Precisamos cada dia mais da cor e da coragem que resistem nas obras do pioneiro Alex Vallauri

São Paulo (SP) tem se tornado cada dia mais uma cidade vertical, dura, que tira a perspectiva do olhar com inúmeros prédios pipocando no horizonte. Está ficando ainda mais concretada, menos colorida e extremamente necessitada de Arte – o que me faz pensar diretamente em Alex Vallauri (1949-1987).

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Porque a gente ainda consegue ver em muitos muros pela cidade o legado dele. A metrópole que sobe, espicha, esquece de colorir, de divertir, de olhar. E Vallauri queria ezatamentchy isso com a sua arte, ele queria que você, em meio ao caos e à correria, tivesse um momento de abstração, fruição, tesão, sedução ou qualquer outra coisa que as obras dele te despertassem.

E ainda despertam, porque estão aí, sobreviveram (por enquanto) à uma cidade que tem pressa de ir para cima, acima, em cima. As botas, os frangos assados, os telefones, seres fluídos e coloridos que dançam em círculo, cores vibrantes, desenhos livres do grafitti. Sempre foi um chamado para a vida, continua sendo.

Porque a gente nunca pode perder essa liberdade, essa vontade que levava Alex a sair pelas ruas – muitas vezes correndo perigo de ser preso – se expressando, tentando trazer algum salvamento à uma época delicada e triste, os anos 80 e a epidemia de Aids. Imagens de rápido entendimento que traziam respiro, alívio momentâneo.

Alex era um artista gay e morreu em decorrência da Aids nos sombrios anos 80

Pioneiro na arte do grafitti no Brasil, Alex usou outros suportes além dos muros urbanos: estampou camisetas, bottons e adesivos. Para ele, o grafite era a forma de comunicação que mais se aproxima do seu ideário de arte para todos. Provavelmente Alex Vallauri foi o primeiro grafiteiro no Brasil. É por isso que a data de sua morte, 27 de março, é o Dia do Grafitti no Brasil.

Biografia

Alex Vallauri (Asmara Etiópia 1949 – São Paulo SP 1987) foi grafiteiro, artista gráfico, gravador, pintor, desenhista e cenógrafo. Chega ao Brasil em 1965 e se estabelece em Santos, São Paulo, transferindo-se depois para a capital paulista. Ainda em Santos, inicia-se em xilogravura e é premiado no Salão de Arte Jovem, em 1968.

Obras traziam, e ainda trazem, leveza, cor, respiro

Em 1970, expõe individualmente na Associação Amigos do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM∕SP). No ano seguinte, forma-se em comunicação visual pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) e, dois anos depois, torna-se professor de desenho de observação e livre expressão da mesma escola. Especializa-se em litografia no Litho Art Center de Estocolomo, Suécia, em 1975.

A partir de 1978, de volta ao Brasil, realiza grafites e trabalha com stencils em São Paulo. Realiza individual na Pinacoteca do Estado de São Paulo em 1981. Vive em Nova York, onde cursa artes gráficas no Pratt Institute, entre 1982 e 1983. Participa da Bienal Internacional de São Paulo em 1971, 1977, 1981 e 1985, quando mostra a série A Rainha do Frango Assado, tema de instalação neste último evento.