Ministério Público investiga prefeito de Rio do Sul (SC) por LGBTfobia ao impedir evento de Cinema
Não passará sem a devida reação a ação do prefeito de Rio do Sul (SC), José Thomé (PSD), que publicou, no dia 27, um vídeo que tem repercutido nas redes sociais dizendo que não permitiria que um evento LGBT+ ocorresse em um prédio da Fundação Cultural do município. O Ministério Público de Santa Catarina em Rio do Sul já abriu um inquérito para investigar o caso.
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O chefe do executivo municipal ainda classifica a homossexualidade como uma “escolha” e não como uma orientação sexual e a associa como uma “prática”. O evento LGBTQIA+ mencionado pelo prefeito é o “V Transforma – Festival de Cinema da Diversidade de Santa Catarina”. O festival itinerante está em sua sexta edição em 2024, passando por diversas cidades do estado. Ele fecharia sua programação em Rio do Sul, nos dias 27 e 28 de março.
Vale citar que, em 2021, o prefeito foi condenado pela Justiça Eleitoral por prática de caixa 2 na campanha do pleito de 2016, quando o político foi eleito pela primeira vez chefe do Executivo.
A atitude do prefeito condenado por Caixa 2 ganhou resposta de importantes nomes do movimento LGBT+ organizado como Antônio Isupério e Erika Hilton.
“Acabo de denunciar o Prefeito de Rio do Sul (SC) ao MP pelo crime de LGBTFobia e improbidade administrativa. O Prefeito usou seu cargo para cancelar um evento do Festival de Cinema da Diversidade de Santa Catarina por ir contra ‘o que está escrito na Bíblia’. Na estrutura pública não há espaço para discursos de ódio, LGBTfobia, improbidade administrativa e atentado contra o princípio da impessoalidade. Essa é a Lei, e que o Prefeito aprenda à respeitá-la”, destacou a parlamentar nas redes sociais.
“O prefeito de Rio do Sul acabou de postar um video cancelando um evento LGBT+ na cidade
apenas por ser lgbt+ ainda associando a decisão a seus preceitos cristãos. Isso é Homofobia
declarada”, disparou Antônio Isupério em sua denúncia ao Ministério Público Federal (MPF).
Confira o posicionamento do evento na íntegra:
Eu gostaria só de esclarecer que as atividades não eram de caráter livre, não. Isso é uma fala que está vindo do prefeito e não condiz com a realidade do projeto. A gente leva muito a sério a questão de classificação indicativa, tanto que a classificação indicativa da sessão era 14 anos, nivelada pelo filme de maior classificação indicativa, mesmo que outros filmes fossem de classificação livre. Então essa informação está equivocada.
Gostaria também de esclarecer a questão da Oficina de Produção Cultural LGBT, porque a gente sentiu também que teve uma série de falas super equivocadas por parte do prefeito, que visivelmente não entende a temática que ele está polemizando nas redes sociais. Por quê? Porque a nossa Oficina de Produção Cultural LGBT, que é a nossa contrapartida social do projeto, é uma oficina super séria. A gente está trazendo temáticas para elucidar para as pessoas participantes o que é cultura LGBT.
Sobre isso, duas das manifestações que a gente apresenta para o público é a cultura drag transformista, que tem se popularizado cada vez mais no Brasil, tanto por figuras como Pablo Vittar, Gloria Groove, e também pela questão do Drag Race Brasil, que é o principal reality show do mundo de arte transformista drag, da RuPaul, que vem lá dos Estados Unidos, e que a gente agora está começando a ter essa manifestação desse reality show aqui no Brasil também.
E, nesse momento, o festival também resolveu suspender as atividades aqui na cidade de Rio do Sul, principalmente por conta da integridade física da equipe do festival e a integridade física do público que participaria das ações, que está em risco. A gente tem visto na internet uma série de falas super violentas contra a gente, contra o festival. A gente também tem visto uma série de matérias equivocadas polemizando em cima da causa. Então, a gente está bem preocupado com a nossa segurança física mesmo, né? Então temporariamente a gente resolveu suspender as atividades, a gente vai avaliar junto à Fundação Caterinense de Cultura, se a gente refaz essa ação aqui em outro momento ou se a gente vai para uma outra cidade com ação, então a gente está estudando todo esse cenário.
Para além disso, nessa oficina, a gente apresenta também toda a legislação cultural, a gente fala sobre os editais de cultura no estado de Santa Catarina como o prêmio catarinense de cinema, o edital Elisabeth Anderle, a lei Aldir Blanc, a lei Paulo Gustavo, e a gente também ensina as pessoas a escreverem projetos culturais, então é uma oficina que é super séria, uma oficina que é para justamente capacitar o público presente das cidades que a gente passa com a Mostra Itinerante, para acessar também a política pública e poder realizar os seus projetos culturais. Então eu senti que houve um grande equívoco por parte do prefeito que polemizou sem conhecimento nenhum de causa.