Fernanda Craz é a representante do Estado do Rio Grande do Sul no concurso Miss Beleza T Brasil 2020

A capricorniana Fernanda Craz é a representante do Estado do Rio Grande do Sul no concurso Miss Beleza T Brasil, que será realizado em São Paulo em outubro (leia mais aqui) – data preliminar que pode ser alterada devido à pandemia. Entramos em contato com todas as eleitas e publicaremos as respostas por ordem alfabética. E as entrevistas já publicadas estarão no fim da página para você conhecer todas elas.

“Eu não vou dizer que eu sou muito confiante só porque uma Miss tem que ser! Eu sou frágil, sensível, emotiva e penso que uma Miss tem que ser assim para entender todas as emoções que se passam nas pessoas, para ajudá-las de alguma forma”, conta à Ezatamag.

Fizemos para Fernanda as mesmas perguntas enviadas às outras candidatas, garantindo isonomia na divulgação delas este texto de abertura também é padrão pelo mesmo motivo. Conheça um pouco mais sobre a Miss Rio Grande do Sul e seus objetivos:

Qual o seu signo e o que você mais gosta no Estado que está representando?

Eu sou capricorniana, e assim como o meu signo, eu sou extremamente objetiva para conquistar os meus ideais. E como começar falando do Rio Grande do Sul? A terra de Gisele Bündchen, a maior modelo do planeta, e de Deise Nunes, a primeira Miss Brasil negra, e por ser um dos Estados referência em concursos de beleza. O meu Estado tem muitos motivos para ser amado. Nós temos as 4 estações bem definidas, então sabemos sempre, por exemplo, que quando chegar o Inverno, será muito frio e o Verão muito calor! O churrasco dos fins de semana é quase uma tradição aqui, eu amo o nosso vocabulário próprio, MAS BEM CAPAZ, QUE VAMOS FICAR SEM O NOSSO CHURRASCO QUE É TRI BOM, TCHÊ! O que eu mais gosto do meu Estado são as festas do interior, nossas festas populares, temos a Festa da Uva, a Festa do Folclore, a Festa da Colônia, nós temos também a Festa da Batata e a Festa da Cuca, que eu conheci há pouco tempo, vocês sabem o que é uma cuca? E entre outras, mas o mais legal é que em todas essas festas temos as soberanas, a Rainha, 1ª princesa 2ª princesa, que representam o evento na cidade! Eu queria muito ser a Rainha da Cuca! Porque eu adoro comer esse pão! E para finalizar eu amo o Inverno da serra gaúcha! Quem nunca conheceu Gramado, deveria! E quem gosta de frio, lá é o melhor lugar, porque se você tiver sorte, consegue pegar até neve! Essa região é incrível, você se sente em uma casinha de boneca, Gramado é uma cidade colonizada por alemães e italianos, então você tem a impressão de que está na Europa, por que cada detalhe lembra muito, e é apaixonante!

Eu iniciei minha transição com 14 anos de idade, eu sempre fui uma criança tímida e insegura e eu sempre demonstrei muito meus medos. Foi a fase mais difícil, não só no início de tudo, mas no decorrer também.

Como foi sua trajetória até começar a sua transição e, agora, poderosa, arrasando, sendo eleita miss e indo ao nacional, como está?

Eu iniciei minha transição com 14 anos de idade, eu sempre fui uma criança tímida e insegura e eu sempre demonstrei muito meus medos. Foi a fase mais difícil, não só no início de tudo, mas no decorrer também. Eu sempre me senti diferente dos meus irmãos, e minha infância foi traumatizante, mas minhas brincadeiras e sonhos eu costumo dizer que foram como de qualquer menina, usar as maquiagens da mãe, ter os cabelos longos e se enfeitar, e minha família sempre notou isso. Então esse processo de se auto identificar para mim foi fácil, porque eu nunca tive dúvidas da mulher que eu era. Eu sempre me destacava de alguma forma, ou era nas melhores notas da turma, na apresentação de dança, no melhor desenho ou no melhor projeto científico da escola. Realmente eu não gosto de lembrar da minha infância, parece que sempre passa um filme na minha cabeça, mas tudo eu levo como experiência, até mesmo as vezes em que levei pedrada na rua. Hoje eu sou muito corajosa, determinada, teimosa também, confesso que quando soube da existência do Miss Beleza T eu queria muito me inscrever, mas por insegurança eu desisti de tentar, mas nesta edição, quando eu soube que havia sido selecionada, foi um dos melhores momentos da minha vida. Eu sei a responsabilidade que nós mulheres trans e travestis temos. Eu venci meus medos, e estou me preparando com um coordenador de Misses aqui do meu Estado, quero dar o meu melhor nessa edição, e está sendo uma honra competir com todas as meninas, que realmente são lindas e cada uma tem uma história inspiradora.

O que se tornar Miss significou para você?

Para mim, foi muito importante receber esse título! Eu estou sendo eu mesma, desde o início! E era isso que eu sempre desejei! Ser exemplo, participar de um concurso que pudesse mostrar a minha realidade, e mostrar a beleza da mulher trans, não só fisicamente, mas como ser humano! Mostrar de uma forma positiva para as pessoas que eu posso estar onde eu quiser, isso é muito significativo e gratificante!

