“Indianara” conta uma história atual de repressão, onde milhares de pessoas lutam e protestam por seus direitos

Por Eduardo de Assumpção*

“Indianara” (Brasil 2019) é o documentário de Marcelo Barbosa e Aude Chevalier-Beaumel que fala de um período obscuro na política do Brasil, entre o governo de Michel Temer e a chegada de Jair Bolsonaro ao poder, por meio do retrato da ativista trans Indianara Siqueira.

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Ela é a fundadora da Casa Nem, um centro de acolhimento para travestis, que ela define como uma espécie de “quilombo urbano”, onde cada hóspede contribui para o sustento da comunidade. O quilombo é uma forma de convivência que remonta à época em que escravos fugidos tentavam se esconder, formando pequenas comunidades no campo. Da mesma forma funciona a Casa Nem, protegendo pessoas marginalizadas das inúmeras agressões sofridas.

Aqui quem está em dificuldade encontra conforto, acomodação e produtos básicos que a Indianara disponibiliza, desde que todos contribuam com a limpeza e tudo o que precisa ser feito para manter a casa funcionando.

O filme por meio das imagens, seja de Indianara na Marcha das Vadias ou gritando ‘Fora Temer’ conta uma história atual de repressão, onde milhares de pessoas lutam e protestam por seus direitos. Conta os encontros na Casa Nem, os momentos coletivos, a intimidade e o cotidiano de algumas dessas pessoas. O relacionamento da protagonista com o marido também é bastante explorado, mostrando que pessoas trans podem ser, sim, felizes no amor.

Não se trata de uma biografia, mas sim de um retrato de Indianara e da condição social de uma comunidade excluída pela sociedade que luta contra a intolerância no contexto do Brasil de hoje. Há um acontecimento em particular que impacta o filme, atordoa Indianara e o resto do seu povo: Marielle Franco, que havia aparecido antes defendendo as pessoas trans, é assassinada.

O resultado das eleições de 2018, e o assassinato de Marielle, que para a Casa Nem, e para o país, foi uma grande perda, um golpe severo que, junto com a turbulência política, põe à prova a integridade da comunidade LGBTQIA+, é o início de uma mudança importante, da qual o filme nos faz participar, não tanto pelos acontecimentos, mas pelos rostos dos envolvidos.

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*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram:@cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib