“Divinas Divas” é generoso com suas protagonistas, um reconhecimento muito merecido

Por Eduardo de Assumpção*

“Divinas Divas” (Brasil, 2016) é vibrante e enriquecedor. Espreita por trás das cortinas do Teatro Rival, que foi um dos primeiros do Brasil a exibir homens travestidos, nos anos 1960. Oito ícones da primeira geração de artistas transformistas no Brasil, Rogéria, Jane di Castro, Divina Valéria, Eloína dos Leopardos, Camille K, Brigite de Búzios, Fujika de Halliday e Marquesa, se reuniram para celebrar o aniversário de 50 anos e contar suas histórias, tão variadas quanto seus figurinos.

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O documentário é muito influenciado pelas experiências da atriz e cineasta Leandra Leal que praticamente cresceu no teatro; seu avô, Américo Leal, era o proprietário e apresentou a ela aquela vitrine de artistas travestis. Dado esse pano de fundo, não é surpresa que “Divinas Divas” seja uma celebração.

Nas lembranças francas, há orgulho, e verdade, como em qualquer outro artista talentoso. No entanto, além de seus talentos musicais e forte presença de palco, há também um reconhecimento dos muitos desafios únicos que enfrentaram ao longo dos anos.

Hoje, após o falecimento de Rogéria e Jane di Castro, por exemplo, há um legado que foi deixado, um espaço ocupado dentro da história LGBTQIA+.

Nenhuma delas busca piedade; elas apenas contam como é, e descrevem como foi difícil para elas individualmente em seus anos mais jovens, quando algumas lutavam para descobrir sua própria identidade em uma época e em uma cultura que desaprovava qualquer coisa ou alguém fora do comum e esperado.

O filme é estruturado em torno dos preparativos para o reencontro, o que dá às artistas um fórum natural para falar sobre suas experiências ao longo das décadas. Uma fabulosa visão geral da cultura brasileira, especialmente nas décadas de 1960 e 1970, ajuda a contextualizar e imagens de arquivo e fotos dão um gostinho de como era glamorosa a vida das artistas no palco.

“Divinas Divas” é generoso com suas protagonistas, um reconhecimento muito merecido. Os tempos mudaram; as artistas, mesmo em idade avançada, não. Quando o filme foi realizado, elas ainda eram fortes, resilientes e orgulhosas. E hoje, após o falecimento de Rogéria e Jane di Castro, por exemplo, há um legado que foi deixado, um espaço ocupado dentro da história LGBTQIA+.

Disponível na @netflixbrasil .

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib