, que milita há 22 anos pela causa e não esquece a importância da representatividade ao se colocar como homem cis gay militando pelas trans. Mas para ajudar a reconstruir a vida, tanto faz qual letra você é, desde que tenha boas intenções, é a ideia unânime dessas garotas, que adoram Alberto – um coordenador sim, mas também ombro amigo nas horas difíceis.

É esse companheirismo que faz da Casa Florescer um espaço de tolerância, compreensão e respeito pela vontade genuína de recomeçar. “Elas têm basicamente os mesmos dramas para enfrentar, por isso se unem, se ajudam, uma traz oportunidade para a outra porque sabe como faz diferença uma mão estendida. A gente mostra que aqui existe vida”, conta cheio de orgulho.

Elas têm basicamente os mesmos dramas para enfrentar, por isso se unem, se ajudam, uma traz oportunidade para a outra porque sabe como faz diferença uma mão estendida.

Existem ali várias vidas, todas humanamente recheadas com dores e delícias e ansiosas por ter sua plenitude como pessoa finalmente reconhecida. Um trabalho que busca envolver a vizinhança da Casa, com realização de eventos como festa junina, desfiles das produções das moradoras, sarau cultural e esporte com um time de vôlei que promete.

Uma parceria com o time Angels Vôlei vai deixar essas jogadoras ainda mais afinadas. Alberto conta realizado que a convivência com os vizinhos é boa, há respeito e empatia de quem mora perto da Florescer para entender o ser humano.

De dentro

Uma empatia que nem sempre as meninas encontram, inclusive, na própria comunidade. “Eu sempre sofri menos preconceito entre héteros do que com LGBT. As pessoas acham que todas as trans são iguais, todos os dias nós somos atacadas. Todas pagam porque algumas são maus exemplos”, desabafa Andrea Bessa, que aos 33 anos afirma com uma enorme convicção: “quero algo melhor para a minha vida”. Ela tem corrido atrás para não repetir o passado, quando foi expulsa de casa em Natal (RN) aos 14 anos ao se assumir – e como opção lhe sobrou a casa de uma cafetina.

Quem tem a chance de uma vida melhor a segura com caprichadas longas brancas unhas postiças como as que a manauara Tassia Bragança, 28 anos, coloca enquanto conta sua história em frente a um espelho de camarim colocado no segundo andar da casa. “A gente tem que mostrar a diferença. Estou agarrando todas as oportunidades com as duas mãos e quero também terminar o Ensino Médio porque muitos empregos exigem”, conta sobre a rotina nos últimos quatro meses fazendo cursos de corte e costura e maquiagem e uma formação em combate ao tráfico de pessoas.

Se tem gente que chega para ficar e gente que vai para nunca mais, a maringaense Isadora Messias, de 26 anos, busca sua retomada pela segunda vez se apoiando há um mês na Casa Florescer. Com uma vida que a empurrou a perigos inclusive de risco de morte, hoje ela abre um sorriso delicioso para iluminar um rosto de traços delicados.

Apresenta o espaço com propriedade, cumprimentando todo mundo que encontra e contando rapidamente um pouco da história de cada uma.
Nem tudo são flores, ela revela, e, algumas vezes, brigas entre as moças surgem – mas nada sério, apenas desentendimentos comuns em locais com mais de um ser humano. “Mas no geral a gente se apoia, a gente é amiga. Já tem tantas pessoas lá fora querendo agredir a gente. Temos que nos unir.”
Concordamos.

Mas no geral a gente se apoia, a gente é amiga. Já tem tantas pessoas lá fora querendo agredir a gente. Temos que nos unir.”

Casa Florescer

Redação

Redação Ezatamentchy

3 Comments
  1. Márcia Silvério de Carvalho

    21/08/2019 19:43

    Boa noite. É um acolhimento maravilhoso que me amparou no momento mais difícil da minha vida, qd perdi minha filha trans… O Beto é uma pessoa muito especial, mesmo não me convenço me amporaou, as meninas são frágeis e ao mesmo tempo fortes… Esse acolhimento é um lugar destinado a mudança fundamental da vida delas, onde aprendem e ensinam … Somos TDS iguais em situações diferentes

  2. Ana Beatriz Ruppelt

    31/08/2019 03:44

    O Alberto Silva, é um Anjo na vida das meninas que vivem na Casa Florescer.
    As ampara e as direciona para serem inseridas novamente na vida social.
    Seu carinho, seu acolhimento e sua luta insistente para que ” suas meninas ” voltem a serem vencedoras é feito com muito amor e dedicação.
    Uma pena que o Projeto da PMSP não progrediu conforme havia um cronograma..
    Beto todo meu carinho, afeto e amor incondicional pela sua pessoa.
    TE AMO
    ANA BEATRIZ RUPPELT

  3. JOGÊ PINHEIRO

    04/10/2019 12:17

    A cada um de nós, não posso garantir de fato, mas nos é dado um dom, além do da vida. A questão é desenvolvê-lo. Ao Beto Silva, foi dado além do dom da vida, o de ser útil, ao pé da letra. Tais características somáticos e adquiridos pelo individuo sob a ação de fatores adversos e não transmitidos aos seus descendentes, infelizmente. Bom Caráter e boa índole são assim: ou tu tens ou tu não tens.
    Essa benesse ou dadiva é concedida pela natureza, posso aqui até dizer que é uma graça. E este rapaz, um cara de origem humilde, e que de grão em grão, foi enchendo o papo de algumas poucas meninas, esquecidas e marginalizadas por uma sociedade como já disse o poeta: “careta e covarde”.
    Um homem que luta em um silencio quase ouvido, mas percebido, contra um pré-conceito ridículo e velado de alguns poucos, (ainda bem), pelo simples fato de ser: homem, branco, gay e cuidar de uma casa, aqui tenho a ousadia e arrisco-me a dizer – é uma casa modelo de acolhimento para Travestis e transexuais. Mérito alcançado com muito empenho, dignidade, honestidade, esforço e trabalho árduo. Ufa
    A Casa Florescer tem sido uma benção para essas refugiadas e fortes seres humanos. Esses indivíduos que apesar da dura e ferrenha batalha diária por sobre vivencia, teimam e insistem.
    Devíamos esquecer símbolos, algarismos, letras que são autoadesivas e multi coloridas e partirmos para a parte pratica, para o fazer, o doar-se. Não é fácil posso garantir. Combater a segregação, preconceito e deixar o péssimo habito de tentar esconder o que achamos diferente, esquisito e feio. Vamos nos ater ao que é honrado e de moral inquestionável.
    PARABÉNS a revista EZATAMAG…eita matéria linda da porra.
    Bjs na alma
    Jogê Pinheiro

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