11a temporada de AHS resgata fôlego para abordar a epidemia de Aids nos anos 80 em Nova York

Por Eduardo de Assumpção*

“American Horror Story: NYC” (EUA, 2022) Há tempos ‘American Horror Story’ não é mais a mesma. Mas em sua décima primeira temporada Ryan Murphy, em parceria com Brad Falchuk, finalmente conseguiu criar algo relevante para atração, tendo como epicentro a epidemia da AIDS, nos anos 1980. Não é a primeira vez que Murphy aborda o assunto, já tinha o feito antes na série ‘Pose(2018-2021)’ e mais especificamente no longa ‘The Normal Heart(2014)’.

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Mas dessa vez ele utiliza a monstruosidade, em um roteiro inteligente, para criar análogos sobre os descasos do sistema de saúde, os riscos de infecção e o desprezo da sociedade. Levando o subtítulo de New York City, o primeiro episódio mostra que é 1981 e a morte está à espreita. Homossexuais estão sendo mortos por um assassino musculoso, o Big Daddy, com uma máscara de couro.

A princípio a trama nos remete a Parceiros da Noite(1980), com Al Pacino, mas logo percebemos que algo muito mais pesado e sombrio está por vir. A teia de vítimas do assassino continua a crescer e, no entanto, a polícia está mais ambivalente do que nunca. Um mal-entendido com Sam, de Zachary Quinto, envolve questões de consentimento que refletem as maneiras muito reais pelas quais os policiais não reconheceriam a diferença entre preliminares e um crime.

A cruzada do policial Patrick(Russell Tovey) começa a esquentar e ele chega ao radar do assassino. Não demora muito para que essa dinâmica force Patrick a se envolver em jogos laboriosos com esse assassino, onde ele não tem poder. É bastante óbvio que o suspeito de Patrick basicamente funciona como uma personificação de sua tensão com Gino Barelli, de Joe Mantello, um repórter conflitante e bastante cativante.

Depois de muitas decapitações, avisos de tarô do Anjo da Morte e um sentinela de piñata humana, acontece que o pior serial killer de todos é a AIDS. Isso é crucial para os dois episódios finais de AHS: NYC. Estas são parcelas delirantes e surreais que prosperam em metáforas sonhadoras em vez de raciocínio lógico, lembrando a obra prima ‘Angels in America(2003)’. Disponível no @starz

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib