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UMA LUZ PARA BRASÍLIA

Raquel Botelho Luz explode cores e feminismo em ilustrações que iluminam a Capital Federal

Foi quando o céu de Brasília começou a escurecer no início do ano que a artista Raquel Botelho Luz se questionou, entrou em crise com a arte – mas saiu dessa DR mais fortalecida para traçar desenhos que exaltam o feminino. Mais do que isso, mostram que, como classifica a própria criadora, existe força na doçura, mulheres não são fraquejadas.

É misturando criatividade, crítica política pelos olhos de quem vive na Capital Federal e bruxaria que Raquel aborda machismo e gordofobia, exalta suas manas e espiritualiza os desenhos com ricos detalhes de sua experiência pessoal.

Um deleite visual que já foi parar em paginas de revistas, pôsteres, canecas e lenços e em uma exposição em 2018. Em tempos de obscurantismo, Raquel tem o sobrenome certo para colorir o céu de Brasília e ajudar a fazer o arco-íris aparecer mais forte. Ela conta mais na entrevista abaixo:

Essas obras da série “Abençoada Seja” são as mais novas? No que elas são inspiradas?

Sim, são as mais novas. Esse início de ano eu tive uma “crise” com a arte, fiquei questionando qual era a motivação pra fazer algo irrelevante, era como eu estava vendo as minhas coisas. O País afundando em questões tão sérias e eu desenhando flores, sabe?

Acho que foi uma crise com todo mundo. É bem feminina a série né?

Então surgiram essas quatro ilustrações, que batizei de Abençoada Seja. São entidades femininas que trazem luz, amor, cura, proteção pra quem adquire, pra quem recebe esse presente. A minha forma de compreender o feminino foi mergulhando nesses arquétipos mesmo. Existe força na suavidade, existe força na doçura. Eu rejeitava isso antes, queria algo mais bruto e não encaixava rs.

Raquel: existe força na suavidade, existe força na doçura

 

Você acha que o cenário nacional deste ano fez as mulheres se questionarem mais?

Eu acho que o questionamento é geral, especialmente do lado de quem perdeu nas eleições, o que fazer, quais garantias teremos nesse novo cenário mais obscuro que antes. Aqui em Brasília, 70% da população apoia o novo governo (talvez seja menos agora, né). Então temos os nossos espaços de resistência, nossos grupos de pessoas que estão do nosso lado e isso tem feito toda a diferença.

Ezatamentchy. Você está aí no centro da coisa. Como tem sido? As pessoas estão se unindo mais?

Eu não vejo uma movimentação na prática, vejo muita gente insatisfeita, mas pouca ação, tirando as manifestações organizadas nacionalmente. Mas estou fora desse circuito também, eu me afastei das manifestações.

Eu acho que o questionamento é geral, especialmente do lado de quem perdeu nas eleições, o que fazer, quais garantias teremos nesse novo cenário mais obscuro que antes.

E sobre a obra de gordofobia? Como foi fazer e qual a importância dela hoje em dia?

Essa foi uma ilustração que fiz pra uma revista. Foi um trabalho que acompanhava uma matéria sobre o assunto. Eu gostei de fazer porque acho que é preciso apontar o dedo pras discriminações que estão enraizadas e naturalizadas. As pessoas gostam de falar do corpo gordo porque ele vira alvo de “preocupação com saúde”, e muitas vezes é asco puro e simples, então foi bom poder desenhar algo pro tema.

Você pensa em expor? Como está esse cenário?

No ano passado eu fiz a minha primeira exposição na vida! Fiquei muito feliz com o convite e ver minhas obras nas paredes foi emocionante. Tenho vontade de fazer algo com essas novas ilustrações, quem sabe consigo realizar isso em breve. Quero imprimir em grandes formatos, é um trabalho rico em detalhes e seria uma grande realização poder vê-las numa exposição.

Eu não vejo uma movimentação na prática, vejo muita gente insatisfeita, mas pouca ação.

E daqui pra frente sua arte continua com esse questionamento? A arte é cada vez mais necessária?

Eu acho que agora, mais do que nunca, a gente precisa criar e resgatar o que é bom. Esse é o nosso momento de iluminar os espaços, de ocupar paredes, de fazer música. Todo mundo se agitou com essas reviravoltas, todo mundo perdeu cantinhos de zona de conforto. Então a gente precisa de movimento, de união, fazer de tudo pra ganhar espaço e mostrar nossa arte. E isso não vai ser um evento organizado e coeso, isso vai brotar de dentro pra fora. Projetos coletivos, ideias individuais, uma mistura de coisas vai surgindo aos poucos. A resistência passa por esse prisma criativo.

Veja mais dessas obras lindas no www.behance.net/raqbotelho2018

Redação

Redação Ezatamentchy

1 Comments
  1. Lúcia Chayb

    30/08/2019 13:54

    Gostei muito de sua atitude artística frente à inércia depressiva que se instalou em nosso país. Compartilho.
    Penso como você. Alegria também é força!

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