Dita Maldita se inspira nas mulheres do rock para pedir representatividade e amor na Capital Federal
Dita Maldita é uma personagem do aquariano Vitor Viana que desperta sensações por se desviar da estética bonequinha de luxo/bate-cabelo/queroserBeyoncé. Mas, como sempre, não se engane com as aparências, Dita é roqueira, tem opinião e gosta das mulheres fortes do rock, em quem se inspira, mas é uma fofa, militante, amorosa, com vontade de fazer diferença e espalhar coisas boas.
Natural de Uberlândia, Vitor conta que tem 24 anos desde algum tempo – “parei de contar minha idade” – e foi para a Capital Federal cheio de vontade de conhecer lugares sobre os quais sempre ouvia falar. “Vim para Brasília para trabalhar. Eu era apaixonado pelas festas do Galeria, do Fernando Cunha, era meu sonho conhecer. Ele uma vez então me deu uma oportunidade para eu trabalhar lá, como Vitor ainda, e comecei a trabalhar na noite”, conta.
Há cerca de oito anos em Brasília, o visual de Dita chamou a atenção da equipe da Victoria Haus, onde recebeu um convite para se apresentar – e no fim de semana seguinte já estava no palco que ocupa até hoje. Com voz doce e opiniões certeiras, ela falou com a Ezatamag sobre arte, representatividade, autoestima e, claro, amor:
A Dita sempre existiu em você? Como foi perceber que era preciso deixá-la existir plenamente?
A Dita foi surgir depois de eu já ter trabalhado no Galeria, no Oficina e em outras boates aqui em Brasília. Ela foi surgir só na Victoria Haus, há cinco anos, quando eu fui pela primeira vez e o dono de lá gostou muito de mim e me pediu para fazer um show. Eu disse que estava indo naquele fim de semana como convidado e se ele quisesse que ele contratasse na outra semana. Ele entrou em contato comigo e eu comecei a trabalhar na Vic. A Dita, o nome Dita, veio por ser um apelido de infância que eu tinha, Dito, e ele queria um nome rápido e fácil e eu achei que poderia ser Dita, o feminino de Dito. E Maldita veio justamente pelo trocadilho com Dita Maldita, que poderia ser má, a maldita, ou que poderia ser mal falada. Foi muito difícil eu abandonar o Vitor. Eu me montava antes da Dita, mas eu me montava como um gay apenas, não tinha um nome artístico, só fui ter um nome artístico quando eu entrei na Vic. Passou a ser uma necessidade ter um nome artístico porque eu já estava toda montada e não tinha um. Me chamavam por Vitor ainda, aí teve essa necessidade de criar um nome para a drag que estava ali se apresentando toda semana.
Por que Dita e Maldita?
A Dita tem um estilo único, eu gosto muito de rock, coisas do tipo, que eu coloco sempre nela. As minhas preferências musicais, meu estilo e tal, que seria uma esteriotipação de uma figura feminina que eu seria se eu fosse uma mulher. Eu gosto muito de mulheres fortes do rock como a Tarja Turunen, Amy Lee, Pitty, Janis Joplin, mulheres que são do rock’n’roll mesmo.
Como foi esse processo de construção da Dita para você? Quais foram os maiores desafios?
O meu maior desafio foi que as pessoas entendessem a estética da Dita, principalmente na maquiagem, no meu contorno – fui muito criticada no começo. E manter isso, evoluindo a maquiagem e deixando coisas que eu gostava, como o contorno muito marcado, coisas desse tipo. A minha maior dificuldade foi a aceitação do público em relação a esse personagem.
O que você pode dizer para quem está trilhando o mesmo caminho e passando por esses desafios?
Eu acho que eu posso dizer para as pessoas serem fieis ao seu personagem, sua essência, não se vender ou fazer coisas que você não tenha vontade. Às vezes eu deixo de aceitar trabalhos porque não têm nada a ver com a Dita porque eu não imagino a Dita fazendo algumas coisas, sendo fofinha demais ou coisas assim. Eu acho que você tem que ser fiel a sua essência e acreditar que aquilo dá certo. Eu acredito muito na lei do retorno, você emanar coisas para o universo, coisas boas, pensar que vai conseguir, vai ser aceita e vai trabalhar bastante, flui tudo.
O meu maior desafio foi que as pessoas entendessem a estética da Dita, principalmente na maquiagem, no meu contorno – fui muito criticada no começo.
Você acredita que os LGBT têm conquistado mais espaço no mundo atual?
Com toda certeza os LGBT estão conquistando o seu espaço porque correm atrás. É muito difícil, a gente sempre tem que provar o dobro, estudar muito mais, estar mais preparados por causa das críticas. Provamos com o nosso melhor. Sempre fazer o nosso melhor para provar para nós mesmos que somos capazes.
Como é possível aumentar a representatividade e abrir mais portas para as pessoas LGBT?
Eu acho que envolve a representatividade de estar montada e ir aos lugares levando essa arte. Eu sou uma pessoa que acredita em muitas coisas, uma delas é a liberação da maconha, o ato político de estar montada em frente ao Congresso, nisso que eu acredito. Sempre vou a marchas, participo de palestras e sempre quando posso vou de Dita para mostrar no que eu acredito. Estar montada já é um ato político, fui montada ao impeachment da Dilma, teve uma foto que viralizou na internet, inclusive. Ser fiel a sua essência, ao que você acredita.
Sempre vou a marchas, participo de palestras e sempre quando posso vou de Dita para mostrar no que eu acredito. Estar montada já é um ato político.
Você acha que o trabalho de construção de autoestima LGBT pode ser feito por meio da arte? Como?
Com toda certeza, a construção da autoestima é real. Eu me sinto muito empoderada estando de Dita. Acho que a autoestima vai lá em cima, a arte é um meio de expressar isso, essa forma. As vezes não quero estar tão feminina, mas mostrando o que eu gosto, estando à vontade. Se eu estiver bem com a minha imagem não tem crítica que me derrube. Dentro de mim eu estou sendo aquilo que eu queria passar para as pessoas com a minha arte. Autoestima é sobre segurança, se você estiver seguro, ninguém te derruba.
Quais são suas referências estéticas para construir suas performances?
Eu sempre tento levar aos meus shows as minhas músicas favoritas, meus rocks. As vezes não é comercial, mas eu me dedico tanto, sempre tento mostrar bem e acaba fluindo. Sempre tem uma historinha com a música porque eu me identifico, fica mais fácil mostrar a sua verdade quando você se identifica com aquilo que você está fazendo, com o que você gosta. Geralmente faço muito rock, tenho essa marca em mim.
Qual conselho você dá para quem está começando?
O conselho que eu dou é: espalhe amor. As pessoas hoje não têm essa empatia com o próximo. É preciso desconstruir isso, precisamos ajudar as pessoas, ouvir a história do outro porque todo mundo tem sua história, passou por dificuldades. A empatia de querer ajudar, ouvir, é tudo que a pessoa precisa. Dar ouvido às pessoas e retribuir isso com carinho e afeto é muito importante.
Eu acredito muito na lei do retorno, você emanar coisas para o universo, coisas boas, pensar que vai conseguir, vai ser aceita e vai trabalhar bastante, flui tudo.
Só o amor pode nos unir e nos salvar?
Com certeza o amor une as pessoas. Ele está presente em tudo que eu faço, principalmente na minha arte, tenho muito amor por ela. Ele salva, nos une. Acreditar no amor sempre.
Instagram @ditamaldita