Alice Birch enfrenta o horror de Cronenberg com adaptação episódica de “Gêmeas: Mórbida Semelhança”

Por Eduardo de Assumpção*

“Gêmeas: Mórbida Semelhança” (Dead Ringers, EUA, 2023) Em 1988, David Cronenberg perturbou o mundo com ‘Gêmeos – Mórbida Semelhança’, um clássico do terror sobre ginecologistas, interpretados por Jeremy Irons, intrigados pela anatomia feminina. Trinta e cinco anos depois, a showrunner Alice Birch enfrenta o horror corporal pouco ortodoxo de Cronenberg com sua adaptação episódica.

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Rachel Weisz interpreta Beverly e Elliot Mantle, ginecologistas gêmeas que querem revolucionar a forma como as mulheres dão à luz. Elas querem construir um centro de parto de última geração que não apenas ofereça o melhor atendimento possível às mães, mas também seja pioneiro em pesquisas sobre fertilidade.

Embora ambas sejam médicas altamente inteligentes, as Mantles não poderiam ser mais diferentes. Elliot adora beber, usar drogas e fazer sexo com estranhos. Ela é glamorosa, mas instável, controladora e manipuladora. Beverly, por outro lado, é tímida quase ao extremo, e singularmente focada em seu trabalho. Ela está bem em estar sob o controle, até que conhece, a atriz de TV, Genevieve (Britne Oldford), com quem vive um romance tão tórrido quanto complicado.

A partir daí, a série, de 6 episódios, narra sua jornada para abrir centros de parto, o desejo de controle de Elliot, a luta de Beverly para ser ela mesma. Enquanto tudo está enraizado na ciência, a atração realmente mostra o horror da codependência das gêmeas, na própria descida do pesadelo de Beverly à loucura e em mostrar explicitamente a sangrenta realidade do parto.

Weisz cria com tanta habilidade duas personagens muito diferentes que estão fortemente ligadas não apenas pelo DNA, mas por suas obsessões compartilhadas. À medida que os episódios progridem e as amarras de Beverly com a realidade começam a se desgastar, embarcamos juntos nos jogos mentais de ambas protagonistas.

Alice Birch, que escreveu a série, tem clara reverência pela obra de Cronenberg, mas ao mesmo tempo deixa sua própria voz aparecer. Tornar as irmãs gêmeas em vez de irmãos e também injetar homossexualidade mais explícita na história abre uma nova camada narrativa sobre gênero, sexismo sistêmico no parto, maternidade e gravidez.

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib