Ananda Oliveira é a representante do Rio Grande do Norte no concurso Miss Beleza Trans Brasil

A virginiana de 21 anos Ananda Oliveira é a representante do Estado do Rio Grande do Norte no concurso Miss Beleza Trans Brasil, que será realizado no Rio de Janeiro, no próximo dia 3 (saiba mais aqui). Entramos em contato com todas as eleitas e publicaremos as respostas por ordem de chegada, as entrevistas já publicadas estão no fim da página.

“Costumo sempre relatar sobre minha história enquanto mulher trans e negra, para que sirva como um amparo, conforto ou até mesmo inspiração para demais pessoas, sendo assim, demonstrar sempre que nós LGBTQ+ podemos e devemos ocupar os ambientes na sociedade, e temos que lutar pelos nossos direitos”, conta.

Fizemos para a moradora da baiana Caetité as mesmas perguntas enviadas às outras candidatas, garantindo isonomia na divulgação delas. Conheça um pouco mais sobre Ananda Oliveira e seus objetivos como Miss:

Como foi a trajetória até ser eleita em seu Estado?

Desde criança, aparentemente, apresentava desejo por questões voltadas à moda e à passarela. Minha irmã sempre relembra que eu ficava desfilando, fazendo posses e me sentindo as modelos de passarela que passavam na televisão. Me recordo que sempre tive apreciação por esse ambiente da moda, na adolescência acompanhava os desfiles que eram transmitidos por algumas emissoras de televisão, e também pela internet, mas essa era uma realidade muito distante da minha. Após o início da minha transição, tive a oportunidade de participar de um Workshop de moda de uma agência da Bahia, e consequentemente foi o meu primeiro contato com desfile e a passarela, descobri então essa nova paixão. Posteriormente fiz alguns trabalhos como modelo fotográfico e de divulgação, a partir de então aumentava ainda mais o meu desejo pelo mundo da moda. O ano de 2017 foi o marco para o meu desejo de ser miss, em que fui eleita a Rainha do Carnaval da Diversidade e Lavagem da Esquina do Padre, um evento tradicional, carnavalesco e cultural da minha cidade natal. Evento esse que elegia até então apenas mulheres cis, sendo assim, fui a primeira mulher trans a conquistar esse espaço. Após essa conquista, pesquisei formas de como participar de concursos de Miss, e foi em um desses momentos que tive o contato com concursos anteriores, voltados às mulheres trans e travestis. Tive conhecimento pelas redes sociais a respeito do concurso Miss Beleza Trans Brasil 2019, e que seria sua primeira edição, logo entrei em contato e fiz minha inscrição pelo site. Fui selecionada pela organização para estar representando o Estado Rio Grande do Norte, está sendo uma experiência valiosa e incrível.

Me recordo que sempre tive apreciação por esse ambiente da moda, na adolescência acompanhava os desfiles

O que isso significou para você?

Estar participando do Concurso MBTB 2019 e representando o Estado do Rio Grande do Norte me trouxe muita alegria, além de ser muito importante e gratificante para mim, para os meus amigos e familiares, pois esse sempre foi um sonho meu. Confesso que está sendo um grande desafio, mas isso é bastante glorioso, visto que o papel de representação de uma Miss traz muita visibilidade diante da sociedade. Representar toda a comunidade LGBTQ+ é de grande importância, sendo uma necessidade levar a mensagem sobre naturalidade que é ser LGBTQ+.

Como você acha que pode ajudar a comunidade LGBT sendo Miss?

Anterior ao concurso sempre tive o interesse de ajudar os meus amigxs, em grande maioria LGBTQ+, seja em apoio moral, social ou pessoal. A partir da minha inserção na universidade aflorou ainda mais a minha percepção sobre a necessidade de nós LGBTQ+ estarmos sempre juntos e nos ajudando. Vejo o título de Miss como uma ferramenta para dar mais visibilidade a toda essa comunidade, e noto que posso passar a mensagem da ‘naturalidade que é ser LGBTQ+’ para toda a sociedade e sobretudo como a educação pode ser benéfica para a construção social, intelectual e pessoal, contribuindo para com todas as vivências e lutas.

Confesso que está sendo um grande desafio, mas isso é bastante glorioso, visto que o papel de representação de uma Miss traz muita visibilidade diante da sociedade. Representar toda a comunidade LGBTQ+ é de grande importância.

Além de Miss, quais são seus projetos?

Gosto do meio universitário e tenho me envolvido com a pesquisa, especificamente com a discussão sobre questões LGBTQ+. Pretendo pesquisar e me especializar futuramente sobre estas questões no ambiente educacional, pois acredito que a educação é a chave para construirmos uma sociedade mais justa e igualitária. Além disso, pretendo me adentrar cada vez mais no mundo da moda, pois ser modelo de passarela e manequim sempre foi um sonho para mim.

Você acredita que ter se tornado Miss te ajudou na sua autoestima?

Com certeza. A minha autoestima tem se elevado nos últimos anos desde o início da minha transição, e ainda mais com a minha participação no concurso MBTB 2019. A elevação da minha autoestima juntamente com o autoconhecimento tem contribuído bastante na minha vida, e poder ser uma figura representante de toda a comunidade LGBTQ+ contribui bastante para as minhas vivências e lutas.

A minha autoestima tem se elevado nos últimos anos desde o início da minha transição

É importante para os LGBT construírem sua autoestima? Por quê?

A autoestima e o autoconhecimento são de grande importância para as vivências dos seres humanos, principalmente da comunidade LGBTQ+. Esses aspectos nos ajudam a compreender sobre as relações diante da sociedade. Como tudo na vida é um processo de construção, como relata Simone Beauvoir, em uma de suas falas – “A gente não nasce mulher, torna-se mulher!” -, assim o processo de nos tornar algo/alguém requer o autoconhecimento e quando trabalhado com a autoestima, acaba sendo um dos pilares para nosso enfrentamento/posicionamento perante a sociedade.

Como podemos nos ajudar nesse sentido?

Devemos sempre buscar mecanismos que contribuam beneficamente para com as vivências do próximo, sempre ressaltando a naturalidade de ser LGBTQ+, digo isso porque percebe-se que a sociedade é carregada por padrões que tentam invalidar nossa vivência e identidade enquanto LGBTQ+. Costumo sempre relatar sobre minha história enquanto mulher trans e negra, para que sirva como um amparo, conforto ou até mesmo inspiração para demais pessoas, sendo assim, demonstrar sempre que nós LGBTQ+ podemos e devemos ocupar os ambientes na sociedade, e temos que lutar pelos nossos direitos.

Devemos sempre buscar mecanismos que contribuam beneficamente para com as vivências do próximo

Agora uma pergunta clássica: qual seu maior sonho?

Especificar somente um sonho é quase impossível, pois o ser humano tem pensamentos renovadores e evolucionários, sendo assim, sempre surgem sonhos após as conquistas. Posso destacar alguns, como obter minha formação acadêmica, me tornar uma pesquisadora da causa LGBTQ+, ser modelo fotográfico e de passarela, entre outros. Mas posso dizer que meus dias/sonhos/conquistas têm algo em comum, sempre foi pensando em dar uma condição de vida melhor para mim e para minha mãe, que sempre esteve e está comigo.

Instagram @anandadaoli

 

Entrevistas já publicadas:

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