“Cecil Bem Demente” satiriza não apenas Hollywood, mas também a hipocrisia da comunidade de filmes ‘independentes
Por Eduardo de Assumpção*
“Cecil Bem Demente” (Cecil B. Demented, EUA, 2000) O mestre underground John Waters liga o foda-se para indústria cinematográfica em sua comédia ácida Cecil Bem Demente. No filme, uma gangue de cineastas de guerrilha, liderados por Mr. DeMented (Stephen Dorff) sequestram a estrela de cinema Honey Whitlock (Melanie Griffith) e a forçam a estrelar um filme sem orçamento.
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‘Cecil Bem Demente’ conta a história de Honey, uma atriz que, durante a estreia de um de seus filmes, é sequestrada pelos chamados terroristas do cinema, cineastas guerrilheiros que a obrigam a estrelar uma obra que busca rebelião contra o atual sistema. Munidos de equipamentos de audiovisual eles se encarregarão de criar o caos na segunda Hollywood dos Estados Unidos, Baltimore.
O filme será dirigido por Cecil B. Demented, um homem peculiar que, como toda sua equipe de sexualmente explosivos, são punks no sentido mais puro da palavra. Esse grupo de salvadores encontra apoio entre os fãs de filmes de ação e até mesmo entre aqueles que gostam de cinema pornográfico. Evocando o início da carreira de Waters, todos eles vivem juntos com Cecil em um bloco de Baltimore, decorado com mobília kitsch de filmes esfarrapados e outros objetos cênicos.
E eles são todos fãs de filmes de arte, cada um marcado com uma tatuagem proclamando uma afinidade por um diretor. As piadas para cinéfilos voam rápido e furiosamente, e Waters as trabalha tão amplamente que quase todas funcionam.
Um dos personagens do filme dentro do filme é o dono de um cinema de arte que está muito empolgado com sua retrospectiva de um famoso diretor italiano, só para aceitar a ideia de que seu teatro está à beira da falência e que ninguém mais quer assistir Pasolini.
John Waters é descarado na forma como satiriza não apenas Hollywood, mas também a hipocrisia da comunidade de filmes ‘independentes’. Cecil Bem Demente tem muito a dizer, e isso deixa extremamente claro as preocupações de John Waters, que não odeia a cultura pop, mas ousa questionar o valor de tudo o que o grande público costuma consumir.