“Black Is… Black Ain’t” é um estudo denso, escaldante e estimulante de pensamento e emoção
Por Eduardo de Assumpção*
“Black Is… Black Ain’t” (EUA, 1994) Em seu último filme, o cineasta e ativista Marlon Riggs destilou toda a raiva, todo o anseio, todo o poder e complexidade que impulsionaram sua arte. A obra é uma exploração da identidade afro-americana, finalizada de seu leito de morte, onde ele não apenas deu instruções sobre como o trabalho deveria ser estruturado, mas também falou para a câmera sobre sua doença e como ela é paralela à luta da comunidade negra.
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Misturando dança, poesia e música, citações literárias e entrevistas com pensadores negros, como Angela Davis, Cornel West, e Michelle Wallace, ‘Black Is… Black Ain’t’ é um estudo denso, escaldante e estimulante de pensamento e emoção, a declaração final e essencial de Riggs.
O que o diretor queria dizer, de forma simples, é que a negritude vem em tantas nuances, permutações e vozes quanto a imaginação permite, que os afro-americanos, em vez de alcançar a estreiteza de uma única identidade definidora, deveriam celebrar sua diversidade.’Black Is’ cita Malcolm X (‘Somos mil e uma cores diferentes’).
Ao separar seus próprios membros de acordo com idioma, classe, gênero, origem regional e orientação sexual, acreditava Riggs, a comunidade negra perpetua e aprofunda sua própria opressão. A homofobia e o ostracismo dos gays da sociedade negra funcionam como uma triste tendência em ‘Black Is’.
A letra de uma música do rapper Ice Cube é citada (‘True niggers ain’t faggots’), e Riggs nos lembra que um homem gay, Bayard Rustin, organizou a Marcha de 1963, em Washington, onde o Dr. Martin Luther King Jr. fez o célebre discurso ‘Eu tenho um sonho’.Mais tarde, Rustin foi expulso do movimento negro por pregadores que se recusaram a se associar a ele.
Riggs argumenta, de forma lógica e comovente, contra qualquer tentativa de definir a verdadeira essência, seja por meio da cor da pele ou da postura política, da ondulação do cabelo ou da direção do desejo. Ele está morrendo lentamente enquanto fala sobre esse ponto, mas isso não parece diminuir seu calor ou seus poderes retóricos suaves.
*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com
Instagram: @cinematografiaqueer
Twitter: @eduardoirib