“Névoa Prateada'” é cruzamento cinematográfico de familiares destroçados, cada um com suas lutas

Por Eduardo de Assumpção*

“Névoa Prateada” (Silver Haze, Países Baixos/Reino Unido, 2023) Após ‘Dirty God(2019’), a atriz inglesa Vicky Knight e a diretora holandesa Sacha Polak unem forças novamente em ‘Névoa Prateada’, um cruzamento cinematográfico de familiares destroçados, cada um com suas lutas vivendo em um bairro desanimado do leste de Londres.

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Franky (Vicky Knight) é uma enfermeira de vinte e poucos anos que cumpre seus deveres na enfermaria e, por sua vez, lida com uma nova paciente, Florence (Esme Creed-Miles), ela mesma uma jovem sobrevivente de suicídio.

Ambas têm seus problemas, Franky é consumida pela ideia totalmente infundada de que a nova namorada de seu pai distante foi responsável pelo incêndio em casa que lhe causou queimaduras e, ao mesmo tempo, sua atual vida doméstica fraturada a vê tendo que competir com sua mãe instável. Enquanto isso, Florence luta contra um transtorno alimentar suicida e vive com sua avó doente terminal e irmão autista.

No entanto, apesar, e talvez, por causa disso, as duas veem um espírito semelhante uma no outro e um relacionamento logo se desenvolve, mas logo se torna tenso. Vicky Night supera o trauma e o medo de um passado que depositou marcas indeléveis em seu corpo, com uma prática de atuação que aproveita a identidade em uma rede de histórias.

Assistimos, portanto, a um trânsito entre o tempo vivido, inscrito nas marcas que Vicky carrega em seu corpo, e uma subjetivação dos personagens interpretados, que compreendem e transcendem a experiência. O longa é baseado tanto no improviso quanto nas experiências de Vicky Knight de sobreviver a um incêndio semelhante em sua própria infância, e é essa performance fundamentada que é o aspecto mais forte do filme.

A relação de Franky e Florence oscila entre afeto gentil e discussões ardentes e destrutivas, e a capacidade de Knight de equilibrar a raiva subjacente de sua personagem com momentos de cuidado e afeto. É claro que a infância de Franky impactou seus próprios relacionamentos, mas nada é realmente mencionado em relação ao próprio comportamento destrutivo de Florence.

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib