“Veneno” é uma catarse transgênero, um retrato apaixonante e lúdico

Por Eduardo de Assumpção*

“Veneno” (Espanha, 2020) é um retrato apaixonante e lúdico da história da Espanha, desde seu conservadorismo até a sua efervescente cultura POP, abordando sobretudo os bastidores da TV e da prostituição. Logo no primeiro programa temos Lola Dueñas, de “Volver” e “Os Amantes Passageiros”, e Ester Exposito, de “Elite” e “Alguém” tem que morrer, como duas produtoras de um programa dos anos 1990: “Mississipi”.

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A série conta a história do ponto de vista da ativista trans Valéria Vega, autora do livro, “¡Digo! Ni puta, ni santa: Las memorias de La Veneno”, e uma das personagens mais importantes, interpretada brilhantemente por Lola Rodriguez. Através desses relatos, a estética é construída, absolutamente poética e crua, ao fotografar o submundo ao qual transexuais estão fadadas em sua maioria. Cada episódio se encontra definitivamente encerrado e independente.

A série transgride a personalidade obscura de La Veneno a momentos kitsch, como a personagem Paca “La Piraña”, interpretada em sua fase mais velha por ela mesma. O elenco trans se destaca com nomes de Lola Rodriguez, Isabel Torres, Daniela Santiago, Jedet Sanchez, entre tantas outras singulares coadjuvantes.

A história do pequeno Joselito vai se moldando desde que sai de seu pequeno pueblo, para poder ser livre, até ir lentamente construindo a figura de Cristina, que graças à TV foi uma das travestis mais queridas da Espanha, de personalidade explosiva. Ao mesmo tempo que vemos sua glórias nos anos 1990, também vemos sua decadência, que a levou a uma morte misteriosa, em 2016, pouco tempo depois do livro ser lançado.

A personagem é interpretada por três diferentes atrizes, para caracterizar bem suas diferentes fases. Isabel Torres, que a interpreta mais velha, é quem realmente dá show de interpretação, principalmente nas cenas em que passa pela cadeia.

A série, de oito episódios, possui uma ambientação impecável, com homens, luxo, glamour e muito silicone. O programa é necessário por trazer voz e representatividade a pessoas trans e consequentemente tolerância e respeito.

“Veneno” é uma catarse transgênero que está disponível na @hbomaxbr.

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram:@cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib