Eloá Rodrigues é a representante do Estado do Rio de Janeiro no concurso Miss Beleza T Brasil 2020
A capricorniana Eloá Rodrigues é a representante do Estado do Rio de Janeiro no concurso Miss Beleza T Brasil, que será realizado em São Paulo em outubro (leia mais aqui) – data preliminar que pode ser alterada devido à pandemia. Entramos em contato com todas as eleitas e publicaremos as respostas por ordem alfabética. E as entrevistas já publicadas estarão no fim da página para você conhecer todas elas.
“Cresci sem referências e entendimento concreto de quem era, e qual era meu lugar no mundo. As coisas mudaram quando passo a entender de fato quem eu sou e principalmente quando olhei no espelho e vi a mulher que sempre quis ver”, conta à Ezatamag.
Fizemos para Eloá as mesmas perguntas enviadas às outras candidatas, garantindo isonomia na divulgação delas este texto de abertura também é padrão pelo mesmo motivo. Conheça um pouco mais sobre a Miss Rio de Janeiro e seus objetivos:
Qual o seu signo e o que você mais gosta no Estado que está representando?
Sou capricorniana, do mês de janeiro. Amo as diversas possibilidades de programações que existem aqui. Os pontos turísticos e praias, as noites agitadas da Lapa e arredores, o samba e o Carnaval, os programas culturais. Sou apaixonada pelo Rio de Janeiro e tudo que ele oferece.
Vejo a possibilidade de continuar mostrando que iremos nos deparar com travestis e pessoas transexuais em todos os espaços sociais quando naturalizarem nossa existência e quando promoverem oportunidades.
Como foi sua trajetória até começar a sua transição e, agora, poderosa, arrasando, sendo eleita miss e indo ao nacional, como está?
Minha infância e adolescência foram marcadas pelo não-lugar. Apesar de as pessoas ao meu redor terem me “tirado do armário” muito cedo, quem foi uma criança viada nos anos 90 sabe que determinados debates não faziam parte do cotidiano e dos lares, em sua grande maioria. Sendo assim cresci sem referências e entendimento concreto de quem era, e qual era meu lugar no mundo. As coisas mudaram quando passo a entender de fato quem eu sou e principalmente quando olhei no espelho e vi a mulher que sempre quis ver. Hoje, acredito que por conta dos acessos que tive/tenho, tornar-se uma referência é algo importante, mas encaro com responsabilidade. Pelo segundo ano irei representar meu Estado. E vejo a possibilidade de continuar mostrando que iremos nos deparar com travestis e pessoas transexuais em todos os espaços sociais quando naturalizarem nossa existência e quando promoverem oportunidades.
O que se tornar Miss significou para você?
Para mim é a possibilidade de quebrar paradigmas. Ao longo do tempo foi construído e introjetado no imaginário social que corpos e existências como a minha não poderiam ocupar esse lugar de visibilidade e representatividade. Ter a possibilidade de dialogar e ser uma referência positiva para comunidade negra e LGBTI é ter a possibilidade de ser a referência que eu não tive.
Como você acha que pode ajudar a comunidade LGBTQI+ sendo Miss?
Acredito que quando alguém que pertence a algum grupo das minorias sociais consegue ser o ponto fora da curva, assume uma responsabilidade de dar algum tipo de devolutiva em prol de sua comunidade, na busca da emancipação dos corpos e garantia e efetivação de direitos. É o que eu luto e busco nos coletivos negros, na presidência do Conselho Municipal LGBTI da cidade de Niterói, no Grupo Diversidade Niterói, que são algumas das frentes que atuo. Sendo assim, vejo que o meu título como Miss agrega, no sentido de potencializar esses trabalhos, tendo em vista que o papel de uma Miss também é a sua responsabilidade com causas e transformações sociais.
Qual avaliação você faz do cenário político brasileiro de hoje em dia?
Vivemos em um constante retrocesso desde a eleição do atual presidente. Discursos de ódio, intolerância étnica/religiosa, crescente do desemprego, aprofundamento da crise econômica e social, além de ter quer lidar com uma pandemia. O cenário é caótico, pois dá a sensação de que o povo brasileiro está sem um líder que nos direcione a um caminho de soluções para melhora na qualidade de vida. Acredito que pessoas e instituições têm estado na linha de frente, na tentativa de conter os retrocessos, entretanto, analiso que os mesmos que acreditam ou que pertencem ao grupo progressista, devemos estar atentos e vigilantes. Principalmente neste ano eleitoral.
Você acredita que ter se tornado Miss te ajudou na sua autoestima?
Sim. Como passei boa parte da minha vida sem esse tipo de referência e acreditando que esse lugar não me pertencia, ao longo da minha trajetória no mundo Miss me fez enxergar e admirar minhas potencialidades e sem sombra de dúvidas ajudou a melhorar minha autoestima.
O que é ser bonita para você?
A beleza no meu ponto de vista é algo muito singular. O belo para uns pode não ser para outros. Mas quando penso em beleza, penso no não convencional, na naturalidade. Naquilo que vem de dentro para fora da forma mais natural e singela.
Acredito que quando alguém que pertence a algum grupo das minorias sociais consegue ser o ponto fora da curva, assume uma responsabilidade de dar algum tipo de devolutiva em prol de sua comunidade.
E qual tipo de gente você acha horrorosa?
Quem perde seu tempo disseminando ódio ou que precisa trapacear ou pisar nas pessoas para atingir seus objetivos e metas.
O que você pode dizer para as meninas trans e travestis que ainda enfrentam as dificuldades pelas quais você já passou?
Você não está sozinha. As adversidades chegam para nos tornar mais fortes. Não é fácil lidar com o preconceito e com as exclusões. Então se precisar chorar, chore. Se precisar de ajuda, grite! Mas nunca se esqueça de que você vive num país onde existe um projeto de extermínio contra nós, então mais que resistir, estar viva é uma vitória e possibilidade de ser a exceção dentro da regra.
Agora uma pergunta clássica: qual seu maior sonho?
Ser eleita a Miss Beleza T Brasil 2020.
Instagram @eueloarodrigues
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