Como você acha que pode ajudar a comunidade LGBTQI+ sendo Miss?

Eu vejo hoje que posso ajudar inspirando a todos a nunca desistirem! Pessoas que em algum momento se notaram diferentes, que não há nada de errado em ser assim, e que mesmo sendo diferentes, elas podem estar na escola, no trabalho, podem amar quem quiserem, podem participar de concursos de beleza, porque eu sei como é se sentir perdida, sem rumo, sem ter alguém para se espelhar, sem saber por onde começar, ter sonhos e não poder concretizá-los por dificuldade! Mas eu venci tudo isso sendo eu mesma, foi difícil, mas eu não aceitei a viver uma vida predestinada, eu sei que a nossa realidade é diferente, mas eu quero mostrar que somos capazes e podemos sim encontrar uma solução em meio à dificuldade. Minha maior segurança sempre foi não ter medo de apenas ser.

Qual avaliação você faz do cenário político brasileiro de hoje em dia?

Sinto uma carência de responsabilidade, estamos vivendo um colapso na saúde em relação à situação atual diante a pandemia. Tivemos a Itália como referência de como não se deve enfrentar a pandemia, mas o brasileiro é um pouco teimoso e os nossos governantes são mais ainda. Estamos sofrendo hoje consequências dos nossos próprios atos, precisamos defender as políticas de isolamento social, mesmo que o nosso governo ache desnecessário. Também tivemos a negação do social e da supervalorização do capital, quando foi ordenado que tudo voltasse ao normal em meio a um caos mundial. E estamos sem esperança novamente. Nós estamos sendo desvalorizados lá fora.

Eu estou sendo eu mesma, desde o início! E era isso que eu sempre desejei!

Você acredita que ter se tornado Miss te ajudou na sua autoestima?

Me ajudou muito, eu era cheia de inseguranças em relação à minha imagem, na verdade eu estava em uma fase mais sensível da minha vida, posso dizer assim, não andava me cuidando, como eu sempre fiz, minha rotina é sempre muito corrida, e trabalhar com o público é muito difícil. Eu sempre ia trabalhar muito produzida, eu pensava que se eu não estivesse muito produzida, alguém talvez iria me tratar no masculino, mas nunca aconteceu, tudo era coisa da minha cabeça, minha vida estava muito monótona, ser do interior e pensar em crescer profissionalmente. Ou realizar alguns sonhos que eu tanto queria seria quase impossível na minha mente, hoje eu me sinto mais confiante, eu consigo ir trabalhar sem maquiagem, por exemplo, que era algo que eu me sentia presa às vezes por culpa da disforia. E hoje a minha vida é mais leve, me tornei uma mulher muito segura de mim, nada mais é impossível quando eu decido que quero algo! E tudo aconteceu tão rápido, acho que eu precisava de um “empurrãozinho” para eu entender que mesmo amando maquiagem, eu não precisava estar 24 horas com ela. Por incrível que pareça, eu nunca gostei de ser magra, lutei muito com isso, mas hoje saio do banho e fico provando minhas lingeries e amando meu corpo magro. Eu não vou dizer que eu sou muito confiante só porque uma Miss tem que ser! Eu sou frágil, sensível, emotiva e penso que uma Miss tem que ser assim para entender todas as emoções que se passam nas pessoas, para ajudá-las de alguma forma.

O que é ser bonita para você?

Ser bonita para mim vai além da estética, é quando sorrimos e choramos, é tudo aquilo que ninguém vê, mas só o teu coração enxerga. É ser genuína, transparente, ter personalidade própria, ser simpática, ser você mesma! Ser bonita é você se amar do jeitinho que é, e  se quiser mudar alguma coisa no seu corpo para se sentir melhor, irá continuar bela, porque quando falamos em “ser bonita” nós temos que olhar através da beleza física, as pessoas são mais que isso.

E qual tipo de gente você acha horrorosa?

Pessoas estúpidas, sem humildade, pessoas que só pensam em si mesmas, que não conseguem ver ninguém feliz. Eu sempre trabalhei com o público, vejo pessoas diferentes todos os dias, e uma das coisas que eu mais amo é ser simpática aonde eu for, porque gente assim como eu citei é o que mais vemos por aí.

O que você pode dizer para as meninas trans e travestis que ainda enfrentam as dificuldades pelas quais você já passou?

Que não desistam de ser, e que nunca aceitem alguém falar que elas não são capazes, porque todas nós somos! Elas irão passar por muita dificuldade, mas elas têm que ser fortes, determinadas, ousadas, porque só assim ocuparemos todos os nossos espaços. Que é nosso por direito! Nossa luta é diária e nós que fazemos a diferença.

Agora uma pergunta clássica: qual seu maior sonho?

Eu tenho dois maiores sonhos hoje, participar do Miss International Queen, desde o momento que eu conheci, sempre quis participar, e ter a minha casa própria. Ter uma casinha e poder chamar de minha, sempre foi um sonho.

Instagram @fernandacraz

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