Joe Biden nomeia mulher trans e faz história para o movimento LGBT antes mesmo de assumir como presidente – e inaugura a nova política 

20 de janeiro é uma data importante para todo o mundo a cada quatro anos com a posse do novo presidente dos Estados Unidos. Para o mundo todo porque sabemos da enorme influência econômica, militar, psicológica, social e cultural (só para citar alguns aspectos) que o modo de vida estadunidense tem. 

Hoje a posse do democrata Joe Biden e sua vice Kamala Harris inaugura uma nova forma de fazer política onde não há mais espaço para sectarismos. Biden, genuinamente ou não, ainda descobriremos ao longo dos próximos anos, já mostrou que as questões do agora, até pouco tempo consideradas questões do futuro, não podem mais ficar de fora da mesa de decisões do Salão Oval da Casa Branca. 

Não há mais espaço para as inaceitáveis teorias racistas, supremacistas e totalmente desconectadas com o mundo atual.

Mesmo antes de se lançar candidato sabia que precisava – para fazer frente ao ódio de Trump – trazer consigo (um homem branco, hetero e cisgênero) a representatividade que não se cala mais. A sub-representação não é mais aceita, não queremos mais quem fale por nós, queremos nós mesmos falar. 

Veio então a vice Kamala, a primeira mulher, negra e de descendência asiática a ocupar o cargo. É filha de pai jamaicano e mãe indiana, mora nos EUA, representa todo o trânsito de emigração e imigração que a globalização, catalisada pelos Estados Unidos, provocou no mundo todo. 

É um sinal de que não há mais espaço para as inaceitáveis teorias racistas, supremacistas e totalmente desconectadas com o mundo atual. Biden inclusive já prometeu ver com mais atenção a situação dos imigrantes, pendendo mais para a regularização deles do que para a expulsão. Muros? Não, apenas pontes. 

Biden, genuinamente ou não, ainda descobriremos ao longo dos próximos anos, já mostrou que as questões do agora, até pouco tempo consideradas questões do futuro, não podem mais ficar de fora da mesa de decisões do Salão Oval da Casa Branca.

 

Joe e Kamala sabem que outras questões são essenciais em qualquer democracia contemporânea. O meio ambiente ganhou como representante especial para o clima John Kerry, diplomata experiente conhecido pela defesa da sustentabilidade e que terá um longo trabalho pela frente. 

Uma missão árdua para desfazer tropeços de Trump ao ignorar acordos internacionais sobre a emissão de gases causadores do efeito estufa (GEEs) como o Acordo de Paris e o Protocolo de Kyoto. Mas Biden realmente se preocupa com a natureza?  

Não sei responder, só o tempo dirá, mas já pode ser considerado um aliado por, pelo menos, não se colocar contra uma questão que permeará todas as relações do mundo pós-pandemia: o cuidado com o planeta.  

Trans 

E enquanto a pandemia não arrefece, quem vai cuidar da Saúde dos Estados Unidos é ninguém menos do que uma mulher trans. Isso quer dizer que um dos maiores desafios do novo governo foi colocado com confiança nas mãos de quem foi escolhida pela capacidade, sem se levar em conta identidade de gênero, orientação sexual e etc. 

Rachel Levine é o nome que promete ficar na História como uma mulher trans que provou ser tão boa profissional do que um homem cis (o que sabemos desde sempre). Ela será a primeira pessoa transgênero a ser avaliada pelo Senado estadunidense para um cargo na administração pública federal. 

 

Ela será a primeira pessoa transgênero a ser avaliada pelo Senado estadunidense para um cargo na administração pública federal.

Rachel é pediatra e ex-médica geral da Pensilvânia, foi nomeada para seu cargo atual pelo governador democrata Tom Wolf em 2017. Já vinha abrindo portas na esfera estadual (foi a face pública da resposta do estado à pandemia do coronavírus) e agora assume as decisões da Saúde nacional.  

Não se trata de uma representatividade teatral, uma pessoa trans colocada em um cargo qualquer, sem expressão. O próprio Joe Biden fez questão de explicar sua decisão. Disse em um comunicado oficial: 

“A doutora Rachel Levine trará a liderança estável e a experiência essencial de que precisamos para ajudar as pessoas a superar esta pandemia, não importa qual é seu código postal, raça, religião, orientação sexual, identidade de gênero ou deficiência, e atenderá as necessidades de saúde pública de nosso país neste período crítico momento. Ela é uma escolha histórica e profundamente qualificada para ajudar a liderar os esforços de saúde de nossa administração.” 

Formada por Harvard e pela Tulane Medical School, Levine é presidente da Associação de Agentes Estaduais de Saúde e acaba de se tornar o mais novo símbolo de superação, vitória, conquista, capacidade, qualidade e luta da nossa comunidade. Se Biden será ou não bom presidente, depende do tempo. Mas a nomeação de Rachel já adianta que no novo mundo chegou.  

Vivemos em um novo tempo, apesar dos perigos.