Festas com sexo não são novidade no universo LGBT, mas tem gente dizendo que sim para ganhar dinheiro
Foto: Bob Mizer
Há uma perigosa onda de pseudo-novidade no ar que tem contaminado os mais diferentes espaços LGBT e, infelizmente, chegou também às festas com sexo permitido. Nunca foram novidade no “mundo gay”, há décadas existem pistas onde você pode ir além de dançar. Isso no Brasil e no mundo todo.
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Então por qual motivo tratar tais festas como algo novo, algo desconhecido? É uma reembalagem? Este é o primeiro passo de um feroz apagamento do passado da nossa população, tomada de assalto por um Capitalismo máquina de moer gente que nos vê apenas como números, lucro, cifrões.
Há total legitimidade nas novas festas permissivas, só não se pode negar que existiu toda uma construção para que, hoje em dia, fosse “super descolado incrível amiga você tem que ir” estar em tais festas. Fazendo ou não sexo, porque felizmente pelo menos a liberdade individual se mantém. Para mais e para menos.
Mas quando alguém anuncia festas que unem diversão com música com diversão mais física como uma novidade (pior ainda se inspirada na cultura gringa, distante da nossa realidade), quando isso acontece, não se pode negar um reforço no já em curso esquecimento da nossa memória.
Para quem tem mais de 30 aninhos, a SoGo (aberta em 1997), em São Paulo, muito provavelmente é um forte nome que vem à mente. Pensamento certeiro. A última boate LGBT a fechar suas portas nos Jardins, um centro de resistência a uma associação de moradores conservadora, atrasada e eficiente em sua higienização.
É inaceitável que quem viu os viados sendo expulsos dos Jardins negue tudo o que plantamos por lá. Não é opinião, é História.
Os espaços conquistados ao longo dos anos que foram sendo, um a um, apagados nos Jardins – Gourmet (aberto em 1990 e fechado em 2017), Paparazzi (no mesmo espaço do Malícia e, depois, do Latino), Allegro, Pitomba, Hertz, Bar du Bocage, Flyer Bar – tinham na SoGo ainda uma vingança. Um sentimento de permanência em tempos de varredura das bichas para fora daquela região habitada por “senhoras respeitáveis, pais de família e cidadãos de bem”.
Colocar como novidade algo que foi um dos maiores e mais importantes símbolos de resistência, permanência e conquista de nossa comunidade na capital paulista é agir de má fé ou apenas desconhecer de onde viemos – inviabilizando sabermos para onde vamos.
Com o fim da SoGo , a Augusta começou a abrigar alguns frequentadores agora sem “casa”. Outros desceram mais a rua e fidelizaram a Praça Roosevelt como marco. A histórica região República-Arouche ganhou mais gente.
Essa época, onde nem todo mundo ficava nas filas sem medo, sem vergonha de ser visto por algum conhecido, essa época que plantou sementes como as grandes e famosas festas e incensados clubes, essa época existiu, foi construída com suor e enfrentamento a uma homofobia velada.
É inaceitável que quem viu os viados sendo expulsos dos Jardins negue tudo o que plantamos por lá. Não é opinião, é História.