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O JOGO VIROU, MORES

BBB 21 começa com aperitivo do que o novo mundo precisa ser – e principalmente o que não cabe mais na sociedade

O Big Brother Brasil é uma provocação, um convite para o novo mundo. A 21a edição do reality mais famoso do nosso País chegou ao seu ápice quando todo mundo achava que a fórmula tinha se esgotado (mesmo com audiência nas alturas e receita de anúncios gigantesca). O BBB resume a nova era (de Aquário) e dá dicas valiosas de como precisamos agir – e mais ainda, como não devemos ser.

A grande epifania deste convite a um novo mundo foi causada por um episódio polêmico com alguns meninos se maquiando – o que não teria problema algum, não fossem as imitações estereotipadas que eles fizeram. Maquiagem não tem gênero e é super legal homem hétero não ter essa barreira, mas é preciso cuidado para não ferir o outro. “A gente é homem, hétero e branco”, reconheceu Fiuk – sinalizando uma consciência diferente de outras edições, onde os LGBT eram atração cômica, alvo de críticas e muito subservientes.

As lembranças do homofóbico Marcelo Dourado devem ser esquecidas. No novo mundo, e o BBB reflete isso, não há espaço para machucar o outro, não há lugar para o desrespeito, para a piadinha, para o preconceito. Se o mundo ficou mais chato? Sim, com certeza – mais chato para quem não consegue conviver sem machucar. Para quem sempre sofreu e ainda sofre, como nós LGBT, ele está em transformação.

Se o mundo ficou mais chato? Sim, com certeza – mais chato para quem não consegue conviver sem machucar. Para quem sempre sofreu e ainda sofre, como nós LGBT, ele está em transformação.

O seu humor para mim pode ser violência. A sua vontade de ser politicamente correto sem saber muito bem do que está falando pode te fazer ainda mais preconceituoso. E todo o grupo da “casa mais vigiada do Brasil” já sabe disso. Ainda mais depois que Lumena explicou o porquê de ter se sentido ofendida com a brincadeira dos meninos. E eles se desculparam, ouviram e (parece que) entenderam os motivos da crítica da moça, que já assumiu que gosta de meninas e sentiu a dor de suas amigas trans naquele desfile de descida da escada do BBB.

Caio, fazendeiro de Goiás, explicou que em seu mundo o machismo é muito forte. Pediu desculpas pela brincadeira e ouviu os motivos de Lumena. É aí que está o ponto principal: ouvir, entender, pelo menos tentar aprender. Caio poderia ter dado uma de macho tóxico e mantido sua opinião, mas não, se abriu ao novo e confessou à Lumena: “eu sou uma pessoa melhor agora do que há uma hora atrás graças a você”. Errar é humano, persistir no erro é burrice, neste caso, maldade.

Que ótimo ver o homem branco, hétero, “pai de família” e cis se desconstruindo. Melhor ainda é ver uma mulher negra empoderada o bastante para enfrentar o preconceito que estava sendo reproduzido por este homem.

Meninos se maquiaram e provocaram polêmica

Porque este é o novo mundo. Não nos calaremos mais, não mais abaixaremos nossas cabeças por não sermos o padrão imposto. O que não significa ser visceral, inflexível e violento. Precisamos ter a mesma paciência de Lumena para explicar nossas dores. Precisamos dialogar para unir todes. Ninguém nasce sabendo respeitar o outro, aprende ou não ao longo da vida de acordo com sua educação.

Aprende também vendo televisão, o veículo de comunicação mais poderoso no Brasil. Então há uma importância enorme no fato de que a edição do programa construiu um discurso de esclarecimento, de tolerância. Sabemos que a edição guia a opinião do público, que ótimo que desta vez apontou para o caminho certo, o da convivência.

Porque não há talvez no mundo todo um lugar tão rico de se observar a experiência humana como no Big Brother. Na atual edição ainda mais, com muito mais diversidade de todos os tipos como raça, orientação sexual, religiões e visões de mundo. Porque esta é a sociedade, somos todos diferentes uns dos outros, mas precisamos conviver porque, hoje em dia, ainda bem, é proibido matar outra pessoa.

O seu humor para mim pode ser violência. A sua vontade de ser politicamente correto sem saber muito bem do que está falando pode te fazer ainda mais preconceituoso.

Pode parecer básico, mas até pouco tempo era avalizado o assassinato de nós LGBT de forma direta, ou seja, até mesmo com previsão legal. Óbvio que vivemos ainda uma triste chacina da nossa população – muitas vezes com conivência do Estado – e muito precisa ser feito. Mas ganhamos a nosso favor o programa mais assistido do País mostrando que o jogo virou, mores. Como diria Inês Brasil, se ela me atacar eu vou atacar ela.

É o empoderamento que nasce dos espaços que estamos conquistando nos últimos anos, ainda insuficientes, mas crescentes. Não há mais divisão entre eu, gay, e você, hétero, porque EU ME VEJO IGUAL A VOCÊ – nem melhor, nem pior, só diferente. Com pelo menos três participantes assumidamente coloridos dentro da casa, o BBB mostra que é possível um gay afeminado se sentir feliz consigo mesmo, que uma mulher se sente bem amando outra mulher, que todes temos argumentos para nos defender. Mostra que o homem branco, hétero e cis é apenas MAIS UM no mundo, não o dono dele.

Ainda apanhamos todos os dias. Ainda somos mortos todos os dias. Ainda somos expulsos de casa todos os dias. Mas também todos os dias temos lumenas aos montes marcando posição, lutando, impondo um respeito que deveria ser básico com todo ser humane. Vai ter discussão sobre o tema sim, vai ter militância sim, vai ter minha opinião sim e você tem que me ouvir porque eu passei séculos sendo calado. Não mais.

Fiuk: homem, hétero, branco e cis

O novo mundo foi inaugurado pela posse de Joe Biden e Kamala Harris nos Estados Unidos, acelerado pelo processo da pandemia jogando na nossa cara o que realmente é importante e diminuindo a presença do homem hétero no mundo (mas esta é outra conversa). Chegou para ficar a era do todes. Você não tem o direito de fazer o que bem quiser se isso não me faz bem. Não há mais desculpa para a sua ignorância porque eu estou aqui para te explicar as coisas.

Se você não quer aprender, fica para trás na evolução que vem tomando espaço e chegou para ficar. O Grande Irmão está de olho para eliminar quem não souber essas regras básicas do novo jogo. O homem hétero, branco e cis não precisa ser extinto, mas ele precisa saber que agora todes têm um time para jogar e nem sempre ele vai ganhar. E nem deveria.

1 Comments
  1. marceloDC

    10/02/2021 03:43

    “… diversidade de todos os tipos como raça, orientação sexual, religiões e visões de mundo.”
    Essa mistureba é bem perigosa. Religião e “visões de mundo”, coisas com viés ideológicos, em particular quando fé, costumam ser altamente geradoras intrínsecas de conflitos, direta e indiretamente. Preconceitos vem dessas tais “visões de mundo”, sendo LGBTs e questões de gênero com forte influência da quase totalidade de religiões de origem abraâmica (fora outras). Até fazem pior com a “cientificalização” de crenças…
    É necessário tomar cuidado com a corrupção de “diversidade” quando se coloca itens de crenças, em particular fé, no meio. Liberdade de opinião, crença, em particular a cega (fé) deve ser eixado bem claro que é a ÚLTIMA liberdade, pois sempre haverá algo mais importante. E enaltecer o direito a contestação, e principalmente vasculhar as verdades, das crenças.

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