“Paloma”, de Marcelo Gomes, é um filme baseado em fatos reais que denuncia a transfobia

Por Eduardo de Assumpção*

“Paloma” (Brasil/Portugal, 2022) Num dia de verão, Paloma (Kika Sena) decide realizar o seu sonho mais caloroso: um tradicional casamento na igreja com o namorado Zé (Ridson Reis). Ela é uma mãe dedicada, agricultora e tem economizado para pagar a festa. A recusa do padre em casá-los obrigará Paloma a enfrentar a sociedade rural. Ela sofre violência, traição, preconceito e injustiça, mas nada abala a fé e a determinação dessa mulher trans.

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‘Paloma’, de Marcelo Gomes, é um filme baseado em fatos reais que denuncia a transfobia. O roteiro de Gustavo Campos, Armando Praça e Marcelo Gomes, parte de fatos reais para ficcionalizar esse drama que expõe a violência machista por questões de gênero. Zé é um trabalhador que, diante do desejo e ilusão de sua companheira Paloma, de se casar de branco perante a Igreja, tenta dissuadi-la por causa de sua condição trans, e finalmente aceita por causa do amor que sente por ela.

Enquanto preparam o futuro casamento, eles guardam dinheiro há muito tempo para celebrá-lo. Paloma trabalha em uma grande fazenda, combinando com cabeleireira em meio período. Ela tem uma filha de seis anos, Jenifer, que vive feliz com eles, para quem ela atua como uma mãe carinhosa e responsável. O ambiente homofóbico e machista da família e do mundo do trabalho de Zé, como pedreiro, começa a reagir com deboche e menosprezo ao saberem de seus planos de casamento com sua companheira.

O filme continua a desenvolver a crescente oposição da comunidade local. Isso vai minando a felicidade que Paloma e Zé compartilhavam, de forma que sombras e dúvidas começam a surgir entre eles. Marcelo Gomes conta a história de uma mulher forte que luta contra a resistência na sociedade brasileira e católica, mas também dentro de sua comunidade e família, e não cede.

Seu sonho de uma vida livre se manifesta no projeto do casamento, mas é claro que significa muito mais. Paloma quer ser aceita por quem ela é, como ela se sente. Kika Sena, oferece uma atuação poderosa, ela é o coração e alma do filme, trazendo uma autenticidade comovente ao papel. Você sente que ela viveu parte da história da personagem, que suas histórias se fundem de alguma maneira.

*Eduardo de Assumpção é jornalista e responsável pelo blog cinematografiaqueer.blogspot.com

Instagram: @cinematografiaqueer

Twitter: @eduardoirib