Potiguar Haria Zanotti usa os desenhos para expressar sentimentos e enaltecer as trans
A hoje obra-prima Haria Zanotti, artista de 23 anos de Natal, sempre soube que era diferente e começou o desenho de si mesma como drag, mas não foi o bastante. Tentou a androginia, mas aqueles traços ainda não eram os que ela buscava para pintar seu belo retrato. Foi quando decidiu transicionar e refletir a imagem que tinha dentro de si.
O gosto pela arte e o dom para os desenhos são um canal de expressão dos sentimentos dela nesse processo de transição, além de resultarem em lindas homenagens a drags, travestis e trans que a inspiram. “Gosto de enaltecer essas pessoas por meio do desenho/pintura. É uma forma de demostrar meu carinho”, conta.
Um talento que vem ganhando traços mais sérios conforme Haria ocupa os bancos da Academia como estudante de Artes Visuais na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). É com modéstia sobre seu lindo trabalho que ela conversa com a Ezatamag:
Quando você sentiu que era uma artista? Você sempre gostou de artes?
Nunca me senti uma artista e nem sei se eu me sinto pelo fato de eu ser muito autodepreciativa com meu trabalho, eu ainda uso o termo por conta dos desenhos e pinturas que eu faço, mas eu nem acho meus trabalhos tão interessantes ao ponto de me considerar concretamente uma artista, mas o que é ser artista afinal, né? Eu sempre desenhei desde pequena, mas nunca achei que fosse seguir essa área até olhar a grade do curso e me identificar muito com as matérias.
Qual mensagem você quer passar com os seus desenhos?
Normalmente eu desenho/faço pinturas de mulheres trans/travestis ou drags que me inspiram. Gosto de enaltecer essas pessoas por meio do desenho/pintura, inclusive eu fico muito feliz quando encontro alguma pessoa que já desenhei em algum lugar e ela me reconhece e elogia meu trabalho, é uma forma de demostrar meu carinho por essas pessoas.
Como eles surgem na sua cabeça? Quais são suas inspirações?
A maioria eu faço a partir de fotos tentando fazer combinações de cores usando o círculo cromático. No caso das ilustrações, eu busco referências de poses no Pinterest e desenho a pessoa desejada com base em alguma foto.
Por que você acha importante buscar formação acadêmica? O artista precisa estar sempre em busca de conhecimento?
Eu acho importante para saber o que se está fazendo e pensar o porquê se está fazendo aquilo. Acho que a formação acadêmica serve muito para reflexão do fazer e não só do fazer por fazer, com também a busca por referências e material teórico para poder entender e justificar a arte que se está fazendo. Ainda assim, formação acadêmica não é tudo e temos que ter cuidado com esse discurso para não se elitizar ainda mais a arte.
A arte de alguma maneira influenciou seu processo de transição?
Eu uso a arte mais como um processo canalizador de emoções, ela me ajuda a expor o que estou sentido, sejam esses sentimentos positivos ou negativos.
Você sempre soube que era a Haria?
Não, até porque eu nuca achei que pudesse me tornar Haria, pelo fato de eu não ter conhecimento do mundo trans. Eu sempre soube que era diferente desde criança e tinha uma obsessão enorme por sereias. Eu só comecei a ter conhecimento desse mundo após Rupaul’s Drag Race, pois por um momento eu achei que eu seria drag, já me montei umas duas vezes, mas não era o bastante porque no fim da noite a montação acaba, e eu não queria que ela acabasse. Na época eu também estava me aventurando na androginia, mas também não era o bastante, foi quando chegou um momento em que eu não conseguia nem mais me olhar no espelho que resolvi transicionar e buscar aquela imagem que eu não estava vendo refletida.
Quais os planos futuros como artista?
Nem eu sei exatamente, mas estou tentando me aventurar na ilustração porque quero encontrar uma identidade visual para os meus desenhos e poder expressar melhor meus sentimentos e enaltecer a minha comunidade através dos meus desenhos/pinturas.
Instagram @hariazanotti