Ser preta em uma estrutura racista nunca foi suficiente, mas, a partir de nós, vai começar a ser

Por Andreza Ramos*

É muito comum ouvirmos, ou até mesmo falarmos, sobre vaidade como algo que pouco nos pertenceu. Como algo que nos dedicamos pouco ao longo da nossa jornada. Mas como cultivá-la num contexto onde ser vaidosa, muitas vezes, era apenas sinônimo de ser branca?

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Hoje, num cenário de influenciadores digitais, é um pouco mais tranquilo visualizar uma forma plural de “ser vaidosa” e considerar-se uma pessoa minimamente atenta ou praticante de alguma forma de vaidade. Mas e quem cresceu com a ideia de que para ser vaidosa precisava ser maquiada, mesmo não existindo tonalidades possíveis para suas peles?

E quem foi adolescente com a ideia de que vaidade é cuidar de um cabelo, imperativamente, liso? E quem conviveu por tempos com a prerrogativa de que vaidade era o uso de roupas “modernas” quando não se visualizava nem modelagens propícias para corpos não magros?

Para pessoas pretas, midsizes e gordas a vaidade é uma linha de chegada que nem se visualizava. Era uma fórmula onde todas as variáveis eram inacessíveis, fazendo com que tomássemos uma chaga da estrutura, como individual.

“É muito comum ouvirmos, ou até mesmo falarmos, sobre vaidade como algo que pouco nos pertenceu.”

Foi apenas com o desenvolvimento de políticas públicas e afirmativas no Brasil que pessoas pretas foram vistas mercadologicamente, porque seu poder de compra, sua presença no mercado de trabalho tornava-se cada vez mais visível. A régua da vaidade mudou… Não porque as marcas finalmente entenderam que beleza não poderia ser mais eurocentrada, mas foi, também, porque entenderam que pessoas pretas são um mercado milionário em franca ascensão.

“E quem foi adolescente com a ideia de que vaidade é cuidar de um cabelo, imperativamente, liso?”

Este texto, por fim, é para que você possa olhar-se de novo, possa perdoar-se e descobrir-se como pessoa preta, para além do que a estrutura fez com você e comigo. Este escrito é pra que possamos nos questionar “eu nunca fui vaidosa mesmo? (e se for o caso, tá tudo bem!) ou eu apenas fiz o que eu pude, com o que eu tinha?”

Ser preta em uma estrutura racista nunca foi suficiente, mas, a partir de nós, vai começar a ser.

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*Andreza Ramos é publicitária, especialista em comunicação de moda e consultora de estilo para pessoas reais, com enfoque em mulheres pretas, midsizes e empreendedoras independentes. Com uma abordagem inovadora, se dedica a explorar o vestir criativo, embasado em um pensamento crítico e decolonial da imagem.