A onda cruel de banalização da saúde mental e a falta de respeito com quem está tentando melhorar

Tenho visto certa onda muito triste de banalização da saúde mental. Vejo tantas piadas sobre ansiedade, depressão e tantos outros males que, para não desacreditar de vez do ser humano, prefiro acreditar que são feitas por pura ignorância – no sentido de não saber mesmo, sem agressividade.

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Você sabia que sua piada machuca? Você sabia que pessoas trans tiram a própria vida? 

Prefiro acreditar nisso como um paciente psiquiátrico que sou. Sim. Um nome pesado e difícil de dizer assim para todo mundo ouvir, ler. Ainda mais em uma internet que massacra fragilidades, impulsiona suicídios e nutre ódios. Mas sim, há cerca de um ano e meio trato uma ansiedade disparada pela pandemia.

Escrevo isso sabendo que infelizmente muitas outras pessoas também estão na mesma situação. Ou em um momento até mesmo pior, porque eu consegui driblar a paralisia e continuei trabalhando, produzindo – ninguém percebeu, eu não disse para muita gente.

Porque primeiro a gente sente sim uma vergonha de dizer que foi encaminhado para um psiquiatra. Há uma desinformação tão grande sobre o assunto que todo mundo já acha que você é louco. E deixa eu aproveitar e esclarecer: como me disse uma vez em uma entrevista o chefe de Psiquiatria de uma Santa Casa, “louco é cachorro com hidrofobia”.

Eu pelo menos estou diagnosticado, medicado, em tratamento, evoluindo. E você, tá bem?

Mas sim, demorou um pouco para que eu, mesmo sempre tendo amado a área Psi e lido sobre ela (amo Freud, por isso a foto), para que eu admitisse que precisava de ajuda profissional. E eu tenho certeza de que aquele preconceito citado ali em cima já te fez questionar: mas ele está bem?

Eu responderia: quem está? Mas posso dizer que, na medida do possível, estou sim. Depois de uma crise de ansiedade que quase me paralisou em plena estação de trem em São Paulo em 2020 – eu só sentia vontade de chorar, sem motivo –  eu estou bem. Passo pela mesma estação e tudo virou aprendizado – um aprender contínuo, diário, alerta.

Porque realmente não dá para entender quem diz que está “com a terapia em dia”. Eu não me vejo mais sem fazer terapia, sem meus florais, meus óleos essenciais, incensos. Porque foi para onde eu corri para segurar a onda da ansiedade, para continuar trabalhando pelo menos 12 horas diárias. E sim, Ezata sempre foi o momento bom do dia, obrigado a todos.

Florais, óleos essenciais e tudo mais!

Também tenho tomado Sertralina, que é uma tarja vermelha, com dose redobrada depois do falecimento da minha mãe em junho passado. E aí outro preconceito, medo, bobagem: remédio tarja preta. Se o médico disse que a pessoa precisa, não te cabe dizer “que é muito forte”. Eu acho forte também, mas não questionarei se precisar um dia.

Por isso tenho buscado ferramentas para não sair do tarja vermelha para o tarja preta. Busco sair do tarja vermelha e ficar só no meus florais mesmo, nos óleos essenciais, no exercício físico, yoga, meditação, terapia… Mas eu sei que nem todo mundo tem essa vontade que eu tenho. Porque somos diferentes em nossas forças.

Somos diversos e cada um de nós é forte de um jeito. Por isso me incomodam tanto esses comentários banalizando a saúde mental. Você não está doente porque esqueceu algo em casa. Fora dos stories você deve estar bem sim. Deve estar se sentindo tão bem que já perdeu a noção do respeito ao próximo. Mas cuidado, enganar-se é um sintoma forte de desequilíbrio mental.

Como me disse uma vez em uma entrevista o chefe de Psiquiatria de uma Santa Casa, “louco é cachorro com hidrofobia”.

E um recado para todos que estão também passando por um momento assim: não existe problema algum nisso. Todos nós podemos tropeçar, cair e tentar levantar. Eu já vinha ansioso e apreensivo por causa da pandemia, levei uma paulada na cabeça com a morte da minha mãe.

Alguém pode dizer que é drama, mas este enredo só quem entende sou eu. Só a gente, paciente psiquiátrico, sabe das nossas dores, das nossas limitações, da respiração curta, do tremor, das sensações que amedrontam. Eu pelo menos estou diagnosticado, medicado, em tratamento, evoluindo.

E você, tá bem?