O gordo, o velho, o pelado e a avalanche de ódio gratuito que os LGBT têm contra os próprios LGBT
Não é novidade que as redes sociais são totalmente antissociais. Não há no mundo um lugar onde o ódio e o preconceito se concentrem tanto como no que chamam de rede. Uma rede que parece cada dia mais estar na curva do rio, porque só tem pegado tranqueira. Críticas, críticas, críticas, xingamentos, humilhações, opiniões que são apenas achismos – e essa ferramenta incrível que é a internet se transforma em algo horroroso.
Primeiro que todo mundo se sente no direito de dar opinião sobre tudo. Segundo que essa gente não entende que tudo bem você não ter uma opinião sobre certo assunto. Já dizia Raulzito sobre a opinião formada sobre tudo. Terceiro que escondidos pelo virtual, bichos escrotos (alô, Titãs) rastejam até o mouse ou o teclado do telefone e vomitam toda sua falta de humanidade.
Aí vem aquela bicha que adora posar de militante, que ama dizer que é solidária (solidariedade não se divulga, só lembrando, tá?) e que luta contra a intolerância. Ela é a mais intolerante. Preconceito é pré-conceito, não vi e não gostei, já diria Da Matta. E é exatamente o que acontece. Não sei quem é você, mas não gostei da sua foto, inventei toda uma história na minha cabeça baseado nisso e saí divulgando por aí.
Críticas, críticas, críticas, xingamentos, humilhações, opiniões que são apenas achismos – e essa ferramenta incrível que é a internet se transforma em algo horroroso.
É o movimento que se diz libertário que abriga gente que não quer se libertar das amarras do machismo e todos os preconceitos. “Você engordou bastante na quarentena, hein?”, perguntaram a um moço. “Envelheceu também”, continuaram pessoas que passam o dia postando frases de efeito sobre essa militância enfiada goela abaixo em padrões mercadológicos. E o pior é que nem se dão conta de que estão apenas servindo fast-food de informações para quem tem fome de arroz e feijão.
Então muitas das bichas não aceitam quem é velho, não aceitam quem é gordo. Isso infelizmente não é novidade. Mas a gente realmente não aprendeu nada? A gente realmente ainda não entendeu que cabe a nós, as vítimas do preconceito, frear essa roda de dor?
O rapaz chamado de gordo engordou porque estamos em quarentena. E diferente de quem acha que ser saudável é se enfiar em uma academia fechada para pegar coronavírus, espalhar por aí e morrer, este moço soube que saúde mesmo é evitar ser vítima da pandemia ou vetor dela. Engordou uns quilos – e não está nem aí para quem achar ruim. A preocupação com os gominhos do abdome na crise sanitária mais grave do século já nos diz muito sobre essas pessoas que atacam.
É o mesmo tipo de gente que acha muito divertido compartilhar fotos e vídeos íntimos de outras pessoas – sem a autorização delas, explico, não estou falando de quem posta para ser compartilhado, com esta intenção. O grupo de pessoas que todos os dias apanha das formas conotativa e denotativa todos os dias também bate, nos seus próprios. Porque todo mundo sabe que vazar imagem íntima de terceiro (sem autorização, reforço) é crime, mas, além disso, é falta de respeito.
E é exatamente o que acontece. Não sei quem é você, mas não gostei da sua foto, inventei toda uma história na minha cabeça baseado nisso e saí divulgando por aí.
Quem é mesmo que estava nas redes sociais vomitando conceitos prontos sobre um novo mundo?
A gente precisa de uma vez por todas pensar coletivamente. Porque quando um de nós faz algo assim, machuca outros. Quem tem a imagem vazada processa, busca a lei e tudo mais, mas não é simples assim. Quando alguém compartilha esta imagem, quando alguém decide expor outro alguém, será que pensa no problema que pode estar causando para esta pessoa?
Porque é um ataque, dos mais covardes, já que não se pode saber a origem. A vítima não consegue justiça plena porque a internet espalha as coisas em uma velocidade inigualável. Mas tem quem ache muito legal expor os outros, seja pela idade, pelo peso ou por um vídeo e uma foto vazados clandestinamente. Isso é doença de alma, se chama falta de caráter.
Se a gente realmente quer ir às ruas – a maioria só vai às redes mesmo e acha que fez sua parte – pedindo respeito, não seríamos nós os primeiros a respeitar o próximo? A gente realmente precisa lutar contra os nossos? Além de tanta gente violentando nós LGBT, precisamos colocar mais velocidade nessa roda agressiva, ignorante e assassina?
Fica a reflexão e um ditado bem popular: não faça com os outros o que você não gostaria que fizessem com você. Melhore, o mundo só muda se você ajudar.